“Jogamos fora 40% do que é pescado no mundo”, alertam cientistas sobre pesca acidental ou ‘bycatch’
O que o petisquinho à beira-mar pode ter a ver com a ameaça de extinção das tartarugas? É que, para pescar 1 kg de camarão, são capturados outros 21 kg de outros animais, que não eram alvos da pesca. E isso tem ameaçado tartarugas, em especial.
“Elas ficam presas nas redes, não conseguindo retornar à superfície para respirar e morrem afogadas, ou podem deglutir ou se prender em anzóis, o que também compromete o ciclo de vida”, explica Larissa Dalpaz, bióloga do VIVA Instituto Verde Azul.
E esse problema tem nome: bycatch ou captura acidental ou pesca acidental.
Em 2005, a Comissão dos Estados Unidos sobre Política Oceânica (United States Commission on Ocean Policy) declarou a bycatch como a maior ameaça aos mamíferos aquáticos no mundo.
Mais de um milhão de animais vertebrados marinhos morrem, todos os anos, capturados por equipamentos de pesca, acidentalmente. Estima-se que 40% de toda pesca é bycatch. São baleias, golfinhos, focas, tartarugas, raias, tubarões, aves marinhas, peixes e invertebrados capturados “sem querer” e descartados.
“Do ponto de vista da conservação, um dos principais problemas é quando essas capturas acidentais envolvem espécies ameaçadas ou protegidas, como é o caso de baleias, golfinhos, tartarugas, aves, tubarões e raias”, destaca a bióloga.
Stop Bycatch Day
1° de dezembro foi o dia escolhido pela comunidade científica para debater o tema, que virou um movimento: Stop Bycatch Day ou Dia Internacional ‘Pare a Captura Acidental’. O objetivo principal é denunciar e compartilhar a situação atual, cobrar políticas públicas e buscar possíveis soluções.
O consumidor tem papel importante ao decidir comprar alimentos de empresas comprometidas com a pesca responsável. Ou escolher espécies que não estão ameaçadas. Um exemplo clássico é o do cação que, na verdade, é um tubarão cortado em postas.
Comer o animal que é topo da cadeia alimentar dos oceanos significa comprometer seriamente o equilíbrio marinho.
Para Larissa Dalpaz, não consumir ou reduzir o consumo de peixes e frutos do mar é um caminho do ponto de vista individual. Mas os estudiosos são unânimes em dizer que é preciso trabalhar a questão em conjunto com os pescadores.
“Falar sobre capturas acidentais é falar sobre gestão pesqueira, já que esse é um problema que ocorre durante a pesca e que, além de prejudicar os animais, afeta também muitos pescadores. No Brasil, por exemplo, não temos monitoramento pesqueiro nas frotas industriais e nas comunidades artesanais. Assim, além de não se saber o quê e quanto é pescado como espécie-alvo, tampouco sabemos das capturas acidentais”, salienta a pesquisadora.
E a pesca industrial?
A exploração desenfreada dos animais marinhos a partir da pesca industrial também já é um sinal de alerta. “Pescar dessa forma tão intensa nos levou a ‘estoques’ de peixes muito reduzidos, por vezes levados à beira da extinção. Assim, para continuar capturando as quantidades capturadas antes, muitas vezes é necessário que se passe muito mais tempo ‘tentando’”. Larissa explica:
“As redes precisam ficar mais tempo na água ou devem ser maiores para, muitas vezes, capturar até menos peixes do que antes, já que há pouca oferta. Como os estoques estão menores, isso faz com que nossa pesca, em geral, seja menos eficiente. E essa ineficiência inclui aumentar as capturas acidentais”.
“Este é um cenário de injustiça e não podemos fingir que não vemos. Injustiça pelos milhões de animais que são mortos e feridos, pelas espécies que estão sendo levadas à extinção. E pela injustiça com comunidades pesqueiras artesanais, que também sofrem as consequências da falta de uma boa gestão pesqueira, tendo seu sustento prejudicado, enquanto frotas industriais e a sobrepesca avançam em nossos mares”, finaliza a bióloga.
Ações e petição
Além de se juntar a diversas entidades para ações em todo o país, este ano, o Viva – instituto Verde Azul lançou uma petição em prol de Políticas Públicas para monitorar e reduzir as Capturas Acidentais no Brasil.
Assine! Este é um problema de todos nós e diz respeito ao presente e ao futuro da humanidade e do planeta.
Foto: NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration)
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