As
tempestades de vento são distúrbios que ocorrem naturalmente na
Amazônia, porém combinadas com o desmatamento causado pelo ser humano e o
fogo podem amplificar os impactos na floresta.
Um artigo científico publicado na revista “Journal of Ecology”,
explora as sinergias entre o desmatamento de florestas, fogo e
tempestade de vento como causas da degradação na Amazônia. As áreas mais
fragmentadas e as já atingidas previamente por fogo são as que mais
sofrem com os efeitos das tempestades de vento.
O
estudo quantificou as respostas da vegetação a uma tempestade de alta
intensidade que durou cerca de 30 minutos e ocorreu no sul da Amazônia
em um experimento de fogo em grande escala em 2012. Os dados coletados
antes e após a tempestade indicaram que os danos foram maiores para
grandes árvores, em áreas perto da borda da floresta, e em áreas
queimadas em anos anteriores.
A
área experimental fica na Fazenda Tanguro em Mato Grosso, onde o IPAM
desenvolve o Projeto Tanguro, e consiste em três parcelas de 50 hectares
estabelecidas em 2004, sendo uma que nunca foi queimada (controle), uma
queimada anualmente e outra queimada em intervalos de três anos. Os
resultados mostraram que a tempestade de vento podou, quebrou e arrancou
árvores. Nas parcelas queimadas anualmente 13% das árvores foram
danificadas, na queimada a cada três anos foram 17% e na parcela
controle apenas 8%.
O
pesquisador do IPAM Divino Silvério, que liderou o trabalho, explica
que os resultados são importantes por mostrarem alguns dos processos em
que a grande mortalidade de árvores é observada nas florestas atingidas
pelo fogo, mesmo vários anos após a ocorrência dos incêndios. “O fogo
torna os troncos mais frágeis e mais fáceis de ser quebrados pelo
vento”, afirma Silvério. Ao mesmo tempo, prossegue, a passagem do fogo
reduz a densidade das árvores e a camada de raízes no solo que dá
sustentação aos troncos. Esses processos tornam as árvores remanescentes
muito mais expostas aos ventos. “Assim, mesmo ventos não tão intensos
já são suficientes para o tombamento das árvores”, afirma o cientista.
Silvério
diz também que o fogo tende a matar preferencialmente as árvores
menores deixando para trás as árvores maiores, que são justamente as que
ficam mais expostas aos ventos intensos. Uma vez que a maior parte do
carbono das florestas está estocado nas árvores grandes, e que estas são
atingidas preferencialmente pelos ventos fortes, grande quantidade da
biomassa estocada nas florestas é perdida para atmosfera.
Quatro
anos após a tempestade de vento, cerca de 85% das árvores atingidas
pelo vento nas áreas queimadas e 57% na parcela controle morreram. Outro estudo, publicado em 2018 com participação de um pesquisador do IPAM,
mostrou um aumento na taxa de mortalidade de árvores em florestas
tropicais de diversas partes do mundo devido ao aumento da temperatura,
secas longas e piores, ventos mais fortes, entre outros fatores.
Tudo
indica que as alterações climáticas em curso aumentem a frequência e
intensidade de tempestades de vento, assim, a interação deste fator com
outros processos de degradação causados pelo homem, colocam em cheque a
estabilidade da floresta.
O
Projeto Tanguro é um esforço científico com o objetivo de conciliar a
produção de alimentos e a integridade ambiental com as mudanças
climáticas globais e locais. Ele é composto por um grupo
interdisciplinar de pesquisadores, sob a coordenação do IPAM (Instituto
de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e com a colaboração da Amaggi, cuja
Fazenda Tanguro, localizada em Querência (MT), serve como centro de
experiências do projeto.
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