Valor Econômico – Dados do Inpe sugerem aceleração da área desmatada na Amazônia
Por Daniela Chiaretti | De São Paulo
O desmatamento da Amazônia em julho, agosto e setembro deste ano cresceu 61,2% em relação ao mesmo trimestre de 2017. No quadrimestre, de junho a setembro, o aumento foi de 36%. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e indicam que a têndência de desmate da Amazônia é de alta no período eleitoral.
Os dados são do Deter B, um sistema de detecção por satélite em tempo quase real das mudanças na cobertura vegetal da floresta. O sistema identifica e mapeia alterações na cobertura florestal com área mínima próxima a 1 hectare. O satélite revisita uma mesma área em, no máximo, cinco dias.
Embora o Deter não seja o sistema mais preciso que o Inpe usa para revelar o desmate, avisa equipes de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que a floresta está sob pressão em determinada área. O dado oficial (e anual) do desmatamento da Amazônia é divulgado geralmente em novembro e dado por outro sistema, mais preciso, o Prodes, que mede o corte raso da floresta de agosto a julho do ano seguinte.
Os dados mais recentes, de agosto para cá, não irão aparecer no resultado consolidado do desmatamento da Amazônia de 2017-2018. De agosto até meados de outubro, fase de intensificação da campanha eleitoral, o Deter B identificou quase o dobro de ações de desmate deixando o solo exposto, de degradação florestal e de atividades de mineração. "Note-se que este é o período seco, época em que historicamente mais se desmata na Amazônia, mas a tendência do que observamos no Deter é de alta", diz Claudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas do Inpe.
Analistas dizem que há uma conjunção de fatores que podem explicar a tendência de alta. Em primeiro lugar, o câmbio favorável à exportação de commodities. Em segundo, as falas do candidato Jair Bolsonaro (PSL) e seus auxiliares sobre acabar com "a indústria da multagem", como ele diz, e reduzir o papel do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente, ao dizer que vai juntar a pasta à da Agricultura. "E, em terceiro, a mensagem política local", diz Jair Schmitt, diretor do departamento de combate ao desmatamento do MMA.
Isso é claro no Acre, por exemplo. O senador Gladson Cameli (PP) elegeu-se governador no primeiro turno, quebrando a hegemonia de 20 anos do PT no poder. "Vou abrir para o agronegócio, sem agredir o meio ambiente, obedecendo o que diz o Código Florestal", disse Cameli ao Valor. Segundo ele, os ex-governadores do PT "criaram a política da florestania, que era para inglês ver". De 1º de agosto a 10 de outubro o desmatamento no Acre, segundo as imagens do Deter B, chegou a 141 km2, muito próximo ao consolidado de 12 meses nos três anos anteriores.
O Estado do Amazonas, há poucos anos o mais preservado da Amazônia Legal, é nova frente do desmatamento. Há muita pressão pela pavimentação da BR-319, a estrada que liga Manaus a Porto Velho. Isso pode desencadear um forte processo de desmate no Estado. A pressão para pavimentar a estrada se fortaleceu nos últimos dias. O desmatamento de julho a setembro no Estado, comparando-se os mesmos meses de 2018 e 2017, tem forte tendência de alta.
O Inpe começou a medir o desmatamento do Cerrado com o mesmo sistema do DeterB em maio. "Na Amazônia o desmatamento do trimestre foi de 1864 km2, para um estoque de floresta de 3 milhões de km2. No Cerrado, a relação foi de 1227 km2 para um estoque de um milhão de km2 ", diz Almeida, do I
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