terça-feira, 29 de dezembro de 2015

É um absurdo: O fim de ano dos ladrões da Lava Jato e das famílias dos desempregados

É um absurdo: O fim de ano dos ladrões da Lava Jato


Por causa desses corruptos, e por causa dos corruptores que comandam a roubalheira há décadas, milhões de brasileiros não tiveram nada para colocar nas suas mesas nas ceias de Natal

Jornal do Brasil - 28/12/2015 - 02:42:15 
 
 
No ano em que o Papa Francisco enalteceu, durante missas de Natal, a misericórdia, criticando uma sociedade "intoxicada pelo consumo e pelo prazer, pela abundância e pelo luxo", e lembrando que o menino Jesus nasceu "na pobreza do mundo", um profundo e desconcertante contraste evidencia que ainda estamos longe de atingir este ideal. Neste fim de ano, enquanto milhares de famílias de desempregados mal tiveram a chance de celebrar o Natal, as família dos ladrões da Lava Jato aproveitaram fartas ceias em suas mansões. Pois são estes os ladrões que, com seus roubos, detonaram uma profunda crise econômica no país, que fez disparar os índices de desemprego. ...


Mansão de Pedro Barusco, na Joatinga


Na sexta-feira (25), os investigados da Lava Jato que ainda estão presos tiveram o direito a visita e a refeições especiais. Já os que tiveram o direito a passar as festas de fim de ano em suas casas, brindaram com caras champagnes e saborearam raras iguarias.

O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró foi um dos liberados. Ele viajou para o Rio, mas seu paradeiro não foi divulgado. Sabe-se que ele tem uma casa em Itaipava, onde passava boa parte dos seus dias nos fartos tempos de Petrobras. Apenas uma das denúncias contra Cerveró aponta recebimento de propina na ordem de US$ 40 milhões.

O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, que circula livremente apesar de admitir abertamente seus crimes, foi flagrado recentemente em um SPA em Petrópolis. Sequer usava tornozeleira, mas provocou a debandada de hóspedes, indignados com sua presença.

Somente nas contas de Barusco em paraísos fiscais, a Lava Jato encontrou US$ 61,5 milhões, que agora estão voltando aos cofres públicos. Neste Natal, é possível que Barusco tenha saboreado uma bela ceia em sua mansão, na elitizada Joatinga, na Barra.
 
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa já foi liberado até da prisão domiciliar e está em regime semiaberto diferenciado. Pode passar o dia fora de casa, sob monitoramento de tornozeleira eletrônica. Sabe-se que ele possui uma mansão em um condomínio de luxo na Barra, onde deve ter reunido a família. A Procuradoria Geral da República calcula em R$ 357 milhões o total de propina recebida por Costa e pelo Partido Progressista.


Casa de Paulo Roberto Costa (ao centro), na Barra da Tijuca

Estas são algumas das cifras que despontam nas investigações. Um buraco sem fundo, onde as únicas certezas são que há muito mais por vir, e que roubos nesta proporção levaram o país a uma grave crise econômica e a uma paralisia que coloca milhões de trabalhadores na rua.

Por causa desses corruptos, e por causa dos corruptores que comandam a roubalheira há décadas, milhões de brasileiros não tiveram nada para colocar nas suas mesas nas ceias de Natal. Não puderam sequer molhar um pão no leite, ou comer uma batata doce pensando que fosse castanha. Chega a ser cínico e hipócrita afirmar que as ceias dos ladrões da Lava Jato que permaneceram na prisão foi simples e sem luxo.

Enquanto isso, 16 milhões de brasileiros que perderam seus trabalhos passam as festas de Natal na "prisão" do desemprego, imobilizados, sem ter o que pôr na mesa, sem poder comprar presentes para seus filhos, à espera de um milagre de fim de ano.

A assistente social Lorena Magalhães, de 33 anos, é um exemplo disso. Demitida da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado do Rio, que passa por grave crise financeira, ela já vinha vivendo o drama dos salários e contas atrasados. "Não tenho mais como pagar o aluguel. Vou ter que entregar meu apartamento e voltar para a casa dos meus pais. Além disso, vou ter de parar um tratamento médico", diz Lorena.

Ela destaca que é apenas uma das milhares de trabalhadoras afetadas pelo escândalo da Lava Jato: "Enquanto eu sou obrigada a pedir dinheiro emprestado, pedir ajuda à família, enquanto eu não tenho condições de pagar um plano de saúde, quem provocou tudo isso está lindo, belo, maravilhoso, usufruindo do dinheiro desviado. Os grandões, os responsáveis, os que meteram a mão, os que roubaram estão aí, comendo bem, bebendo bem, vivendo bem. Esta é a grande realidade que estamos vivendo."

Para quem trabalha como autônomo, os sinais da crise também pesam no bolso. A cabeleireira Adriana Assis, que mora na Rocinha, conta que nos últimos cinco anos, nunca viveu momento tão difícil. "Nunca ganhei tão pouco como estou ganhando agora. Com essa crise não tá dando para pagar nada. O aluguel aumentou, o mercado aumentou. Tudo está caro e o dinheiro só sai, não entra nada."

Adriana ressalta que tem feito cortes no orçamento. "Tive que cortar os planos de saúde dos meus filhos. O pouco que ganho só dá pro aluguel e pra comer. Nunca vi um Natal com tanta dificuldade", disse, mostrando ainda sua resolva com os investigados pela Lava Jato:

"Enquanto isso, a gente vê que não se faz Justiça com os culpados pela nossa pobreza. Eles continuam ricos. Roubam e continuam tirando onda de carro, barco e cobertura. A gente que dá duro tem que pagar com nosso suor a culpa que foi deles, o roubo deles. É um absurdo, só no Brasil que vemos isso. Tinham que deixar eles pobres."

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