Emissões de metano da JBS ultrapassam as dos rebanhos de França, Alemanha, Canadá e Nova Zelândia juntos
Cinco das maiores empresas de carnes e dez das maiores fabricantes de laticínios do mundo produzem aproximadamente 12,8 milhões de toneladas de metano, o que equivale a mais de 80% de toda a liberação desse tipo de gás pela União Europeia. Juntas essas 15 companhias são responsáveis por cerca de 3,4% de todas as emissões globais de metano antropogênico e 11,1% do metano relacionado à pecuária mundial.
Assim como o dióxido de carbono, o metano é um gás de efeito estufa e contribui para o aquecimento da superfície da Terra. Todavia, apesar de ter uma vida mais curta em relação ao gás carbônico, ele é extremamente mais potente: tem cerca de 80 vezes mais potencial de aquecimento do que o CO2.
E não tem jeito, este é um processo natural. Em seu processo de digestão, vacas, bois, ovelhas e outros animais produzem o gás metano. E consequentemente, o liberam no ar. O problema é quando há um rebanho gigantesco no planeta sendo criado para atender a demanda do consumo de carne.
Os números mais acima fazem parte de uma análise inédita, divulgada em novembro pelo Institute for Agriculture and Trade Policy, dos Estados Unidos, que faz um sério alerta sobre a emissão global de metano e reforça que uma legislação urgente e ambiciosa seja implementada para lidar com os impactos climáticos gerados pelas empresas do setor e para que os governos apoiem uma transição da pecuária industrial em direção à agroecologia.
“Nossas estimativas mostram que as emissões combinadas de metano dessas 15 empresas excedem em muito toda a pegada de metano de muitos países, incluindo Rússia, Canadá, Austrália e Alemanha. Suas emissões desse gás são 52% maiores do que aquelas relacionadas à pecuária da UE e 47% maiores do que as dos Estados Unidos”, aponta o relatório.
Quinze multinacionais liberam mais metano do que Estados Unidos e União Europeia
Duas empresas brasileiras no topo da lista
Logo no primeiro lugar do ranking elaborado pelo Institute for Agriculture and Trade Policy está a multinacional brasileira JBS, a maior produtora mundial de carne, com um faturamento anual de US$ 50 bilhões, que tem sido constantemente acusada de ser cúmplice do desmatamento no Brasil. Em 2021, oito das maiores redes de supermercados da Europa afirmaram que não iriam mais comprar os produtos da empresa. Um ano antes, milhares de britânicos já tinham assinado uma petição pelo boicote da carne da JBS (leia mais aqui).
As emissões de metano da JBS superam em muito as de todas as outras empresas citadas no levantamento. Elas excedem as emissões combinadas de metano pecuário da França, Alemanha, Canadá e Nova Zelândia ou se comparam a 55% do metano pecuário dos Estados Unidos.
E outra companhia brasileira também aparece no documento. A Marfrig, segunda maior empresa do segmento pecuário do mundo, contribui com 1,9 milhões de emissões de metano e produz o mesmo volume desse gás de efeito estufa do que o rebano inteiro da Austrália.
“É urgente reduzir o aquecimento a curto prazo, mas as emissões de metano aumentaram 9% entre 2008 e 2017 em comparação com a década anterior. Nos cenários políticos atuais, as emissões antropogênicas de metano devem aumentar em 30% entre 2015 e 2050. A maior fonte de metano produzido pelo homem é o manejo do esterco e a fermentação entérica em animais ruminantes, um processo em que microrganismos criam metano no estômago de animais como vacas, ovelhas e cabras”, revela a análise.
No gráfico acima, as emissões de metano da JBS que se comparam às mesmas de
França, Canadá, Alemanha e Nova Zelândia juntas
De acordo com os especialistas do instituto americano, a única alternativa para combater o problema é reduzir o número de animais em sistemas de produção industrial em massa.
A organização acusa ainda corporações como a JBS e a Marfrig de “falta endêmica de transparência e um profundo vácuo de responsabilidade”. Por isso, recomenda estimativas independentes das emissões dessa companhias. “Esta é uma razão crítica pela qual os governos devem exigir relatórios de emissões consistentes e abrangentes e verificação independente dessas emissões”, afirma o relatório.
O Conexão Planeta entrou em contato com as assessorias de imprensa da JBS e da Marfrig para ter uma declaração das mesmas sobre o relatório e as denúncias feitas. Ainda não obtivemos resposta, mas essa reportagem será atualizada assim que houver um retorno.
Mapa global mostra as 15 empresas citadas: no setor de laticínios aparecem Nestlé e Danone
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Imagem de abertura: ilustração de capa do relatório “Emissions Impossible: Methane Edition”
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