Ararinhas-azuis chegam ao Brasil para início do processo de reintrodução na natureza
As ararinhas que estão agora na Bahia nasceram em cativeiro na Europa, parte de uma parceria entre o governo brasileiro e a Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), na Alemanha, e também, a Pairi Daiza Foundation, na Bélgica.
A viagem de retorno foi longa. Depois de decolar do aeroporto alemão, foram onze horas de voo até aterrissar em solo brasileiro. Durante todo o trajeto, as ararinhas foram acompanhadas de perto por um veterinário. Após o desembarque em Petrolina, elas foram levadas, de carro, por cerca de 1h30, até Curaçá.
Após essa primeira etapa, as ararinhas serão transferidas para um novo recinto, onde começaram a se adaptar ao clima da caatinga e à alimentação disponível na mata.
A previsão inicial é que só no ano que vem, os primeiros indivíduos sejam reintroduzidos na vida selvagem. Testes para solturas serão feitos, inicialmente, com outra espécie, o papagaio conhecido como Maracanã.
Todos os custos com o projeto de repatriação da ararinha-azul estão sendo pagos pela ACTP. Segundo Martin Guth, seu proprietário, valor da obra da construção do centro de Curaçá foi de US$ 1,4 milhão e anualmente, serão necessários cerca de US$ 180 mil para manter em operação o programa.
Cromwell Purchase, diretor científico e zoológico da associação alemão será o coordenador científico do projeto, juntamente com os biólogos do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade – ICMBio, órgão vinculado ao ministério do Meio Ambiente, responsável pelo Plano de Ação Nacional a Conservação da Ararinha-azul.
A extinção na natureza
Espécie endêmica do Brasil, ou seja, ela só existe em nosso país e em nenhum outro lugar do mundo, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) foi vítima do tráfico ilegal de aves e a cobiça de grandes colecionadores europeus. Fascinados pelo sua beleza e azul vibrante, eles não economizaram esforços (e muito dinheiro) para poder ter um exemplar da famosa arara brasileira.Com isso, a ararinha-azul acabou sendo extinta de seu habitat natural. O último indivíduo voando livre, na natureza, foi observado por volta do ano 2000.
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*Nós, do Conexão Planeta, torcemos muito pelo sucesso de reintrodução da ararinha-azul no Brasil! Mas por uma questão de ética jornalística e coerência com nosso trabalho, não podemos deixar de mencionar que a volta da espécie ao país envolve diversas acusações ao proprietário da ACTP, Martin Guth.
Em 2018, uma denúncia do jornal britânico The Guardian levantou uma série de fatos sobre Guth e Association for the Conservation of Threatened Parrots. De acordo com a reportagem, o alemão, que ficou preso durante 5 anos por crimes de extorsão e sequestro, poderia ter envolvimento com tráfico ilegal de aves.
O Conexão Planeta repercutiu a denúncia no Brasil e fez várias matérias sobre o assunto. Descobriu que muitos biólogos e criadores no país já tinham ouvido falar sobre a má fama de Guth, mas todos relataram medo em denunciar o criador (leia mais aqui).
Há uma petição internacional, que já tem 55 mil assinaturas, que pede uma investigação ao governo alemão sobre o criador de aves ameaçadas. Mas segundo o Bundesamt für Naturschutz (BfN), Agência Federal para a Conservação da Natureza da Alemanha, não há indícios de ilegalidade no trabalho da associação.
Procurado pelo Conexão Planeta, o ministério do Meio Ambiente, ainda sob a gestão de Edson Duarte e atualmente sob o comando de Ricardo Salles, nunca se posicionou sobre as denúncias.
Recentemente, em entrevista por e-mail, Martin Guth disse que sua ficha criminal está limpa e prefere não envolver sua vida pessoal com o projeto das ararinhas.
Entretanto, entidades de conservação internacional, como a Rare Species Conservatory Foundation, dos Estados Unidos, alegam falta de evidências e cooperação científica, além de transparência no trabalho da ACTP, principalmente porque não se sabe a origem do dinheiro que o financia.
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Fotos: reprodução Facebook ACTP/ICMBio
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.
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