Mudanças
André Gustavo Stumpf
Vai ser divertido viver no Brasil em 2014. As previsões chamadas sérias antecipam o pior dos mundos; inflação elevada, contas nacionais em situação difícil, até o emprego pode sofrer. Os videntes também não se entendem. Um deles garante que a presidente Dilma não será reeleita de maneira nenhuma. Outro afirma que ela está reeleita. O fato é que a primeira notícia da área econômica é pesada. A balança comercial teve resultado pavoroso, caiu 86% em relação ao ano passado. O superavit foi de apenas US$ 2,561 bilhões.
O primeiro sinal foi, portanto, revelado. A situação econômica não é nada boa. O governo passou o ano inteiro prometendo melhores números e atacando os críticos que teriam produzido algo parecido com guerra psicológica adversa — expressão muito comum no país dos militares. Contudo, os números insistem em desafiar as projeções. Aliás, as estimativas dos profissionais da economia foram majoritariamente erradas. Eles previam, no início do ano passado, um 2013 muito melhor do que, afinal, aconteceu.
A presidente Dilma Rousseff pode comemorar a ação de seu recentíssimo ministro dos Transportes, César Borges. Ele conseguiu tirar da gaveta cinco leilões de rodovias, realizou as licitações, conseguiu deságios impressionantes e colocou sua experiência de político baiano na rua. Seus conhecimentos de engenharia podem ter auxiliado e também o fato de ter sido um dos membros da famosa equipe de técnicos que trabalhou junto com Antonio Carlos Magalhães. Cesar Borges é, de longe, dentro do governo, a melhor surpresa no quesito concessões rodoviárias. Ele foi além do esperado.
No setor ferrovias, a novela se arrasta porque o sistema encontrado pelos técnicos é surrealista. Não há como atrair investidores que terão que, durante 30 anos, receber pagamentos de uma única fonte do governo. É evidente que o receio de corrupção, atrasos e outros desmandos inviabilizam o modelo. Será necessário repensar tudo. Não valeu o que se produziu por inexperiência, falta de contato com a realidade e desconexão com o interesse dos investidores. Afinal de contas, até as concessões de aeroportos, muito mais complicadas, caminharam por arrancos, mas chegaram ao final do ano com resultados positivos.
Os desafios são magníficos. As eleições presidenciais, se analisadas pelo lado do Partido dos Trabalhadores, são resolvidas no segundo turno. Lula foi aos dois turnos. Dilma também. Então é razoável esperar que, neste ano, em que a disputa será mais apertada, os brasileiros só vão conhecer o novo ou a nova presidente na segunda rodada. Os candidatos estão cautelosos. Eles sabem que o cenário é enganoso. Há uma calma aparente. Mas, depois da tempestade, vem a enchente. Há algo em ebulição e não são apenas os tamborins que estão esquentando. O carnaval cai no início de março. Escolas e universidades já se prepararam para suspender os trabalhos durante a Copa do Mundo. Haverá mais gente disponível para organizar e participar das manifestações de protesto, capazes de desmontar governos e reputações.
O tempero de toda essa massa política será o final do julgamento do mensalão. Vai rolar durante o primeiro semestre. Os jogos da Copa do Mundo vão paralisar o país. Se, ao final, o Brasil for campeão, os políticos deverão fazer de tudo para aparecer bem na foto. Se não, eles desaparecem com a maior naturalidade. O problema é que, logo após o final do campeonato, começa o período da propaganda eleitoral obrigatória. Não há muito tempo para explicações nem considerações. O ano, portanto, começa depois do carnaval e termina em algum momento em maio. Só reaparece, já com ar cansado, em novembro quando o novo tempo na política, qualquer que seja o resultado, vai mostrar a face.
Os tempos estão mudando com tanta velocidade que as pessoas não percebem que o Uruguai liberou o uso da maconha para os cidadãos. O estado norte-americano do Colorado também abriu. Lá todo mundo pode dar um tapa na marijuana sem problemas. Vai custar US$ 12 o cigarro. Outro sinal de mudança é que o The Guardian, de Londres, e vetusto The New York Times, de Nova York, pediram em editorial que Edward Snowden seja anistiado pelo governo norte-americano. Os dois tradicionalíssimos jornais afirmam que o ex-espião não prejudicou ninguém, não revelou assuntos secretos, nem colocou os Estados Unidos em perigo. Ao contrário, ele apenas alertou aos cidadãos que não existe mais neste mundo o conceito de privacidade.
