quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Drones no céu do Cerrado:conservar e restaurar o Sertão Veredas-Peruaçu

WWFDrones no céu do Cerrado:conservar e restaurar o Sertão Veredas-Peruaçu



07 Fevereiro 2019   |   0 Comments
Por Marcos Piovesan
 
Registro de áreas remotas de desertos da Mongólia, monitoramento de queimadas na Califórnia e entrega de suprimentos médicos na Ruanda são algumas das contribuições dos drones para a humanidade. Se no início foram desenvolvidos para fins militares, hoje são utilizados nas mais diversas áreas, sendo as ações relacionadas ao meio ambiente um terreno fértil para eles.

Esse é o caso do projeto “Explorando o uso de drones para apoiar a conservação e restauração de florestas no Mosaico de Áreas Protegidas do Sertão Veredas-Peruaçu”. Graças a ele, Drones também sobrevoarão o Cerrado, a savana mais biodiversa do planeta e que já perdeu 50% de sua área original. A missão? A conservação do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu, região que engloba 25 áreas protegidas, envolvendo o norte e noroeste de Minas Gerais e parte do sudoeste da Bahia.

O projeto é financiado pelo Fundo de Inovação Florestal da Rede WWF, que busca explorar possíveis aplicações de drones de baixo custo no apoio à conservação, proteção e manejo de florestas. É realizado em parceria entre o WWF-Brasil, a KWF Kashmir World Foundation de tecnologia e robótica e o Mosaico de Áreas Protegidas do Sertão Veredas-Peruaçu, e conta com apoio do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu/ICMBIO e da COOPERUAÇU Cooperativa dos Agricultores Familiares e Extrativistas do Vale do Peruaçu.

Conhecimentos Tradicionais e novas tecnologias
Segundo Felipe Spina, biólogo e analista de Conservação do WWF-Brasil, “o uso de novas tecnologias para a conservação é um dos objetivos do WWF Brasil. Para que os esforços de restauração e conservação sejam bem-sucedidos, devemos envolver significativamente as pessoas locais e combinar o conhecimento tradicional com a ciência e a tecnologia. Orientando assim práticas de conservação consistentes e o desenvolvimento de políticas públicas inovadoras. Além, claro, de tornar o conhecimento realmente acessível".

Com este intuito de mesclar conhecimento local e tecnologia, o projeto oferece um workshop gratuito no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu em MG, entre os dias 04 e 09 de fevereiro.  Intitulado Fly for Conservation, ou “Voando pela Conservação”, a oficina vai treinar aproximadamente 35 pessoas em montagem e a pilotagem de veículos aéreos não tripulados, os drones.

Felipe explica que o projeto explora o uso de pequenos drones de baixo custo e de código aberto para auxiliar no manejo florestal, na restauração e no monitoramento de unidades de conservação e de agroecologia da região.

“Estamos trabalhando para capacitar os membros da Cooperativa Agroecológica Cooperuaçu formada para o extrativismo sustentável de árvores frutíferas do Cerrado, bem como equipes locais envolvidas em conservação, como gerentes de Áreas Protegidas, Guarda-parques, brigadas de incêndios florestais, ONGs, universidades e a comunidade local. Queremos empoderá-los com novas tecnologias para conservação e manejo sustentável dos recursos naturais dessa importante região", explica.

Mapeamento de Áreas Queimadas
Raoni Japiassu Merisse, analista ambiental do ICMBio Mambaí-GO-APA Nascentes do Rio Vermelho, teve sua primeira experiência com drones e comenta sobre a oficina, “graças ao ritmo de exposição dos conteúdos e da clareza demonstrada pelos instrutores, não estou tendo dificuldade de me familiarizar com essa nova ferramenta de trabalho”.

Raoni conta seus planos com a nova ferramenta em mãos: “no ICMBIO de Mambaí, queremos utilizar os drones para mapear áreas queimadas e monitorar os danos causados pelo fogo. Como qualquer unidade de conservação (UC) do Cerrado, temos problemas com o fogo. Porém vislumbramos várias outras ações de gestão das nossas UCs que também poderão fazer bom uso do drone, como a identificação de acampamento de caçadores e pescadores. Assim podemos melhorar a eficácia e a segurança das ações de fiscalização”, completa.

