Pesquisadores montam frente para evitar destruição de geoglifos e querem observatório permanente: 'nossa memória'
Reunião foi convocada pelo Museu Universitário da Ufac em conjunto com o Iphan e USP e vai atuar em sete eixos.
Por Alcinete Gadelha, G1 AC — Rio Branco
Protegidos por lei federal, geoglifos são aterrados para plantio de soja no AC
O aterramento de sítios arqueológicos,
os chamados geoglifos, durante o processo de plantio de grãos no
município de Capixaba, no interior do Acre, acendeu mais um alerta.
E para evitar a destruição desses monumentos - que podem dar pistas de
como viveram os povos da Amazônia antes da chegada dos colonizadores
europeus - será criada uma frente de trabalho em defesa dos geoglifos
composta por pesquisadores. Esse grupo vai se nortear em 7 eixos, entre
os quais a construção de um observatório permanente.
Eixos em defesa dos geoglifos:
- Construção de um site com mapa dos geoglifos e sítios arqueológicos amazônicos (observatório permanente);
- Ações de educação patrimonial e de proteção jurídica;
- Mobilização permanente com o envolvimento de instituições, centros e institutos de pesquisa, organizações e entidades do movimento indígena, imprensa, órgãos de controle e de proteção ambiental e patrimonial, movimentos sociais, intelectuais etc;
- Incentivo à formação de grupos, linhas e projetos de pesquisa interdisciplinares ou transdisciplinares;
- Nucleação da Área de Arqueologia na Ufac (envolvendo o Museu Universitário, PPGLI, PPGEO, Curso de Ciências Sociais, CFCH, Propeg, Assessoria de Cooperação Interinstitucional e parceiros externos como o Iphan, a Unir e a USP;
- Consolidação de parcerias para as ações de educação patrimonial, ações de proteção jurídica e ações de formação (Minter e Dinter em Arqueologia com a Unir e a USP);
- Articulação de financiamentos para as ações.A reunião ocorreu no dia 11 e foi convocada pelo Museu Universitário da Universidade Federal do Acre (Ufac), em conjunto com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Universidade de São Paulo (USP) e com o professor e pesquisador Alceu Ranzi. O encontro também teve a participação de pelo menos 40 pessoas de diferentes instituições e localidades.
A reunião foi coordenada pelo diretor do museu universitário, professor
Gerson Albuquerque. Ele destacou que a mobilização é para garantir a
preservação do patrimônio histórico do estado.
“É parte do patrimônio cultural acreano, dessa nossa grande Amazônia, e
o que está na parte acreana é um pouco responsabilidade da Ufac. A
ideia de a gente protagonizar esse novo debate é porque a universidade
não pode ficar omissa diante da situação”, esclareceu o diretor.
No mês de agosto, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan) acionou o Ministério Público Federal (MPF) e a Justiça
Federal após descobrir que sítios arqueológicos, onde estão três geoglifos, na Fazenda Crixa II, na cidade de Capixaba, interior do Acre, tinham sido aterrados durante o processo de plantio de grãos.
A propriedade pertence ao presidente da Federação da Agricultura do
Acre, Assuero Veronez, que justificou que o aterro foi um "acidente" no
processo de aragem para o plantio. Segundo ele, os tratoristas não
observaram a estrutura no chão.
Estruturas geométricas escavadas na terra, os geoglifos têm formatos de
quadrados, retângulos ou círculos. Foram descobertos na Amazônia na
década de 1970, com o aumento dos desmatamentos. Começaram a ser melhor
estudados a partir dos anos 2000.
Essas figuras gigantes teriam sido construídas por civilizações que ocuparam o sul da Amazônia,
antes da formação da floresta e seriam usadas em cerimônias e rituais
religiosos. Só no Acre, existem 800 catalogados pelos pesquisadores.
Geoglifos foram aterrados para plantio em fazenda no Acre — Foto: Reprodução
Preocupação com outros geoglifos
O diretor alerta que outros geoglifos correm risco de destruição e é preciso trabalhar na preservação deles.
“Nossa preocupação é em fazer um catálogo para criar uma rede de
instituições que possam atuar na proteção dessas áreas, porque isso é a
nossa memória e que está aí antes da chegada dos colonizadores, então, é
uma memória que a gente não pode perder. Tem que estudar, tem que
entender o que isso representou no passado e o que tem para nós no
presente e isso é papel da universidade”, pontuou.
Gif geoglifos — Foto: Arte G1
Investigação do MPF
Após ser acionado pelo Iphan, o Ministério Público Federal no Acre (MPF-AC) instaurou um inquérito civil público para investigar os danos causados aos sítios arqueológicos da Fazenda Crixa II, em Capixaba.
Além disso, foi requisitado que a Polícia Federal no Acre (PF-AC) também investigue o caso.
O MPF-AC disse que recebeu relatórios do Iphan sobre a situação e também uma denúncia do paleontólogo Alceu Ranzi alertando sobre as gravidades do problema.
“A destruição desse monumento é muito grave e, ao mesmo tempo, nos
indica a necessidade de muita educação patrimonial para que os
proprietários tomem conhecimento de que em suas áreas existem esses
monumentos e a necessidade de preservá-los para o futuro”, explicou o
paleontólogo à Rede Amazônica Acre.
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