Robôs agrícolas são o futuro: Para uma utopia ou para uma distopia?
Com informações da Universidade Hohenheim - 20/08/2021
[Imagem: Natalis Lorenz]
Utopia agrícola
Antes limitados ao reino da ficção científica, os robôs agrícolas já estão aqui - e eles estão acenando com dois extremos possíveis para o futuro da agricultura e seus impactos no meio ambiente, bem como da própria sociedade.
Um desses cenários é uma utopia, onde frotas de pequenos robôs inteligentes cultivam a terra em harmonia com a natureza para produzir diversas culturas orgânicas. A outra é uma distopia, em que robôs grandes, similares a tratores e cada vez maiores, enchem a paisagem com máquinas pesadas e produtos químicos artificiais.
O professor Thomas Daum, da Universidade de Hohenheim, na Alemanha, é particularmente atraído pelo cenário utópico.
"É como um Jardim do Éden," argumenta ele. "Pequenos robôs podem ajudar a conservar a biodiversidade e combater as mudanças climáticas de maneiras que não eram possíveis antes."
Daum sugere que o cenário utópico, que exige muita mão de obra para a agricultura convencional atual, mas é possível com robôs trabalhando 24 horas por dia, 7 dias por semana, provavelmente beneficiaria o meio ambiente de várias maneiras, com plantas mais diversificadas e o solo mais rico em nutrientes.
Graças à micropulverização de biopesticidas e à remoção de ervas daninhas a laser, os cursos d'água, as populações de insetos e as bactérias do solo também seriam mais saudáveis. Os rendimentos das colheitas orgânicas - que atualmente são frequentemente mais baixos do que os rendimentos das culturas convencionais - seriam mais elevados e a pegada ambiental da agricultura seria significativamente reduzida.
E esses impactos não se limitam apenas ao meio ambiente - as pessoas serão afetadas. "A criação de robôs também pode afetar você concretamente como consumidor," explica o pesquisador. "Na utopia, não estamos apenas produzindo cereais - temos muitas frutas e vegetais cujos preços relativos cairiam, então uma dieta mais saudável se tornaria mais acessível."
Distopia agrícola
No entanto, um futuro paralelo, com ramificações ambientais negativas, é tão possível quando esse cenário idílico.
Nesse cenário, detalha Daum, robôs grandes, mas tecnologicamente rudes, iriam arrasar a paisagem natural e algumas monoculturas dominariam o terreno. Grandes cercas isolariam pessoas, fazendas e animais selvagens uns dos outros.
Com os humanos removidos das fazendas, os agroquímicos e os pesticidas poderiam ser usados de forma mais ampla. Os objetivos finais seriam estrutura e controle: Qualidades nas quais esses robôs mais simples se dão muito bem, mas provavelmente teriam efeitos prejudiciais ao meio ambiente.
Embora observe que não é provável que o futuro fique confinado a uma utopia pura ou a uma distopia pura, ao criar esses dois cenários, Daum espera iniciar uma conversa no que ele vê como uma encruzilhada no tempo.
"A utopia e a distopia são possíveis do ponto de vista tecnológico. Mas, sem as proteções corretas na política, podemos acabar na distopia sem querer, se não discutirmos isso agora," afirmou.
[Imagem: Natalis Lorenz]
Pequenas propriedades versus monoculturas
Os pequenos robôs descritos no cenário utópico de Daum também seriam mais viáveis para pequenos agricultores, que poderiam pagá-los com mais facilidade ou compartilhá-los por meio de prestadores de serviços.
Em contraste, ele argumenta que a agricultura familiar tem menos probabilidade de sobreviver no cenário distópico: Apenas os grandes produtores, diz ele, seriam capazes de administrar as vastas extensões de terra e os altos custos das grandes máquinas.
Em partes da Europa, Ásia e África, onde atualmente existem muitas fazendas pequenas, há benefícios claros em fazer um esforço consciente para alcançar o cenário utópico.
A situação é mais desafiadora em países como Estados Unidos, Rússia e Brasil, que historicamente têm sido dominados por fazendas em grande escala, que produzem grãos e oleaginosas de alto volume e baixo valor. Nessas situações, pequenos robôs - que têm desempenho menos eficiente em tarefas que consomem muita energia, como debulhar milho - podem nem sempre ser a opção mais econômica.
Escolhendo a utopia
Decidir o caminho a seguir requer ação agora, defende Daum.
Embora alguns aspectos do cenário utópico, como a remoção de ervas daninhas a laser, já tenham sido desenvolvidos e estejam prontos para serem amplamente distribuídos, é necessário prover financiamento para outros aspectos do aprendizado de máquina e inteligência artificial, a fim de desenvolver robôs inteligentes o suficiente para se adaptarem a sistemas agrícolas complexos e não estruturados.
Mudanças na política agrícola também precisam ser feitas, podendo assumir a forma de subsídios, regulamentações ou impostos.
Embora possa parecer que o cenário de distopia seja o mais provável, ele não é o único caminho a seguir: "Acho que a utopia é alcançável," defende Daum. "Não será tão fácil quanto a distopia, mas é muito possível."
Artigo: Farm robots: ecological utopia or dystopia?
Autores: Thomas Daum
Revista: Trends in Ecology & Evolution
DOI: 10.1016/j.tree.2021.06.002
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