Ilegal e imoral: 6 motivos pelos quais os deputados e senadores devem dizer não à MP 867
Por Observatório do Código Florestal
Deve ir à votação na Câmara dos Deputados ainda nesta semana o PLV 9/2019, o Projeto de Lei de Conversão da MP (Medida Provisória) 867, que pretende alterar o Código Florestal.
Deve ir à votação na Câmara dos Deputados ainda nesta semana o PLV 9/2019, o Projeto de Lei de Conversão da MP (Medida Provisória) 867, que pretende alterar o Código Florestal.
Eis o primeiro motivo para dizer não a essa legislação. A MP 867
encaminhada ao Congresso Nacional tinha um único objetivo: ampliar o
prazo para que os produtores rurais pudessem aderir ao Programa de
Regularização Ambiental (PRA), já que houve uma demora em sua
implantação por parte dos estados. (1) Houve, no entanto,
diversos "contrabandos" durante a discussão da MP e foram incluídas
emendas de assuntos estranhos à proposição inicial -- são os chamados
"jabutis", na linguagem parlamentar. Isso é inconstitucional,
segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) por meio da
Ação Direta de Inconstitucionalidade (5127). E são esses "jabutis" que
desconfiguram o Código Florestal.
O Código Florestal foi publicado em maio de 2012 --está para
completar 7 anos de existência no dia 25. Chancelada recentemente pelo
STF, essa legislação exigiu muito debate, disputa e concessão tanto por
parte dos produtores quanto dos ambientalistas. A versão final, embora
não tenha agradado inteiramente nenhum dos setores envolvidos, virou um
ponto de equilíbrio e possibilitou alianças inéditas entre esses
setores. (2) Se o Código Florestal for novamente modificado,
antes de ser plenamente implementado, haverá um completo desrespeito a
um processo democrático que levou 5 anos para ser construído. Além de anti-democrático, é improdutivo e danoso à estabilidade jurídica.
Com isso, a MP 867 abre novamente uma discussão que já havia se
encerrado e cria uma conflagração totalmente desnecessária na sociedade,
premiando os pouquíssimos proprietários rurais que não têm compromisso
com o meio ambiente e prejudicando a grande maioria que acreditou na
lei e já começou a adotar medidas para sanar seus passivos ambientais.
Já são mais de 5,6 milhões de Cadastros Ambientais Rurais (CAR). Ao
nivelar por baixo todo o setor, (3) a aprovação da MP 867 colará
no agronegócio brasileiro a imagem de viciado em desmatamento e
anistias, manchando a imagem do produtor brasileiro nos mercados
internacionais.
O ponto mais preocupante é o que altera o art.68 do Código
Florestal --se aprovada como está, a MP ampliará a anistia já concedida
pela lei hoje em vigor, que dispensou a recuperação de 41 milhões de
hectares em todo o país, área maior que a do Mato Grosso do Sul. (4)
Sob a falsa alegação de “aprimoramento” da regra hoje existente, ela
permitirá que a anistia seja ampliada para os grandes produtores rurais,
dispensando-os de recuperar algo entre 5 e 6 milhões de hectares, ou
duas vezes a área do Estado de Sergipe. Essa nova regra
impactará principalmente as regiões mais degradadas do país, justamente
nas quais vêm ocorrendo rotineiramente problemas com falta de água por
falta de florestas, caso da cidade de São Paulo e da reserva da
Cantareira.
Outra alteração no Código Florestal que é bastante grave está no
art. 59. As mudanças propostas acabam com a regra de que só poderão
fazer jus aos benefícios da lei (anistia de multas e áreas a serem
recuperadas) aqueles produtores que forem proativos e aderirem ao
Programa de Regularização Ambiental até determinada data. (5) É
um desrespeito aos 5,6 milhões de produtores que acreditaram que as
regras aprovadas em 2012 eram para valer e já se apresentaram para
cumprir a lei.
No conjunto, a MP 867, que se tornou PLV 9 ao ter o relatório
aprovado na Comissão Mista, traz riscos ao meio ambiente,
enfraquecimento da legislação ambiental, desrespeito ao processo
democrático, além de (6) provocar insegurança jurídica no campo,
uma vez que pode ocasionar novas contestações judiciais por parte de
quem, corretamente, já cumpriu a lei.
Os deputados têm a chance de livrar o país dos danos que essa
legislação pode causar, em nome uma pequena parte do setor do agro de
mentalidade atrasada e predatória, que ainda pensa que quem produz
precisa destruir. O Brasil pode se consolidar como o país do agro
sustentável, apostando nos produtores modernos que sabem que proteger o
meio ambiente é parte necessária de seu negócio!
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