terça-feira, 23 de outubro de 2018

O Globo – Brasil perderá posição no ranking de energia limpa

O Globo – Brasil perderá posição no ranking de energia limpa

21/10/2018

País expande geração de fontes como hidrelétrica, eólica e solar, mas ficará atrás de Índia e Alemanha nos próximos anos

BRUNO ROSA

Com a terceira maior capacidade instalada de geração de energia de fontes renováveis do mundo, o Brasil, que hoje só fica atrás de China e Estados Unidos, vai perder a medalha de bronze no ranking das economias que mais investem no desenvolvimento de hidrelétricas, placas solares e parques eólicos. De acordo com estudo da Agência Internacional de Energia (AIE), o país deverá passar para a quinta posição, ultrapassado por Índia e Alemanha em 2023.

Entre 2018 e 2023, a capacidade instalada de energia renovável no Brasil vai crescer 15 gigawatts (GW), passando de 134 GW para 149 GW. Segundo a consultoria Safira, 1 GW é capaz de abastecer 1,5 milhão de pessoas, o equivalente a uma cidade do tamanho de Porto Alegre. Para especialistas, embora o Brasil tenha uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com cerca de 80% da geração oriunda de fontes renováveis, é preciso acelerar os investimentos.

Isso porque há uma expectativa de que a economia brasileira volte a crescer. A previsão da AIE é de uma alta de 2% ao ano na demanda por eletricidade. As propostas dos candidatos à Presidência que disputam o segundo turno tornam incerto o futuro do desenvolvimento da energia renovável no país. Jair Bolsonaro (PSL) pretende investir em hidrelétricas de grande porte e retirar os subsídios em eólica e solar.

Já Fernando Haddad (PT) pretende manter incentivos à geração a partir do sol e do vento, além de hidrelétricas sem grandes reservatórios. Segundo Marcelo Laterman, especialista em energia do Greenpeace, o Brasil precisa encarar as fontes renováveis como estratégicas. Ele destaca que, nos últimos anos, com a crise hídrica que afetou o nível dos reservatórios das hidrelétricas, a fonte termelétrica, mais cara e poluente, foi a que mais avançou.

O impacto aparece nas contas de luz: —Estamos remediando a falta de água com termelétricas a gás, carvão e óleo diesel. E gerar energia com esse sistema é caro. Temos que diversificar a nossa matriz. Para a AIE, o avanço da energia renovável no Brasil nos próximos cinco anos será puxado, principalmente, por pequenas centrais hidrelétricas, com 8 GW novos, parques eólicos (6 GW), plantas solares (5GW) e biomassa (2 GW).

Bruno Carrara, do Barros Pimentel Advogados, avalia que o menor ritmo de crescimento no Brasil, em comparação com outras nações, está ligado ao baixo crescimento do país. No entanto, ele diz que o governo deveria incentivar mais projetos para garantir maior oferta de energia barata no momento de retomada da atividade econômica: — O governo tem feito leilões, mas esse esforço poderia ser maior.

Para Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da UFRJ, não é um grande problema recuar um pouco no ranking: —O Brasil tem hoje uma matriz elétrica muito mais limpa que a de outros países, que fazem um esforço para limpar suas fontes.

EÓLICA NO MAR EM 2022

No caso da energia solar, cuja capacidade deve crescer no país cinco vezes até 2023, o governo precisa ampliar o volume de contratação por meio de leilões, avalia Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar, entidade que reúne as empresas do setor: — Desde 2015, o preço do megawatt da solar caiu 60%. Mas o governo precisa reduzir ainda a carga tributária do setor, hoje em cerca de 50%.

A matriz eólica, que gera energia a partir do vento,também ganha destaque. O setor hoje tem em carteira recursos para investir 30 GW no país caso o governo decida aumentar o volume de leilões. — Se a economia do país crescer 1% ao ano, o consumo de energia adicional será de 6 GW. Com a estiagem, é a eólica que tem ocupado esse espaço — diz Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica, associação do setor.

A geração de vento no mar é uma das apostas para os próximos anos. A Petrobras e a norueguesa Equinor investem num projeto para fazer do Brasil um dos únicos países no mundo a unir a geração eólica no mar com a produção de petróleo, assim como ocorre no Reino Unido e na Noruega. No projeto, que deve começar a operar em 2022, a planta eólica fica em uma base flutuante a cerca de um quilômetro de uma plataforma de petróleo.

Parte da energia gerada abastece a plataforma, e o restante vai para o sistema em terra por meio de dutos que conduzem eletricidade. Para Mario González, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a qualidade do vento é melhor no mar: —Há mais previsibilidade, o que permite um melhor planejamento energético em relação ao uso dessa fonte.

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