Mais doze ararinhas-azuis são soltas no refúgio de vida silvestre em Curaçá, na Bahia
No início de junho, oito ararinhas-azuis foram reintroduzidas na natureza, 20 anos após a espécie ter sido declarada extinta na vida selvagem. Foram as primeiras aves a voarem pelo céu do Refúgio de Vida Silvestre criado especificamente para elas, em Curaçá, na Bahia. No último final de semana, mais doze indivíduos também ganharam a liberdade, em mais um passo do projeto que busca devolver à Caatinga um dos seus mais icônicos símbolos.
Assim como na primeira soltura, em junho, as doze ararinhas soltas agora estão acompanhadas de um grupo de araras maracanãs, capturadas na vida selvagem para servirem de guias e “professoras” para as primeiras nessa etapa de adaptação, já que possuem hábitos de alimentação e vida semelhantes.
O processo da reintrodução é sempre feito inicialmente a partir da chamada “soltura branda”. A porta do viveiro externo, onde elas vivem, é aberto para que, por conta própria, elas possam explorar o ambiente externo. Assim, pouco a pouco, elas se sentem mais confiantes e seguras para viver longe do cativeiro. Para atraí-las para fora é colocado alimento em uma bandeja suspensa, como a da imagem que abre este post, mais acima.
As aves que estão sendo soltas em Curaçá não nasceram no Brasil, mas num criatório particular na Alemanha, na sede da Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), e chegaram na Bahia em março de 2020, num grupo de 52 indivíduos (leia mais aqui).
A ACTP é parceira do governo brasileiro no programa de reintrodução da espécie, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Uma ararinha-azul, dentro do viveiro, ao lado de duas maracanãs
A soltura de mais ararinhas no sábado (10/12) contou com a participação de duas estudantes de escolas locais, que puderam acompanhar de longe, em uma barraca camuflada para não assustar ou estressar os animais. As jovens foram selecionadas através de concurso cultural de desenho, promovido nas redes sociais.
No vídeo abaixo, divulgado no domingo pela ACTP, dez ararinhas-azuis aparecem voando juntas, uma cena linda de ser ver!
Adaptação gradativa e monitoramento
Quando ocorre a soltura branda, ainda há oferta de alimentos para as aves e a porta do viveiro permanece aberta, dessa maneira, elas podem retornar ao local onde se sentem mais confortáveis. Além disso, todas as ararinhas-azuis recebem transmissores acoplados a um colar, assim como anilhas e microchips, para serem monitoradas.
Infelizmente, o processo de reintrodução está sujeito a eventualidades. No final de agosto, por exemplo, como contei nesta outra reportagem, uma das ararinhas soltas em junto desapareceu. Ela se desgarrou do grupo, algo que pode acontecer, e não foi mais avistada. O sinal do seu transmissor também não foi mais detectado. E no dia 6 de setembro, outra ave sumiu, vítima de um predador, provavelmente um pássaro maior. Ou seja, do oito indivíduos liberados há seis meses restaram somente seis.
“Reintroduções são extremamente desafiadoras para qualquer espécie, especialmente para uma que já foi extinta na natureza. Embora as perdas possam ocorrer inevitavelmente, o planejamento e a execução cuidadosos e meticulosos podem ajudar a reduzi-los ou limitá-los. De fato, as próprias perdas também apresentam oportunidades para aprendizado contínuo e avaliação de técnicas e estratégias”, explicou a ACTP.
Apesar dos percalços, há muito otimismo entre os biólogos envolvidos no projeto. Cada vez mais as ararinhas-soltas estão se alimentando somente com sementes e frutos, de plantas locais, e recentemente, algumas foram flagradas acasalando.
Espécie endêmica do Brasil, ou seja, ela só existe em nosso país e em nenhum outro lugar do mundo, no século passado a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) foi vítima do tráfico ilegal de aves e da cobiça de grandes colecionadores internacionais que as levaram ilegalmente para outros países. Até junho de 2022, o último indivíduo voando livre, na natureza, tinha sido observado por volta do ano 2000.
A ararinha-azul é a menor dentre as espécies das araras azuis
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Fotos: reprodução Facebook ACTP
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