segunda-feira, 3 de setembro de 2018
Pesquisa mostra que poluição atmosférica afeta drasticamente alimentos
Níveis crescentes de dióxido de carbono (CO2) da atividade humana estão
tornando culturas básicas, como arroz e trigo, menos nutritivos e
poderiam levar 175 milhões de pessoas à deficiência em zinco e 122
milhões de pessoas deficientes em proteína até 2050, de acordo com
pesquisa liderada pela Harvard T.H. Chan School of Public Health.
O estudo também descobriu que mais de 1 bilhão de
mulheres e crianças podem perder uma grande quantidade de sua ingestão
dietética de ferro, o que as colocaria em maior risco de anemia e outras
doenças.
“Nossa pesquisa deixa claro que as decisões que estamos tomando todos os
dias – o que comemos, como nos movimentamos, o que escolhemos comprar –
estão tornando nossos alimentos menos nutritivos e pondo em perigo a
saúde de outras populações e gerações futuras”, disse Sam Myers,
principal autor do estudo e principal pesquisador da Harvard Chan
School. O estudo foi publicado on-line em 27 de agosto de 2018 na Nature
Climate Change.
Atualmente, estima-se que mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo
sejam deficientes em um ou mais nutrientes. Em geral, os seres humanos
tendem a obter a maioria dos principais nutrientes a partir de plantas:
63% da proteína da dieta humana vem de fontes vegetais, bem como 81% do
ferro e 68% do zinco. Foi mostrado que níveis atmosféricos mais elevados
de CO2 resultam em colheitas menos nutritivas, com concentrações de
proteína, ferro e zinco 3% -17% menores quando as lavouras são
cultivadas em ambientes onde a concentração de CO2 é de 550 partes por
milhão (ppm), na comparação com lavouras cultivadas em condições
atmosféricas nas quais os níveis de CO2 estão pouco acima das 400 ppm.
Para este novo estudo, os pesquisadores procuraram desenvolver a análise
mais robusta e precisa da carga global para a saúde de mudanças
nutricionais causadas pelo CO2 em lavouras em 151 países. Para fazer
isso, eles criaram um conjunto unificado de premissas em todos os
nutrientes e usaram dados mais detalhados do fornecimento de alimentos
de acordo com idade e sexo para obter estimativas mais precisas dos
impactos em 225 diferentes alimentos. O estudo baseou-se em análises
prévias dos pesquisadores sobre deficiências nutricionais relacionadas
ao CO2, que analisaram um número menor de alimentos e de países.
O estudo mostrou que em meados deste século, quando as concentrações de
CO2 na atmosfera devem atingir cerca de 550 ppm, 1,9% da população
global – ou cerca de 175 milhões pessoas, com base em estimativas da
população para 2050 – poderiam ter deficiência em zinco e que 1,3% da
população global, ou 122 milhões de pessoas, pode se tornar deficiente
em proteína. Além disso, 1,4 bilhão de mulheres em idade fértil e
crianças menores de 5 anos que já se encontram atualmente em alto risco
de deficiência de ferro, poderiam ter sua ingestão de ferro na dieta
reduzida em 4% ou mais. Os pesquisadores também enfatizaram que bilhões
de pessoas atualmente vivem com deficiências nutricionais provavelmente
veriam suas condições piorarem como resultado de lavouras menos
nutritivas.
Segundo o estudo, o maior impacto seria na Índia, onde estima-se que 50
milhões de pessoas se tornariam deficientes em zinco, 38 milhões em
proteínas e 502 milhões de mulheres e crianças tornando-se vulneráveis a
doenças associadas à deficiência de ferro. Outros países no sul da
Ásia, sudeste da Ásia, África e Oriente Médio também seriam
significativamente impactados.
“Uma coisa que esta pesquisa ilustra é um princípio fundamental do campo
emergente da saúde planetária”, disse Myers, que dirige a Planetary
Health Alliance, co-alocada na Harvard Chan School e no Centro
Universitário de Harvard para o Meio Ambiente. “Não podemos alterar a
maior parte das condições biofísicas às quais nos adaptamos ao longo de
milhões de anos sem causar impactos imprevistos sobre nossa própria
saúde e bem-estar.”
“O risco de aumento do CO2 atmosférico na adequação nutricional humana”,
Matthew R. Smith, Samuel S. Myers, on-line 27 de agosto de 2018, Nature
Climate Change, DOI: 10.1038 / s41558-018-0253-3
Fonte: Envolverde
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