Conturbada até o fim, COP25 falha em aumentar ambição
Encerrada na manhã de domingo (15 de dezembro), um dia e meio após o prazo, a COP25, a conferência do clima do Chile, em Madri, falhou em seu objetivo de trazer a urgência da crise climática para dentro da implementação do Acordo de Paris.
Por Solange A. Barreira e Claudio Angelo, Observatório do Clima
A
COP latino-americana, que precisou ser transportada para a Europa após a
recusa do Brasil e a convulsão social no Chile, fez pouco mais do que
reafirmar o Acordo de Paris. A própria presidente da COP25, a ministra
de meio ambiente do Chile, Carolina Schmidt, reconheceu estar
insatisfeita com o resultado obtido, em seu discurso de encerramento da
conferência.
A
decisão sobre mercados de carbono, tema central da Conferência, foi
adiada para a COP26, em Glasgow, na Escócia, entre outros motivos pela
posição brasileira em defesa de regras fracas que poderiam gerar a
chamada dupla contagem de redução de emissões para cumprimento de metas
de dois países devido à redução realizada por uma empresa em um deles e
comercializada com o segundo.
A
COP se realizou sob o peso dos movimentos de jovens e cidadãos que
explodiram em 2019, exigindo ação dos governos e elevaram a emergência
climática — a expressão do ano em língua inglesa. Também teve alertas
redobrados da comunidade científica, com dois novos relatórios do IPCC
(Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e um do Pnuma
(Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), que avisou aos
negociadores que as emissões precisam cair 7,6% ao ano até 2030 se
quisermos nos manter na meta de 1,5oC.
Dentro
das salas de reunião na Feira de Madrid, local que abrigou a COP, a
desconexão entre a negociação, o clamor das ruas e as evidências
científicas era imensa. Uma condução fraca do processo pela presidência
chilena produziu um conjunto de documentos, o Chile Madrid Time for
Action, que faz um apelo vago aos países para “refletir” em 2020 sobre
como aumentar a ambição ”o máximo que puderem’ em suas NDCs
(Contribuições Nacionalmente Determinadas) e em financiamento climático,
o que é fundamental para países em desenvolvimento, em especial, os
mais pobres e mais vulneráveis.
O
espírito construtivo visto em 2015 na COP21, que produziu o Acordo de
Paris, mostrou-se enfraquecido. Antigos vilões climáticos, como Estados
Unidos e Austrália, voltaram a atrapalhar as negociações. Os EUA
entregando a carta de saída de Paris e a Austrália, com um governo que
nega as mudanças do clima enquanto o país literalmente pega fogo,
bloqueando decisões importantes. Juntou-se a eles um novo vilão: o
Brasil de Jair Bolsonaro, chefiado por um ministro do Meio Ambiente que
constrangeu a diplomacia brasileira na Espanha, dizendo que cobraria
recursos pelo desempenho ambiental do Brasil, apesar da explosão do
desmatamento e da violência contra povos indígenas.
“Na
COP25, o processo foi colocado acima das pessoas e do planeta. Com os
efeitos da crise climática piorando em todo o mundo, alguns governos em
Madri chegaram a apoiar a retirada da expressão “emergência climática”
das decisões da COP”, afirmou Carlos Rittl, secretário executivo do
Observatório do Clima. Em contexto completamente diferente do espírito
cooperativo que nos deu o Acordo de Paris, em Madri os suspeitos de
costume se juntaram a novos bloqueadores, como o Brasil. “A política
ecocida do governo do presidente Jair Bolsonaro manchou o trabalho da
delegação brasileira na COP25 e transformou um ex-campeão do meio
ambiente em um pária climático, cujo envolvimento na luta contra a
catástrofe climática corre o risco de se limitar a uma assinatura em um
acordo global”, concluiu Rittl.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/12/2019
Conturbada até o fim, COP25 falha em aumentar ambição, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/12/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/12/16/conturbada-ate-o-fim-cop25-falha-em-aumentar-ambicao/.
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