Correio Braziliense
Vai ser divertido viver no Brasil em 2014. As previsões chamadas sérias antecipam o pior dos mundos; inflação elevada, contas nacionais em situação difícil, até o emprego pode sofrer. Os videntes também não se entendem. Um deles garante que a presidente Dilma não será reeleita de maneira nenhuma. Outro afirma que ela está reeleita. O fato é que a primeira notícia da área econômica é pesada. A balança comercial teve resultado pavoroso, caiu 86% em relação ao ano passado. O superavit foi de apenas US$ 2,561 bilhões.
O primeiro sinal foi, portanto, revelado. A situação econômica não é nada boa. O governo passou o ano inteiro prometendo melhores números e atacando os críticos que teriam produzido algo parecido com guerra psicológica adversa — expressão muito comum no país dos militares. Contudo, os números insistem em desafiar as projeções. Aliás, as estimativas dos profissionais da economia foram majoritariamente erradas. Eles previam, no início do ano passado, um 2013 muito melhor do que, afinal, aconteceu.
A presidente Dilma Rousseff pode comemorar a ação de seu recentíssimo ministro dos Transportes, César Borges. Ele conseguiu tirar da gaveta cinco leilões de rodovias, realizou as licitações, conseguiu deságios impressionantes e colocou sua experiência de político baiano na rua. Seus conhecimentos de engenharia podem ter auxiliado e também o fato de ter sido um dos membros da famosa equipe de técnicos que trabalhou junto com Antonio Carlos Magalhães. Cesar Borges é, de longe, dentro do governo, a melhor surpresa no quesito concessões rodoviárias. Ele foi além do esperado.
No setor ferrovias, a novela se arrasta porque o sistema encontrado pelos técnicos é surrealista. Não há como atrair investidores que terão que, durante 30 anos, receber pagamentos de uma única fonte do governo. É evidente que o receio de corrupção, atrasos e outros desmandos inviabilizam o modelo. Será necessário repensar tudo. Não valeu o que se produziu por inexperiência, falta de contato com a realidade e desconexão com o interesse dos investidores. Afinal de contas, até as concessões de aeroportos, muito mais complicadas, caminharam por arrancos, mas chegaram ao final do ano com resultados positivos.
Os desafios são magníficos. As eleições presidenciais, se analisadas pelo lado do Partido dos Trabalhadores, são resolvidas no segundo turno. Lula foi aos dois turnos. Dilma também. Então é razoável esperar que, neste ano, em que a disputa será mais apertada, os brasileiros só vão conhecer o novo ou a nova presidente na segunda rodada. Os candidatos estão cautelosos. Eles sabem que o cenário é enganoso. Há uma calma aparente. Mas, depois da tempestade, vem a enchente. Há algo em ebulição e não são apenas os tamborins que estão esquentando. O carnaval cai no início de março. Escolas e universidades já se prepararam para suspender os trabalhos durante a Copa do Mundo. Haverá mais gente disponível para organizar e participar das manifestações de protesto, capazes de desmontar governos e reputações.
O tempero de toda essa massa política será o final do julgamento do mensalão. Vai rolar durante o primeiro semestre. Os jogos da Copa do Mundo vão paralisar o país. Se, ao final, o Brasil for campeão, os políticos deverão fazer de tudo para aparecer bem na foto. Se não, eles desaparecem com a maior naturalidade. O problema é que, logo após o final do campeonato, começa o período da propaganda eleitoral obrigatória. Não há muito tempo para explicações nem considerações. O ano, portanto, começa depois do carnaval e termina em algum momento em maio. Só reaparece, já com ar cansado, em novembro quando o novo tempo na política, qualquer que seja o resultado, vai mostrar a face.
Os tempos estão mudando com tanta velocidade que as pessoas não percebem que o Uruguai liberou o uso da maconha para os cidadãos. O estado norte-americano do Colorado também abriu. Lá todo mundo pode dar um tapa na marijuana sem problemas. Vai custar US$ 12 o cigarro. Outro sinal de mudança é que o The Guardian, de Londres, e vetusto The New York Times, de Nova York, pediram em editorial que Edward Snowden seja anistiado pelo governo norte-americano. Os dois tradicionalíssimos jornais afirmam que o ex-espião não prejudicou ninguém, não revelou assuntos secretos, nem colocou os Estados Unidos em perigo. Ao contrário, ele apenas alertou aos cidadãos que não existe mais neste mundo o conceito de privacidade.
Correio Braziliense
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