quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Coral orelha-de-elefante é eficaz contra superbactéria hospitalar
Uma das bactérias mais importantes causadora de infecções relacionadas à
assistência a saúde (IrAS) e que atinge os pulmões – a
Klebsiellapneumoniae (KPC) - acaba de ganhar um combatente inusitado e
promissor: o coral orelha-de-elefante (Phyllogorgiadilatata). A espécie,
que ocorre na costa do Brasil, é a primeira nas águas do Atlântico Sul a
ser identificada com essa característica antimicrobiana para controle
desse tipo de microrganismo encontrado em ambiente hospitalar. Com o
título: “Identification of a Novel Antimicrobial Peptide from Brazilian
Coast Coral Phyllogorgia dilatata”, a novidade está publicada na mais
recente edição da “Protein & Peptide Letters”.
Esse estudo – que avaliou a ação das biomoléculas extraídas e
purificadas do coral – é liderado por pesquisadores da Pós-Graduação em
Ciências Genômicas e Biotecnologia da Universidade Católica de Brasília
(UCB), em parceria com o Museu Nacional/UFRJ, e faz parte da Rede de
Pesquisas Coral Vivo, patrocinada pela Petrobras por meio do Programa
Petrobras Ambiental, e pelo Arraial d’Ajuda Eco Parque.
Os cientistas destacam que cepas dessas bactérias têm desenvolvido
resistência à maioria dos antibióticos existentes atualmente, causando
milhares de mortes por infecções em ambientes hospitalares.
“Percebemos que este pode ser um candidato promissor a novo antibiótico
para atuar contra bactérias resistentes aos fármacos disponibilizados
até agora”, informa a bióloga molecular e professora da UCB, Simoni
Campos Dias.
O coral orelha-de-elefante é encontrado em abundância na costa
brasileira e nas ilhas oceânicas distribuídas desde o Maranhão até
Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro. Não há relatos na literatura sobre
peptídeos antibacterianos extraídos desta espécie.
O estudo conclui que as biomoléculas extraídas e purificadas do
orelha-de-elefante também conseguiram controlar o crescimento da
Staphylococcusaureus e da Shigellaflexneri, consideradas bactérias
importantes nas infecções adquiridas em ambiente hospitalar, e que
apresentam cepas resistentes a muitos antibióticos usados com frequência
nas unidades de saúde.
Escolha da espécie
De acordo com o coordenador geral do Projeto Coral Vivo e professor do
Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, o biólogo Clovis
Castro, foram selecionadas seis espécies de corais que tinham potencial
para a pesquisa. “Como esses animais sobrevivem à alta competitividade
dos ambientes marinhos, eles possuem barreiras químicas como, por
exemplo, os peptídeos antimicrobianos”, relata Castro. Além do extrato
bruto da Phyllogorgiadilatata, foram avaliados: Carijoariisei,
Muriceopsis sulphurea, Neospongodes atlantica, Palythoa caribeorum e
Plexaurella grandiflora.
“Nos resultados preliminares, percebemos que a Phyllogorgia dilatata
tinha potencial consideravelmente mais alto do que as demais, por isso
aprofundamos os experimentos somente com ela”, explica a pesquisadora
Loiane Alves de Lima, que teve a pesquisa como tese de seu mestrado na
UCB.
Próximas etapas
As substâncias são encontradas em quantidades extremamente pequenas no
coral. A bióloga Simoni Campos Dias explica que o próximo passo será
descobrir se esse peptídeo é derivado do próprio coral ou se pertence às
bactérias e outros micro-organismos que vivem em associação com ele.
“Começamos a investigar também as moléculas de outros animais marinhos
do Caribe, visto que os resultados desse estudo apresentaram alto
potencial de defesa”, completa.
Somente terá efeito no organismo humano com a biomolécula isolada
criteriosamente e processada: “Após longo processamento do fármaco
descoberto no coral, o composto será clonado dentro de levedura, para
que seja possível produzir o princípio ativo em grande quantidade.
Assim, o medicamento poderá ser fabricado”, resume o professor da
Universidade Católica de Brasília, Octávio Luiz Franco, que faz parte da
equipe de pesquisadores. Ele conta que isso pode levar uns 10 anos,
porque serão necessárias mais pesquisas e testes no organismo humano e
aprovação dos órgãos competentes. E alerta: “O extrato em si, sem o
processamento adequado, poderia causar danos maiores do que a bactéria
causadora da infecção hospitalar”.
Esse é um dos estudos sobre novos combatentes para as temidas
superbactérias liderados pelos pesquisadores da Universidade Católica de
Brasília (UCB), que já pesquisaram outros peptídeos com atividade
antimicrobiana extraídas de plantas e animais, por exemplo. A pesquisa
com os corais brasileiros foi financiada pela Universidade Católica de
Brasília (UCB), CNPq, CAPES e Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito
Federal, e faz parte da Rede de Pesquisas Coral Vivo, que é patrocinada
pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental, e pelo Arraial
d’Ajuda Eco Parque. Participaram cientistas da UCB, do Museu Nacional /
Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade Federal do
Ceará, e da University de La Habana, de Cuba.
Curiosidade
O coral orelha-de-elefante está na atual cédula de R$ 100. Ele foi
indicado para o Banco Central e Casa da Moeda pelos pesquisadores do
Museu Nacional/UFRJ e do Projeto Coral Vivo, assim como as demais
espécies marinhas que acompanham a garoupa na nota. A edição 12 do
informativo “Coral Vivo Notícias” publicou matéria com as imagens
cedidas pelo Projeto e suas respectivas localizações:
http://coralvivo.org.br/publicacoes/revista-12/.
O Projeto Coral Vivo faz parte da Rede BIOMAR (Rede de Projetos de
Biodiversidade Marinha), que reúne também os projetos Tamar, Baleia
Jubarte, Golfinho Rotador e Albatroz. Todos patrocinados pela Petrobras
por meio do Programa Petrobras Ambiental, eles atuam de forma
complementar na conservação da biodiversidade marinha do Brasil, atuando
nas áreas de proteção e pesquisa das espécies e dos habitats
relacionados. As ações do Coral Vivo são viabilizadas também pelo
co-patrocínio do Arraial d’Ajuda Eco Parque, e realizadas pela
Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN).
Fonte: EcoDebate
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