Animais voltam a ser observados na região que foi devastada pela tragédia de Brumadinho
Faz mais de dois anos que os brasileiros choraram diante de uma das maiores tragédias ambientais do país, que tirou a vida de mais de 270 pessoas e destruiu mais de 250 hectares de vegetação da Mata Atlântica no estado de Minas Gerais. No dia 25 de janeiro de 2019, a barragem de resíduos Córrego do Feijão, da mineradora Vale, se rompeu em Brumadinho e destruiu tudo o que encontrou pela frente. Um ano após o desastre, as águas do rio Paraopeba ainda continuavam impróprias para uso e continham metais pesados.
Mas como a natureza sempre nos dá lições incríveis de resiliência, pouco a pouco, ela mostra sua recuperação na região de Brumadinho. Armadilhas fotográficas e sensores de calor instalados nas áreas afetadas pelo vazamento têm registrado a volta de diversos animais silvestres. Já foram observados tucanos, jaguatiricas, tamanduás-bandeiras, pacas e onças-pardas.
“A presença de animais de diferentes níveis da cadeia alimentar é um forte indicativo que esses locais já estão desempenhando serviços ecológicos sistêmicos importantes, como a dispersão de sementes, a polinização, a fertilização de solo por meio de fezes, entre outros”, afirma o analista ambiental Gustav Specht. “Com o passar do tempo, essas áreas formam uma espécie de corredor verde e ampliam as áreas florestadas que abrigam todo tipo de animal de Brumadinho e região”.
Segundo a Vale, foram reflorestados mais de 12 hectares de áreas diretamente impactadas e outras protegidas e colocados na mata bebedouros, poleiros e abrigos artificiais para o uso dos animais.
Relatos de 2019 contaram que centenas de animais foram atingidos pelo rompimento da barragem. Peixes morreram ao longo do Paraopeba, um dos formadores do São Francisco. Vídeos divulgados na redes sociais mostravam os animais sem vida… Pequenos e grandes, como enormes surubins, dourados e tambaquis.
Moradores disseram ainda que viram cavalos, bois e vacas sendo levados pelo mar de resíduos de mineração. Outros ficaram ilhados, sem acesso à água e a alimentos. Galinhas, gatos e cachorros foram perdidos no meio de tanta destruição.
Um casal de quatis anda pela mata
Como eu escrevi na época da tragédia, Brumadinho chorou – e ainda chora -, por seus mortos e desaparecidos (dez corpos ainda não foram encontrados). Chorou por seus animais que foram levados e soterrados pela lama. Chorou pela sirene que não tocou. Chorou pela destruição. Chorou pela vida que nunca mais será a mesma. E chorou por um novo desastre (crime) ambiental que poderia ter sido evitado.
Pelo menos, a vida selvagem mostra que apesar da estupidez humana, ela é mais forte e consegue, em algumas situações, se recuperar.
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Fotos: reprodução armadilhas fotográficas
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