terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Brasil rebece o vergonhoso Prêmio Fóssil do Ano, em duas categorias

 

Brasil rebece o vergonhoso Prêmio Fóssil do Ano, em duas categorias

Brasil rebece o vergonhoso Prêmio Fóssil do Ano, em duas categorias

Em 1999, durante a Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, realizada em Bonn, na Alemanha, a organização Climate Action Network (CAN) – Rede de Acão pelo Clima, em tradução livre – lançou o prêmio Fóssil do Dia (The Fossil of The Day Award). Simbólico e irônico, ele é oferecido pelos membros da organização que elegem, todos os dias, os países que prejudicam o meio ambiente e se comportam mal durante as negociações, impedindo que avancem e, muitas vezes, alegando que fizeram “o melhor” que podiam.

Mas em 2020, quando se completam cinco anos da assinatura do Acordo do Clima, por mais de 190 países, a Climate Action Network decidiu lançar uma edição especial: Fóssil do Aniversário dos Cinco Anos do Acordo de Paris. Como a conferência do clima da ONU não foi realizada este ano por causa da pandemia, o anúncio do prêmio aconteceu virtualmente.

Cerca de 1.300 ONGs votaram nos “concorrentes” à premiação vergonhosa: um reconhecimento pelo fracasso total em agir pelo clima do planeta e implementar ações para preservar o meio ambiente – ou seja, “homenagear” os países que fizeram seu melhor para serem os piores nos últimos cinco anos.

E entre os cinco escolhidos está o Brasil, que ganhou em duas categorias: Redução da participação da sociedade civil e Fracasso em proteger a população dos impactos climáticos.

Estados Unidos e Austrália também foram agraciados pela edição especial do Fóssil. Os australianos emplacaram na categoria Não honrar a meta de 1,5oC, por defender o carvão mineral e se recusar a adotar uma meta de neutralização de emissões, e o governo de Donald Trump também abocanhou duas categorias: Não prover financiamento climático e o prêmio máximo, o Fóssil Colossal por ter abandonado o Acordo de Paris.

De acordo com os organizadores da premiação, a Floresta Amazônica corre o risco de se transformar “em uma savana aberta e seca, um processo irreversível que está sendo acelerado pelo aumento de incêndios e extração de madeira graças àss políticas da “motosserra” de Bolsonaro… Os incêndios deste ano estão entre os piores em dez anos, com um aumento de 14% em em comparação com os números já catastróficos do ano passado. A maior área úmida tropical do mundo, o Pantanal, foi consumida pelas chamas este ano, destruindo a vida das comunidades indígenas e de toda a sua biodiversidade. As coisas parecem sombrias no Brasil quando Bolsonaro oferece concessões aos magnatas do agronegócio e da mineração, vira as costas às comunidades indígenas e nega repetidamente as mudanças climáticas. Só para provar o ponto, o Brasil prometeu mais de 70% do financiamento de seu plano de energia existente para combustíveis fósseis e estendeu os subsídios para a exploração de petróleo offshore até 2040!”.

A Climate Action Network destacou ainda como o Brasil suprimiu a participação da sociedade civil em conselhos e debates nacionais. Lembrou a inexistência de políticas para defender os povos indígenas e o ataque constante do governo ao trabalho das organizações não-governamentais. “Um documento que vazou mostra os planos militares do Brasil para controlar 100% das ONGs que trabalham na Amazônia e promover políticas para privá-las de financiamento. Não é à toa que o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de assassinatos de defensores do meio ambiente”.

“A sociedade civil, apesar de estar ameaçada no Brasil, deve se fortalecer para pressionar, nacional e internacionalmente, por medidas eficazes de redução de emissões, para preservar nossas florestas e proteger os povos indígenas”, disse Nayara Castiglioni Amaral, coordenadora geral do Engajamundo, organização juvenil brasileira.

Em 2019, O Brasil já havia recebido o ‘Fóssil do Dia’ por culpar as organizações da sociedade civil pelos incêndios na Amazônia.

O Fóssil do Aniversário dos Cinco Anos do Acordo de Paris vem se juntar a um novo vexame internacional que o atual governo enfrenta. O país ficou fora da lista dos participantes da Cúpula do Clima, promovida pela ONU amanhã e domingo, como preparação para a Conferência do Clima de 2021 (COP26), que deve acontecer no Reino Unido. O Brasil não foi convidado porque os organizadores do encontro consideraram insuficientes as metas de redução das emissões de gases de efeito estufa divulgadas esta semana por Salles, que agora está tentando reverter a situação (leia mais aqui).

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Imagem: divulgação


Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.

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