Insensibilidade inesperada das nuvens diminui previsões
do aquecimento global
Com informações da Universidade de
Hamburgo - 06/12/2022
Os dados não bateram com as teorias que estão
incorporadas nos modelos climáticos usados hoje.
[Imagem: Raphaela Vogel et al. - 10.1038/s41586-022-05364-y]
Papel das nuvens no clima
Pesquisadores do Laboratório de Meteorologia Dinâmica de
Paris (França) e do Instituto Max Planck de Meteorologia (Alemanha) analisaram
dados observacionais inéditos, que eles e outras equipes coletaram, das nuvens
cúmulos, as mais comuns e variadas, como as que as crianças gostam de comparar
com o formato de animais.
Surpreendentemente, a análise revelou que a contribuição
dessas nuvens tão comuns para o aquecimento climático deve ser reavaliada, uma
vez que os dados não coincidem com o papel que lhes é atribuído nos modelos
climáticos.
E isso significa que previsões catastróficas para as
mudanças climáticas são muito menos plausíveis do que os cientistas têm
considerado.
"As nuvens de ventos alísios [nuvens cúmulos]
influenciam o sistema climático em todo o mundo, mas os dados demonstram um
comportamento diferente do que se supunha anteriormente. Consequentemente, um
aumento extremo nas temperaturas da Terra é menos provável do que se pensava.
Embora esse aspecto seja muito importante para projetar com mais precisão
cenários climáticos futuros, isso definitivamente não significa que podemos
recuar na proteção do clima," disse a professora Raphaela Vogel, membro da
equipe.
A teoria atual
Até agora, muitos modelos climáticos têm mostrado uma grande
redução nas nuvens cúmulos, o que significaria que grande parte de sua função
de resfriamento seria perdida e, consequentemente, a atmosfera aqueceria ainda
mais.
Os novos dados observacionais mostram que isso provavelmente
nunca ocorrerá.
O que é certo é que, à medida que o aquecimento global
avança, mais água na superfície do oceano evapora e a umidade perto da base das
nuvens cúmulos aumenta.
Em contraste, as massas de ar na parte superior das nuvens
são muito secas e tornam-se apenas ligeiramente úmidas. Isso produz uma
diferença substancial na umidade acima e abaixo da nuvem. Na atmosfera, essa
diferença se dissipa quando as massas de ar se misturam.
A hipótese aceita até agora pelos cientistas estabelecia o
seguinte: O ar mais seco é transportado para baixo, fazendo com que as gotas
das nuvens evaporem mais rapidamente e tornando mais provável que as nuvens se
dissipem.
Você sabia que os raios
cósmicos influenciam a formação das nuvens?
[Imagem: CERN]
O que os dados dizem
Os novos dados contam outra história.
As observações revelaram que uma mistura mais intensa não
torna as camadas inferiores mais secas e nem faz com que as nuvens se dissipem;
em vez disso, os dados mostram que a cobertura de nuvens na verdade aumenta com
o aumento da mistura vertical.
Se as nuvens têm um efeito de resfriamento ou de aquecimento
depende de sua altitude. Com uma altitude máxima de dois a três quilômetros, as
nuvens cúmulos na verdade são comparativamente baixas, refletindo a luz solar e
resfriando a atmosfera nesse processo. Em contraste, nuvens mais altas
amplificam o efeito estufa, aquecendo o clima.
"Essa é uma boa notícia, porque significa que as nuvens
dos ventos alísios são muito menos sensíveis ao aquecimento global do que se
supõe há muito tempo," disse Vogel. "Com nossas novas observações e
descobertas, nós agora podemos testar diretamente o quão realista os modelos
climáticos retratam a ocorrência de nuvens de ventos alísios. A esse respeito,
uma nova geração de modelos climáticos de alta resolução, que possam simular a
dinâmica das nuvens ao redor do globo em escalas abaixo de um quilômetro, são
particularmente promissoras. Graças a elas, as projeções futuras serão mais
precisas e confiáveis."
Esses novos dados observacionais oferecem a primeira
quantificação robusta de quão pronunciada é a mistura vertical e como isso
afeta a umidade e a cobertura de nuvens como um todo. Ou seja, são os primeiros
dados observacionais sobre um processo essencial para a compreensão das
mudanças climáticas.
Os nanossatélites
prometem baratear a coleta de dados sobre as nuvens e o clima em
geral.
[Imagem: Vanderlei Martins]
Por que é difícil
Como os cientistas não sabiam disso antes? É que não é tão
simples - e nem barato - coletar dados sobre nuvens.
Na campanha de observações feita que a própria equipe
realizou na ilha de Barbados, um avião foi usado para lançar centenas de sondas
atmosféricas de uma altitude de nove quilômetros.
À medida que caíam, as sondas coletavam dados atmosféricos
sobre temperatura, umidade, pressão e vento.
Enquanto isso, outro avião coletava dados sobre as nuvens em
sua base, a uma altitude de 800 metros, e um navio realizava medições na
superfície.
A comparação desses dados na vertical criou um banco de
dados sem precedentes, que ajudará a entender o papel ainda pouco compreendido
das nuvens no sistema climático, e a prever com mais precisão seu papel nas
mudanças climáticas.
Bibliografia:
Artigo: Strong cloud-circulation coupling explains weak trade cumulus
feedback
Autores: Raphaela Vogel, Anna Lea Albright, Jessica Vial, Geet George, Bjorn
Stevens, Sandrine Bony
Revista: Nature
DOI: 10.1038/s41586-022-05364-y
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