Em tempos de mudanças climáticas, holandeses constroem o maior bairro flutuante planejado e autossustentável da Europa
Só podia ser coisa de holandês. Os habitantes do país que há quatro séculos aumentou seu território (1/4 dele abaixo do nível do mar) aterrando o que era água através de um sofisticado sistema de drenagem por moinhos, diques, represas e canais, e que até hoje monitora o maciço volume hídrico que entra e sai de sua extensão territorial, seguem usando a tecnologia para se adaptar e viver com o aumento do nível do mar por conta das mudanças climáticas.
Todo holandês, tem, portanto, uma relação íntima com a água. Só Amsterdam abriga hoje cerca de 2.500 barcos adaptados como moradia pelos canais da cidade. E o número só cresce, sobretudo com o preço dos aluguéis em terra firme cada vez mais caros e disputados.
A inspiração veio de uma das primeiras casas flutuantes autossuficientes construídas no estaleiro NDSM, em Amsterdam-Noord, a geWoonboot. Aberta à visitação, a casa-modelo foi criada justamente para testar um modo de vida sustentável no ambiente aquático.
Os empreendedores – um grupo composto por arquitetos, artistas, fotógrafos e ambientalistas – trabalharam juntos para criar uma estrutura autossuficiente que contemplasse sistemas de filtro e reaproveitamento de água, biodigestores, painéis fotovoltaicos, telhados verdes e tudo o que lhes garantisse um modo de vida legitimamente sustentável.
A arquiteta Marjolein Smeele desenhou a casa onde pretende morar com o marido e os dois filhos. “Viver causando o menor impacto possível ao mundo, é um sonho. Como arquiteta, uma obrigação. Quero mostrar aos meninos que ser sustentável é auto-evidente. Nós ainda temos que pensar sobre isso, espero que eles não o tenham”, explica.
“Este protótipo urbano pode ser feito em qualquer lugar e também funciona para lazer ou hospedagem sustentável. Acreditamos em formas alternativas de se viver e trabalhar nas grandes cidades. Os conceitos que criamos são abertos e podem ser copiados por quem quiser”, diz Tjeerd Haccou, coordenador do Space&Matter, escritório responsável pelo projeto da área comunitária da Schoonschip.
Cinco protótipos-base foram criados para as casas, que vão de 100m2 a 200m2 e custam entre € 400 mil e € 800 mil. Um conjunto de regras também foi estabelecido para que os moradores possam definir os espaços internos junto ao arquiteto que escolheram para assinar a obra.
“Estamos supervisionando 20 arquitetos para garantir a segurança e a qualidade do projeto. Gostamos de experimentar esse tipo de processo, de design coletivo. Essa troca cria a verdadeira diversidade”, conta Haccou.
Parte da Solução
A sustentabilidade em todas as etapas da Schoonschip é garantida pela parceria com 28 empresas de consultoria em novas tecnologias, sustentabilidade, inovação e financeira, a começar pelo banco Triodos, tido como pioneiro no “setor bancário ético”, que concedeu uma linha de crédito para o financiamento da obra.
A energia elétrica e o aquecimento das casas serão provenientes de fontes 100% renováveis: painéis fotovoltaicos, pás eólicas construídas pelos próprios moradores e biodigestores caseiros – que transformam restos de comida e poda em biogás.
“Precisamos mudar nosso modo de vida para diminuir as mudanças climáticas. É a maior responsabilidade de nosso tempo: fazer parte da solução”, reafirma Thomas Sykora, fotógrafo e empreendedor sustentável, um dos mentores da comunidade Schoonschip.
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