Por Cleyton Vilarino | De São Paulo
O fenômeno climático El Niño, que na safra 2015/16 prejudicou diversas culturas agrícolas no país, entre elas milho e soja, pode se formar no Oceano Pacífico novamente este ano. Mas, segundo meteorologistas, se o fenômeno se confirmar, não deverá ocorrer com a mesma intensidade que a vista há cerca de três anos.
"A fase fria do Oceano Pacífico equatorial já acabou e, no lugar de águas frias, a gente já observa no Pacífico central áreas com águas aquecidas, com anomalia [de temperaturas] positivas", explica Paulo Etchichury, sócio-diretor da Somar Meteorologia, descrevendo uma das características do fenômeno climático.
Segundo o boletim do escritório de meteorologia da Austrália, a probabilidade de o Oceano Pacífico equatorial apresentar aquecimento anormal durante a primavera e o verão é de 50% - o dobro do observado nesta época do ano em condições normais, segundo o próprio instituto. Nos EUA, o centro de previsões climáticas local (CPC, na sigla em inglês) aponta 50% de chances de formação de El Nino no outono do Hemisfério Norte (primavera no Hemisfério Sul), elevando para 65% durante o inverno (verão no Hemisfério Sul).
"A presença do oceano aquecido e a indicação de El Niño é favorável para as lavouras [da região] Sul, porque diminui o risco de estiagem prolongada. Para o Centro Oeste e Sudeste, o principal impacto são chuvas de verão mais irregulares", afirma Etchichury.
Os meteorologistas ouvidos pelo Valor, contudo, são unânimes em dizer que ainda é cedo para traçar previsões para a formação do El Niño, mas caso o fenômeno se confirme, não deve ser tão severo quanto o de 2015 - o mais forte em 18 anos. "Se ele aparecer, será mais para o fim do ano ou durante o verão de 2019, mas ainda é muito cedo para qualquer opinião, principalmente porque a grande dúvida seria seus efeitos em fevereiro", afirma Ludmila Camparotto, meteorologista da Rural Clima.
No Brasil, os efeitos do aquecimento do Pacífico e de um possível El Niño serão sentidos com mais intensidade no Nordeste do país, sobretudo na região do Matopiba (confluência entre os Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). "Se pegarmos as últimas safras, fica clara a influência desses fenômenos na região", ressalta Etchichury.
Com o La Niña no fim do ano passado e início de 2018, as áreas de produção do Matopiba apresentaram chuvas regulares na safra 2017/18 após a seca severa de 2015/16 seguida de leve melhora em 2016/17, ano de neutralidade.
"Estatisticamente falando, nossas comparações levaram a um ano parecido com 2006/07, mas ainda estamos trabalhando com padrão neutro de viés positivo. Se houver El Nino, ainda será de fraca intensidade, e a tendência é de que, se ele aparecer, seja mais pro verão mesmo", aponta Ludmila.
No curto prazo, o aquecimento do Pacífico deve exigir mais atenção dos produtores brasileiros com o plantio da safra 2018/19 diante do atraso na regularização das chuvas no Brasil.
Paulo Etchichury, da Somar, afirma que, entre outubro e novembro, essas condições devem impedir o avanço de frentes frias sobre o Sul do Brasil.
De acordo com o meteorologista, uma ou outra frente fria pode avançar durante a mudança de estação, "mas é preciso tomar cuidado porque, mesmo com chuvas significativas, podemos enfrentar de 10 a 15 dias de seca e temperaturas elevadas", prejudicando o plantio.
"Não quer dizer que teremos um janeiro tão seco como naquele ano [2015], mas é um cenário de chuvas abaixo da média. O produtor tem que fazer uma estratégia pra mitigar os efeitos desse risco climático já que teremos uma condição para a próxima safra diferente da anterior", alerta.
Na safra 2015/16, afetada pelo El Niño, a colheita de milho no país caiu para 66,5 milhões de toneladas, ante 84,6 milhões de toneladas na safra anterior. Já a produção de soja ficou em 95,4 milhões de toneladas, abaixo das 96,3 milhões do ciclo precedente. A produção de café conilon no Espírito Santo também sofreu com a seca e só agora começa a se recuperar.
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