Turismo e Destinos Inteligentes
O professor Hebert Canela, do Curso de Turismo da Faculdade Interdisciplinar em Humanidades, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, relata que a realização do workshop anima os trabalhos do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu, e fortalece a gestão integrada e a governança nesse incrível território.

“A potente conexão entre as viagens e as novas tecnologias, trabalhadas com responsabilidade, ambienta transformações para um novo mundo possível, inclusive para o turismo, valoriza os princípios do Código de Ética Mundial para o Turismo, o patrimônio natural e cultural dos lugares e renova as noções sobre destinos inteligentes”, comenta. Hebert ressalta que esta ação educacional promove a interculturalidade e fomenta a transposição do conhecimento para as políticas públicas.

Novos ares para o extrativismo e a sustentabilidade
O curso também é uma oportunidade para qualificar e profissionalizar o extrativismo local, aliando conhecimento tradicional na coleta dos frutos com a tecnologia dos drones. “É possível saber a quantidade de plantas por hectare, acompanhar produtividade, condições das plantas, período de floração e frutificação, áreas degradadas passíveis de recuperação com espécies nativas e agroflorestas dentre muitas outras possibilidades.” Observa Joel Araújo Sirqueira, Coordenador da Cooperuaçu, Professor Coordenador do Polo Avançado Peruaçu/IFNMG.

“Outro ponto de extrema importância é a participação dos comunitários e jovens do recém criado Curso Técnico em Agropecuária do IFNMG/ Polo Avançado Peruaçu, criando uma motivação extra e agregando muito conhecimento tecnológico em sua formação, principalmente considerando que são cooperados, extrativistas, filhos, netos ou parentes de extrativistas e agricultores familiares que podem lançar mão do uso dos drones para o desenvolvimento regional sustentável”.

Os drones são uma ferramenta crucial na luta moderna para proteger ambientes ecologicamente ameaçados e espécies ameaçadas de extinção. “Os conservacionistas estão sendo capacitados na mais recente tecnologia para monitorar os desafios ambientais, como incêndios florestais, deslizamentos e desmatamento. Estamos muito animados com as contribuições deste curso para a população local e para a integridade do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu”, conclui Felipe Spina, do WWF-Brasil.
 
 
Mais sobre o Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu
O Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu, localizado no norte de Minas Gerais e sudoeste da Bahia, foi recentemente ampliado de 1.8 milhão de hectares para mais de 3 milhões de hectares, passando a ter um total de 25 áreas protegidas. O território do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu faz parte da região dos Gerais, imortalizada pelo escritor Guimarães Rosa, em que a diversidade ambiental, que abriga espécies endêmicas da fauna e flora do Cerrado, convive com a riqueza cultural dos povos tradicionais, mas tem sido alvo de desmatamento, queimadas e devastação.
 
De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), os mosaicos de áreas protegidas são instrumentos de gestão e ordenamento territorial que têm por finalidade a conservação da biodiversidade por meio da integração entre as unidades de conservação e demais áreas protegidas de um determinado território.

 
A atuação do WWF-Brasil
O Cerrado é um dos biomas mais ricos do planeta em formas de vida. A flora, a fauna e a cultura existentes fazem do bioma uma das mais importantes regiões naturais a serem preservadas para as futuras gerações. O Cerrado fica no coração do Brasil, conectando três países da América do Sul e funcionando como um elo entre quatro dos cinco biomas brasileiros. A região é a casa de mais de cinco mil espécies brasileiras, como o Lobo-Guará, o Tamanduá Bandeira e a Onça-Pintada. Além disso, abastece grandes reservatórios e bacias hidrográficas do país, sendo, por isso, chamado de “o berço das águas”. Mas o Cerrado está ameaçado pela ação do homem. E esse patrimônio de todos precisa ser visto com outros olhos.
 
O WWF-Brasil atua na região do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu desde 2010, por meio do Programa Cerrado Pantanal, desenvolvendo na região o Projeto Sertões. Em sua primeira fase (2010-2014), as ações do projeto foram focadas, principalmente, no incentivo à adoção de boas práticas de produção agropecuária (BPA’s); à implementação e gestão integrada das unidades de conservação; à comunicação, visando a valorização e o resgate do Cerrado e o planejamento territorial que visa o planejamento sistemático da conservação no bioma Cerrado. A segunda fase (2014-2019) prevê uma ampliação das linhas de ação, incluindo o fortalecimento do apoio ao extrativismo vegetal sustentável dos frutos do Cerrado.
 

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