A participação auxilia na transparência de informações e fornece apoio à associações e comunidades locais
Dar voz aos atingidos, auxiliar na transparência das
informações e também fornecer apoio técnico, administrativo, jurídico e
humanitário às organizações locais. Este é o papel que as organizações
não governamentais internacionais têm ao acompanhar grandes tragédias
que vem acontecendo no Brasil.
Após o rompimento de uma barragem da Vale
no Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), uma equipe da 350.org
Brasil foi acompanhar e dar poder às organizações locais. “Para a
construção coletiva de uma sociedade autônoma e sustentável isso é
imprescindível. E, pelo que tenho acompanhado aqui, isso tem acontecido
de uma forma muito efetiva”, conta o gestor ambiental e campaigner da
organização, Renan Andrade.
Andrade, que tem como função organizar campanhas
informativas, ministrar cursos, treinamentos e atuar na mobilização de
atores sociais, instituições públicas e privadas em busca do
desenvolvimento sustentável e autônomo das comunidades, afirma que as
ONGs têm garantido que as comunidades atingidas por esta e outras
tragédias “não fiquem à mercê de governos e empresas que, em conluio,
violam os direitos humanos e ambientais”.
Durante sua atuação em Brumadinho (MG), o gestor ambiental
que já trabalha em conjunto com a sociedade civil há mais de 15 anos,
avalia que a cidade é muito dependente da mineração e, por isso, a
cidade vai sofrer significativamente os impactos da paralisação das
atividades. “Todas as pessoas de uma cadeia produtiva e de consumo serão
afetadas. O tempo para se recompor não será curto e dependerá muito da
mobilização da sociedade civil organizada, bem como da mobilização da
Vale – que cometeu o crime, e do governo – que corroborou para que isso
acontecesse”, explica.
“Como, neste momento, as empresas costumam acionar
protocolos para desmobilizar as forças populares que agem contra seus
interesses – desarticulando movimentos socioambientais e cooptando
lideranças locais para desestabilizar lutas – as organizações
internacionais devem estar lado a lado compondo essas fileiras de lutas
com as locais de base, que certamente estarão cobrando posturas
adequadas dos poderes públicos e da empresa, como o Movimento Águas e
Serras de Casa Branca/Brumadinho e o Justiça nos Trilhos, que há muito
tempo vem denunciando os desmandos, incompetência e inoperância da Vale
em todo o país e fora dele”, destaca Andrade.
Outras lutas
“Normalmente, nossos trabalhos são mais técnicos, fazemos
visitas e denúncias, nas quais entendemos a dimensão do que acontece e
mensuramos os impactos na vida das pessoas e do meio ambiente, para
então cobrarmos às autoridades a reparação dos danos socioambientais”,
relata.
A equipe, que esteve presente em casos como o recente vazamento
de mais de 60 mil litros de óleo da Transpetro na Baía de Guanabara (RJ)
e nos poços de fracking na Argentina, percebe que alguns acontecimentos
não ganham a mesma atenção e comoção por algumas peculiaridades, como o
fato de envolver vidas humanas. “Não há tanta sensibilidade quando a
natureza é maltratada, haja vista a incessante luta dos defensores de
animais e ambientalistas”.
No entanto, Andrade acredita que exista uma relação entre todas as ações realizadas pela 350.org.
“Qualquer uma dessas tragédias é, deliberadamente, uma violação dos
direitos ambientais e humanos, cometidos por empresas que poderiam
substituir tecnologias ultrapassadas por mais modernas a fim de
minimizar e até anular os impactos socioambientais, com processos de
gestão socioambiental participativos, nos quais a comunidade envolvida
faça parte das tomadas de decisões. E, inclusive aí existe uma outra
relação, pois ambas se baseiam em um modelo econômico exploratório que
vê a natureza e as pessoas como mera mercadoria. Esses modelos tem nos
levado à tragédias como essa e, se assim continuar, nos levarão a
outras”, finaliza.
Sobre a 350.org Brasil
A 350.org
foi fundada em 2008 por um grupo de amigos universitários nos Estados
Unidos, juntamente com o autor Bill McKibben, que escreveu um dos
primeiros livros sobre o aquecimento global para o público em geral, com
o objetivo de construir um movimento climático global. O nome da 350
vem de 350 partes por milhão, que é a concentração segura de dióxido de
carbono na atmosfera.
Nossas primeiras ações foram dias globais de ação que
conectaram ativistas e organizações em todo o mundo, incluindo o Dia
Internacional de Ação Climática em 2009, o Global Work Party em 2010,
Moving Planet em 2011. A 350 rapidamente se tornou uma colaboração
mundial de organizadores, grupos comunitários e pessoas comuns lutando
pelo futuro.
Hoje, a 350 trabalha em campanhas de base em todo o mundo:
da oposição às fábricas de carvão e megadutos até a criação de soluções
de energia renovável e corte dos laços financeiros da indústria de
combustíveis fósseis. Todo o nosso trabalho aproveita o poder das
pessoas para desmantelar a influência e a infraestrutura da indústria de
combustíveis fósseis.
(#Envolverde)
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