O GLOBO - 18/10
Na alternância cíclica entre autoritarismo e abertura política, o nacional-populismo aparece como atalho perigoso, que impede a reconstrução democrática
Na alternância cíclica entre autoritarismo e abertura política, o nacional-populismo aparece como atalho perigoso, que impede a reconstrução democrática
A América Latina, como mostra a História, é marcada por ciclos alternados de autoritarismo e abertura política. Infelizmente, não é raro que, ao sair de um regime ditatorial, o caminho à democracia plena se veja desviado perversamente por atalhos populistas, também autoritários, interrompendo o processo de reconstrução das instituições fundamentais da república.
Em nome de uma
ideia difusa de “libertação” ou da “defesa nacional" contra um inimigo
externo, adultera-se a democracia, intervém-se na economia,
personaliza-se o que é público, apadrinham-se segmentos da sociedade e
corrompem-se agentes do Estado e atores da sociedade, com alto custo
para o desenvolvimento político, econômico e social.
Argentina e Venezuela são hoje exemplos bastante típicos desse processo. Bolívia e Equador também, mas sem ainda enfrentar tantas dificuldades econômicas.
Com os bons ventos da economia internacional, expressos sobretudo na valorização dos preços das commodities, Buenos Aires e Caracas falaram grosso em nome do bolivarismo, categoria política incensada por Hugo Chávez, supostamente a favor do povo e contra o capital e o mercado. O kirchnerismo é da mesma família do bolivarianismo. Os dois países recorreram à retórica nacionalista dos regimes militares para intervir na economia: a Venezuela desapropriou e estatizou empresas; ambos controlaram preços e o câmbio; destruíram institutos de estatística econômica; se isolaram da economia global com políticas protecionistas; cortaram juros a canetadas; subsidiaram setores específicos; e aumentaram salários acima da produtividade real da economia.
Quando estourou a crise internacional em 2008 e os desequilíbrios de suas políticas econômicas bateram firme no bolso da sociedade, o lado autoritário desse nacional-populismo tomou a forma visível da repressão, para conter revoltas e coibir a decepção generalizada.
Argentina e Venezuela são hoje exemplos bastante típicos desse processo. Bolívia e Equador também, mas sem ainda enfrentar tantas dificuldades econômicas.
Com os bons ventos da economia internacional, expressos sobretudo na valorização dos preços das commodities, Buenos Aires e Caracas falaram grosso em nome do bolivarismo, categoria política incensada por Hugo Chávez, supostamente a favor do povo e contra o capital e o mercado. O kirchnerismo é da mesma família do bolivarianismo. Os dois países recorreram à retórica nacionalista dos regimes militares para intervir na economia: a Venezuela desapropriou e estatizou empresas; ambos controlaram preços e o câmbio; destruíram institutos de estatística econômica; se isolaram da economia global com políticas protecionistas; cortaram juros a canetadas; subsidiaram setores específicos; e aumentaram salários acima da produtividade real da economia.
Quando estourou a crise internacional em 2008 e os desequilíbrios de suas políticas econômicas bateram firme no bolso da sociedade, o lado autoritário desse nacional-populismo tomou a forma visível da repressão, para conter revoltas e coibir a decepção generalizada.
No caso
venezuelano, vê-se um país à beira de uma ditadura formal, com a prisão
de líderes da oposição, repressão violenta contra manifestantes,
cerceamento da imprensa, desequilíbrio entre os poderes, e todo tipo de
coerção contra candidatos às eleições parlamentares, cujo realização é
incerta. Na Argentina, assiste-se ao ataque contra a imprensa
profissional e até mesmo à morte mais que suspeita do procurador que
investigava a presidente Cristina Kirchner.
No Brasil, as
instituições republicanas mostraram até agora boa resistência às
tentativas de hegemonização política do lulopetismo, representante deste
nacional-populismo. Mas, no campo da economia, a adoção da “nova matriz
macreconômica” empurrou o país para o mesmo caminho de infortúnio dos
vizinhos bolivarianos.
O resultado, uma grave crise sem
perspectiva de solução a curto prazo, cobra seu preço sobretudo da
população mais pobre, inclusive aquele segmento que deixara
estatisticamente a pobreza absoluta e corre agora o risco de retroceder.
Por ironia, em nome de quem opera o populismo.
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