Mico-leão-dourado ganha viaduto vegetado para conectar populações
Duda Menegassisegunda-feira, 10 agosto 2020 21:23
O ameaçado e carismático mico-leão-dourado, endêmico do estado do Rio de Janeiro, é um dos exemplares da fauna brasileira “ilhado” em porções de floresta divididas por rodovias, pastos, plantações e cidades. Passagens dedicadas ao trânsito de animais silvestres têm se tornado bandeiras cada vez mais fortes para tentar minimizar os impactos dessa fragmentação de habitats. No início de agosto (2), foi inaugurado o primeiro viaduto vegetado em uma rodovia federal no Brasil. Localizado no km 218 da BR-101, no município de Silva Jardim, ele irá ajudar a conectar as populações de mico-leão da Reserva Biológica de Poço das Antas com seus vizinhos que vivem pros lados do Parque Estadual dos Três Picos.
Uma população de animais isolada num fragmento pode até não sofrer impactos visíveis no curto prazo, mas no longo prazo, a tendência é que os bichos comecem a reproduzir dentro das suas famílias, o que diminui a variabilidade genética deles e representa um risco para a conservação da espécie no longo prazo.
O viaduto foi feito pela concessionária Arteris Fluminense como condicionante para duplicação da via, já que a expansão torna ainda mais intransponível essa barreira para fauna. A obra teve um custo de R$ 9 milhões. Um segundo viaduto está previsto pelo licenciamento ambiental para este trecho da BR-101, na altura do km 240. A estrutura será construída depois que forem averiguados os resultados deste primeiro.
De acordo com o secretário da Associação, a expectativa é que os micos se sintam confortáveis em percorrer a passarela na medida em que as mudas que foram plantadas cresçam e ofereçam ao mico um ambiente acolhedor, mas nem tanto. “Com o crescimento das árvores ele vai se sentir muito mais confortável para atravessar de um lado ao outro da rodovia. A princípio não pretendemos plantar nenhuma muda que fixe o bicho porque o objetivo é que ele atravesse”, comenta Luis.
Ele acrescenta que não dá para precisar quando esse trânsito pelo viaduto irá começar, mas reforça que é necessário ter cobertura arbórea, portanto, baseado no tempo estimado para o crescimento das mudas, isso deve levar de 2 a 4 anos. “É uma espécie arborícola, ela não anda nem no chão nem no topo das árvores, ele anda sempre no meio da floresta, por isso a gente precisa aguardar o desenvolvimento dessa floresta”.
A conservação dos micos
O mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) é uma espécie que ocorre apenas na Mata Atlântica fluminense, no estado do Rio. Considerada Em Perigo de extinção pela Lista Vermelha da Fauna Brasileira, o mico é alvo dos esforços de conservação desde os anos 60. O mais recente levantamento populacional da espécie, feito em 2017 pela Associação Mico-Leão-Dourado, indicou apenas 2.500 micos na natureza. O número representa uma queda com relação ao censo de 2014, quando foram contabilizados 3.700 indivíduos. A redução populacional tem nome e sobrenome: febre amarela.
“Pela primeira vez a gente começa a ter uma perda. E na Reserva de Poço das Antas a perda foi muito grande, é uma área super afetada pela febre amarela. Nós já tivemos 450 micos ali, agora essa população está bem reduzida, nossa perspectiva atual ali é de menos de 40 animais”, lamenta.
Para garantir a sobrevivência da espécie no longo prazo, Luis reforça que a chave é mesmo a conexão. “Existe um plano que prevê que para salvar o mico-leão-dourado do risco de extinção, a gente precisa ter uma população razoável numa área suficientemente grande. Nossa meta de conservação é ter pelo menos 2 mil micos monitorados, numa área com pelo menos 25 mil hectares de florestas protegidas e conectadas. É nessa meta que a gente está trabalhando. Hoje a gente até tem mais de 2 mil micos, mas não temos 25 mil hectares protegidos e conectados na nossa região. Não adianta ter 10 mil micos em fragmentos pequenos e isolados. Estamos construindo essa conexão, com o viaduto, plantios de corredores e tudo mais, que vão nos ajudar a alcançar esse objetivo de ter essa região conectada”, explica.
“Nós estamos trabalhando para consolidar o que a gente chama de uma paisagem de conservação que envolve todos os remanescentes florestais que a gente tem na região. São 12 grandes blocos de florestas ainda existentes e nós vamos montando esse quebra-cabeça”, acrescenta. Com esse objetivo, a Associação investiu numa fazenda do outro lado da rodovia, onde estão fazendo a recuperação florestal de 90 hectares degradados, além da implementação de outros corredores vegetados em pontos-chave.
“Tem todo um projeto de conexão florestal, pensando no longo prazo para passagem do mico e de outras espécies. O mico-leão acaba virando uma espécie bandeira, mas [a conexão] é para manter todo equilíbrio ecológico da Reserva [Poço das Antas] e da região também, conclui.
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