Por Daniela Chiaretti | De São Paulo
Cadeias de commodities como soja, carne bovina e óleo de palma estão por trás da maior parte do desmatamento tropical global. O Brasil poderá se tornar em 2018 o maior produtor de soja do mundo, superando os EUA, e o risco do desmatamento associado à expansão do plantio está mapeado em um anuário a ser lançado hoje. A ideia é trazer mais transparência à cadeia de produção. O "Anuário Trase 2018" tem foco nas exportações brasileiras de soja. A iniciativa engloba também uma plataforma, a trase.earth, que foi inicialmente lançada na conferência do clima da ONU em Paris, em 2015.
Com a ferramenta, alimentada por um conjunto de dados públicos, é possível saber quais são os municípios mais exportadores, quais empresas exportaram, para quais países, os volumes transacionados etc. E fazer relações entre esses dados. A Trase é fruto de uma parceria de pesquisadores do Stockholm Environment Institute (SEI) com a ONG Global Canopy, baseada em Oxford e com foco na reestruturação de cadeias produtivas. "Podemos entender quanto desses fluxos têm relação com trabalho escravo, quanto há de déficit com o Código Florestal, quais empresas têm compromissos e por aí vai", afirma Arnaldo Carneiro, diretor da Global Canopy.
A plataforma conecta fluxos de produção agrícola da origem ao destino, assinalando empresas e países envolvidos na operação. Descreve as condições de produção e seus impactos, um diferencial em relação a outros bancos de dados do gênero. A ideia também é avaliar progressos em relação ao desmatamento zero e outras políticas de sustentabilidade.
Se quase toda a cadeia da soja na Amazônia está incluída na iniciativa conhecida por "moratória da soja", isso não acontece no Cerrado. Só metade da soja exportada do bioma está coberta por algum tipo de compromisso de desmatamento zero.
Em junho, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou os dados do desmatamento para o Cerrado. O Prodes Cerrado registrou perda de área nativa de 6.777 quilômetros quadrados, em 2016, e de 7.408 em 2017. O "Matopiba" (que reúne áreas dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) foi a campeã do desmatamento.
Até 2020, os pesquisadores esperam que a Trase cubra os impactos e as operações de 70% de todas as commodities de risco ambiental comercializadas no mundo. A intenção é ampliar a cobertura de dados e análises para cacau, café, cana de açúcar, milho, algodão e madeira.
Os próximos dados a serem incorporados são análises sobre riscos climáticos e quebras de safras feitos por pesquisadores da Universidade de Viçosa, em Minas. Nos últimos 24 anos, segundo Carneiro, o Brasil perdeu 87 milhões de toneladas de soja devido a anomalias climáticas, sendo que nos últimos 15 anos a perda foi maior (65% do total). A plataforma vai incorporar os dados de perda na produção de milho e cana mostrando onde foram as quebras de safra, com qual intensidade e prejuízo.
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