04/05/2015
às 6:03O MARXISTA FACHIN NO SUPREMO – Alô, senadores tucanos, os brasileiros já estão com o saco cheio de traidores! Ou: Um partido de oposição precisa ir além do simples combate à corrupção: é preciso construir e respeitar valores. Com a palavra, Aécio, Serra, Aloysio… E aí?
Tudo
indica que o PSDB — ou senadores do PSDB, para ser mais preciso — estão
prestes a fazer uma grande besteira. E não seriam poucos os leitores
que ousariam dizer: “Mais uma!”.
A que me refiro? Tucanos do Senado
estão dispostos a referendar o nome de Luiz Edson Fachin, um homem com
ideias de extrema esquerda, para o Supremo Tribunal Federal.
Não sei
quantos podem fazê-lo por convicção, não sei quantos estariam apenas
sendo simpáticos ao senador paranaense Alvaro Dias, que decidiu adotar o
advogado nascido no Rio Grande do Sul e fez carreira no Paraná.
Ou por
outra: Dias vira cabo eleitoral de Fachin por razões meramente
bairristas, e seus colegas de partido o seguem por camaradagem. Ou por
outra ainda: a república dos compadres é mais importante que a República
Federativa do Brasil. Sendo assim, vamos ser diretos na pergunta: por
que o país precisa de tucanos se já tem os petistas?
A um partido
de oposição não basta apenas combater a corrupção. Isso é um imperativo
moral, que deveria independer da escolha política.
A um partido de
oposição não basta apenas apontar os erros do governo.
Isso é um
imperativo administrativo, que também deveria independer da escolha
política.
E essas duas coisas, como sabe o PT dos tempos em que estava
fora do poder, não bastam para conduzir uma legenda à vitória.
Um
partido só se organiza e se prepara para isso quando consegue construir,
consolidar ou capturar valores, tornando-os também seus.
A agremiação
tanto tem de estar atenta às novas demandas que vão surgindo nas ruas
como tem de ter a coragem de propor caminhos.
E, nisso, o PSDB sempre
falhou miseravelmente. Foi eleito duas vezes pelo Plano Real, não porque
tivesse plasmado uma mentalidade.
Ora, o PSDB
vociferar em plenário, em artigos de jornal e em ambientes estritos e
selecionados contra a corrupção é fácil. Só faltava fazer o contrário,
não é? Também não há moleza maior, hoje em dia, do que apontar as
incompetências de Dilma. Isso tudo é meramente reativo. Sim, é
necessário cumprir também esse papel, mas isso não basta. Uma agremiação
que pretenda desbancar outra não se afirma apenas negativamente. Também
tem de se expressar de forma positiva — de construir, em suma, valores.
E isso,
lamentavelmente, o PSDB ainda não percebeu. E é por isso, já adverti em
artigos, que pode ser tragado pelo rescaldo da crise que hoje engolfa o
PT. No fim das contas, há entre os dois uma espécie de pacto de
duelistas, não é? Seria conveniente perceber que parte considerável do
eleitorado já se cansou dessa guerra entre vermelho e azul, entre o Boi
Garantido e o Boi Caprichoso.
O PSDB tem
apenas uma alternativa decente no caso Fachin: votar contra a sua
indicação. E não apenas com o propósito de “reagir” a Dilma, mas de
AFIRMAR QUAIS SÃO OS VALORES DO PARTIDO. E, nesse ponto, pergunto: QUAIS
SÃO? ELES EXISTEM? Em seu editorial crítico a Fachin (ver nesta home), o
Estadão observa ser “natural que a visão de mundo de um magistrado,
necessariamente conformada por suas inclinações ideológicas, influa de
alguma forma em seu julgamento – e isso faz parte da condição humana,
constituindo, portanto, um elemento subjetivo inevitável (…)”. Pois é…
Mas, então,
vamos pensar. Se é natural que a visão de mundo interfira no juízo de um
magistrado, cumpre indagar: qual é a visão de mundo de Fachin?
Resposta: ele é um marxista empedernido, um adversário severo da
propriedade privada, um defensor do confisco de terras sem indenização,
um apologista da desapropriação de áreas produtivas, um defensor de
teses asquerosamente heterodoxas sobre direito de família, que avançam
na defesa da poligamia e da incorporação da figura do amante como parte
da estrutura familiar.
Reportagem
da Folha de domingo diz que as ideias “progressistas” de Fachin estão
criando dificuldades. O jornal emprega a palavra sem aspas, sem nada,
como um dado da realidade. Venham cá: quer dizer que os defensores da
propriedade privada, da legalidade e da família monogâmica são
“regressistas”? Quer dizer que o progresso está com a desapropriação de
terras produtivas? Com o confisco sem indenização de propriedades? A
Folha acha isso progressista só no campo ou defende o mesmo para as
cidades?
Que o PT se
alinhe com esse lixo ideológico, vá lá. Socialista, em sentido estrito, o
partido não é, mas tem muito claro que a destruição de valores
essenciais, que formam a sociedade brasileira, lhe é útil porque serve a
seu projeto autoritário. E o PSDB? Quer o quê?
Um leitor da Folha ficou zangado com a minha coluna no
jornal de sexta-feira, que criticou duramente Fachin. Acusa-me
tolamente de não respeitar a democracia, como se eu tivesse a intenção
de proibir Fachin de pensar o que pensa. Eu não! Ele é livre para
defender o que bem entender. Eu exerço o meu direito de achar que ele
não pode levar suas ideias ao Supremo.
Os dez
senadores tucanos não podem, sozinhos, barrar a indicação feita por
Dilma. Mas quem disse que estão sós? A questão é saber se vão ter a
coragem de dizer “não” a Fachin e aos valores que representa, que
agridem o povo brasileiro e a Constituição, ou se vão se dedicar às
mesuras de praxe, que humilham a República.
Uma pergunta
a Aécio Neves (MG), Aloysio Nunes (SP), Antonio Anastasia (MG), Cássio
Cunha Lima (PB), Flexa Ribeiro (PA), José Serra (SP), Lúcia Vânia (GO),
Paulo Bauer (SC) e Tasso Jereissati (CE): vocês vão aderir ao voto do
compadrio ou vão escolher um caminho que reafirma valores que são do
povo brasileiro e da Constituição?
No primeiro caso, endossem o nome do
Fachin e evidenciem por que o PSDB, de fato, não está à altura de
representar os anseios de uma esmagadora maioria do povo brasileiro que
hoje cobra que um partido de oposição vá além da simples crítica aos
corruptos. No segundo caso, há a chance de vocês marcarem um encontro
com os eleitores.
Sei,
reitero, que os tucanos não são os únicos senadores da Casa, mas a sua
passividade no caso de Fachin é dessas coisas irritantes,
incompreensíveis, desastradas, que traem de forma aberta e escancarada o
voto de milhões de brasileiros.
E, notem, se há coisa de que os eleitores já estão com o saco cheio, fiquem atentos, senhores tucanos, é de traidores.
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