02/09/2008
Luis Fernando Verissimo
Mais uma vez os adversários pinçam, maliciosamente,
uma frase do presidente para criticar.
No caso, a sua observação de que é
chato ser rico. Pois eu entendi a intenção do presidente. Ele estava
falando para pobres e preocupado em prepará-los para o fato de que não
vão ficar menos pobres e podem até ficar mais, no seu governo, e que
isso não é tão ruim assim. E eu concordo com o presidente.
Ser pobre é
muito mais divertido do que ser rico. Pobre vive amontoado em favelas,
quase em estado natural, numa alegre promiscuidade que rico só pode
invejar. Muitas vezes o pobre constrói sua própria casa, com papelão e
caixotes.
Quando é que um rico terá a mesma oportunidade de mexer assim
com o barro da vida, exercer sua criatividade e morar num lugar que pode
chamar de realmente seu, da sua autoria, pelo menos até ser despejado?
Que filho de rico verá um dia sua casa ser arrasada por um trator? Um
maravilhoso trator de verdade, não de brinquedo, ali, no seu quintal!
Todas as emoções que um filho de rico só tem em videogame o filho de
pobre tem ao vivo, olhando pela janela, só precisando cuidar para não
levar bala. Mais de um rico obrigado a esperar dez minutos para ser
atendido por um especialista, aqui ou no exterior, folheando uma
National Geographic de 1950, deve ter suspirado e pensado que se fosse
pobre aquilo não estaria acontecendo com ele.
Ele estaria numa fila de
hospital público desde madrugada, conversando animadamente com todos à
sua volta, lutando para manter seu lugar, xingando o funcionário que vem
avisar que as senhas acabaram e que é preciso voltar amanhã, e ainda
podendo assistir a uma visita teatral do Serra ao hospital, o que é
sempre divertido, em vez de se chateando daquela maneira.
E pior. Com
toda as suas privações, rico ainda sabe que vai viver muito mais do que
pobre, ainda mais neste modelo, e que seu tédio não terá fim. Éfe Agá
tem razão, é um inferno.
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