segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Insensibilidade inesperada das nuvens diminui previsões do aquecimento global

 

Insensibilidade inesperada das nuvens diminui previsões do aquecimento global

Com informações da Universidade de Hamburgo - 06/12/2022


Os dados não bateram com as teorias que estão incorporadas nos modelos climáticos usados hoje.
[Imagem: Raphaela Vogel et al. - 10.1038/s41586-022-05364-y]






Papel das nuvens no clima

Pesquisadores do Laboratório de Meteorologia Dinâmica de Paris (França) e do Instituto Max Planck de Meteorologia (Alemanha) analisaram dados observacionais inéditos, que eles e outras equipes coletaram, das nuvens cúmulos, as mais comuns e variadas, como as que as crianças gostam de comparar com o formato de animais.

Surpreendentemente, a análise revelou que a contribuição dessas nuvens tão comuns para o aquecimento climático deve ser reavaliada, uma vez que os dados não coincidem com o papel que lhes é atribuído nos modelos climáticos.

E isso significa que previsões catastróficas para as mudanças climáticas são muito menos plausíveis do que os cientistas têm considerado.

"As nuvens de ventos alísios [nuvens cúmulos] influenciam o sistema climático em todo o mundo, mas os dados demonstram um comportamento diferente do que se supunha anteriormente. Consequentemente, um aumento extremo nas temperaturas da Terra é menos provável do que se pensava. Embora esse aspecto seja muito importante para projetar com mais precisão cenários climáticos futuros, isso definitivamente não significa que podemos recuar na proteção do clima," disse a professora Raphaela Vogel, membro da equipe.




A teoria atual

Até agora, muitos modelos climáticos têm mostrado uma grande redução nas nuvens cúmulos, o que significaria que grande parte de sua função de resfriamento seria perdida e, consequentemente, a atmosfera aqueceria ainda mais.

Os novos dados observacionais mostram que isso provavelmente nunca ocorrerá.

O que é certo é que, à medida que o aquecimento global avança, mais água na superfície do oceano evapora e a umidade perto da base das nuvens cúmulos aumenta.

Em contraste, as massas de ar na parte superior das nuvens são muito secas e tornam-se apenas ligeiramente úmidas. Isso produz uma diferença substancial na umidade acima e abaixo da nuvem. Na atmosfera, essa diferença se dissipa quando as massas de ar se misturam.

A hipótese aceita até agora pelos cientistas estabelecia o seguinte: O ar mais seco é transportado para baixo, fazendo com que as gotas das nuvens evaporem mais rapidamente e tornando mais provável que as nuvens se dissipem.


Você sabia que os raios cósmicos influenciam a formação das nuvens?
[Imagem: CERN]

O que os dados dizem

Os novos dados contam outra história.

As observações revelaram que uma mistura mais intensa não torna as camadas inferiores mais secas e nem faz com que as nuvens se dissipem; em vez disso, os dados mostram que a cobertura de nuvens na verdade aumenta com o aumento da mistura vertical.

Se as nuvens têm um efeito de resfriamento ou de aquecimento depende de sua altitude. Com uma altitude máxima de dois a três quilômetros, as nuvens cúmulos na verdade são comparativamente baixas, refletindo a luz solar e resfriando a atmosfera nesse processo. Em contraste, nuvens mais altas amplificam o efeito estufa, aquecendo o clima.

"Essa é uma boa notícia, porque significa que as nuvens dos ventos alísios são muito menos sensíveis ao aquecimento global do que se supõe há muito tempo," disse Vogel. "Com nossas novas observações e descobertas, nós agora podemos testar diretamente o quão realista os modelos climáticos retratam a ocorrência de nuvens de ventos alísios. A esse respeito, uma nova geração de modelos climáticos de alta resolução, que possam simular a dinâmica das nuvens ao redor do globo em escalas abaixo de um quilômetro, são particularmente promissoras. Graças a elas, as projeções futuras serão mais precisas e confiáveis."

Esses novos dados observacionais oferecem a primeira quantificação robusta de quão pronunciada é a mistura vertical e como isso afeta a umidade e a cobertura de nuvens como um todo. Ou seja, são os primeiros dados observacionais sobre um processo essencial para a compreensão das mudanças climáticas.



Os nanossatélites prometem baratear a coleta de dados sobre as nuvens e o clima em geral.
[Imagem: Vanderlei Martins]

Por que é difícil

Como os cientistas não sabiam disso antes? É que não é tão simples - e nem barato - coletar dados sobre nuvens.

Na campanha de observações feita que a própria equipe realizou na ilha de Barbados, um avião foi usado para lançar centenas de sondas atmosféricas de uma altitude de nove quilômetros.

À medida que caíam, as sondas coletavam dados atmosféricos sobre temperatura, umidade, pressão e vento.

Enquanto isso, outro avião coletava dados sobre as nuvens em sua base, a uma altitude de 800 metros, e um navio realizava medições na superfície.

A comparação desses dados na vertical criou um banco de dados sem precedentes, que ajudará a entender o papel ainda pouco compreendido das nuvens no sistema climático, e a prever com mais precisão seu papel nas mudanças climáticas.

Bibliografia:

Artigo: Strong cloud-circulation coupling explains weak trade cumulus feedback
Autores: Raphaela Vogel, Anna Lea Albright, Jessica Vial, Geet George, Bjorn Stevens, Sandrine Bony 
Revista: Nature
DOI: 10.1038/s41586-022-05364-y

 

Nenhum comentário: