A moralização, a racionalidade e o bom senso sem ideologia ditaram o ritmo da política ambiental no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, segundo afirmou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em entrevista, ontem, ao programa CB Poder, uma parceria entre o Correio e a TV Brasília.
Salles negou a existência de uma guerra entre o governo e as organizações não governamentais (ONGs) ambientais e defendeu o presidente da República acerca das recentes provocações feitas à ativista sueca Greta Thunberg. O ministro voltou a demonstrar frustração com a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (Cop-25) de 2019, e associou as críticas ao governo a ações tomadas para o combate ao desmatamento ilegal na Amazônia.
O ministro criticou o protecionismo de países ricos em não regulamentar a comercialização de créditos de carbono no mercado internacional e a resistência dessas potências mundiais a discutir a mudança da base energética dos combustíveis fósseis. Também não faltaram alfinetadas de Salles a antecessores do governo, acusando-os de descontrole sobre prazos, metas e objetivos de projetos aprovados. “No fundo, davam dinheiro e torciam para dar certo”, declarou.
Quanto à regularização fundiária e à bioeconomia, o ministro defendeu o trabalho feito pelo governo para conter o admitido desflorestamento no Brasil. E endossou o discurso do presidente Jair Bolsonaro sobre a soberania do país em relação à Amazônia Legal. Veja os principais pontos da entrevista:
Cop-25
Nós esperávamos que essa Cop resultasse na regulamentação do artigo 6º do Acordo de Paris. Para quem não conhece muito esse tema, é o artigo que permite que haja, efetivamente, um mercado de transação de créditos de carbono que, para o Brasil, seria uma grande oportunidade, uma vez que temos florestas, boas práticas na agricultura, uma série de avanços de modernização da indústria. Então, regulamentar esse artigo era o grande objetivo da Cop e, em razão da posição extremamente protecionista dos países ricos, nós não conseguimos avançar no acordo.
Matriz energética
A poluição nos centros urbanos no Brasil só não é pior porque os veículos são movidos, em grande medida, por etanol. Esses são os temas importantes que temos que resolver no Brasil. Na Cop ficou claro que os países ricos não querem tratar de mudança da base energética dos combustíveis fósseis, porque, para eles, é um problema. Ficam discutindo uso do solo, agricultura, outros temas em paralelo, para desviar a discussão da matriz energética. No Brasil, 84% da matriz energética é limpa.
Primeiro ano
Sou suspeito para dar nota para mim mesmo, mas o governo fez muita coisa em curto espaço de tempo. Avançou muito, colocou racionalidade, bom senso. Teve preocupação com a população brasileira em primeiro lugar, ou seja, não em fazer média ou tomar decisões que são, muitas vezes, aplaudidas por alguns, mas que não trazem benefícios ou até mesmo prejudicam pessoas, setores e regiões.
Polêmicas
O tema ambiental é extremamente importante, pois diz respeito à qualidade de vida das pessoas, do presente e do futuro. O governo tem feito tudo o que pode para tomar medidas de cuidado, de preservação, mas que sejam efetivas, não meramente um discurso ou uma desculpa para transferir dinheiro para amiguinho do governo. É um tema que desperta, evidentemente, muitas paixões, porque diz respeito a todos nós, então, muitas vezes, as discussões, em vez de serem feitas no campo da razão, do bom senso, do equilíbrio, são tratadas do ponto de vista mais emocional.
Dinheiro para amiguinhos?
Quando nós fizemos o levantamento prévio nos convênios, dos acordos, percebemos um descontrole total sobre o conteúdo, os prazos, as metas, objetivos de cada projeto que eram aprovados. No fundo, davam dinheiro e torciam para dar certo. E não se tinha esse controle.
Aumento do desmatamento
O desmatamento é um fato, vem crescendo desde 2012. Ele era três vezes o que é este ano, nós estamos a 1/3 do que já foi, em 2004 e 2005. Baixou até 2012 e voltou a crescer de maneira ininterrupta até agora. Se não atacarmos a fonte, a origem do desmatamento ilegal... por que ele acontece? Por que a Amazônia continua tendo aumento do desmatamento ilegal? Precisamos fazer a regularização fundiária, número um de todos. Número dois, zoneamento econômico e ecológico, para estabelecer justamente as potencialidades, critérios e oportunidades. Três, pagamento por serviços ambientais e créditos de carbono. Nós fizemos a nossa parte, fomos à Cop para buscar recursos para robustecer o pagamento de serviços ambientais e créditos de carbono. Quarto lugar, a bioeconomia, dar ganho econômico, dar uma tangibilidade econômica para a biodiversidade que está na Amazônia.
Greta Thunberg
O que o presidente expressou, da forma sempre muito sincera que ele faz, foi de que ela está sendo usada. Primeiro, é uma menina de 16 anos que vive em um país rico, com as melhores condições de vida. Se você for à casa da Greta, provavelmente ela é melhor que a da classe média para cima brasileira. Então, as meninas brasileiras pobres, da Região Norte, que não têm saúde, que engravidam cedo, que não têm tratamento de esgoto em casa, essas meninas também têm direito de dizer “olha, não bloqueiem os nossos desenvolvimentos aqui para a região, porque senão vamos continuar na pobreza”. Acho que a sociedade acabou criando, em vários temas, e o tema ambiental foi um deles, alguns rótulos e algumas posições que não permitem que você discuta as coisas de maneira racional.
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