Dia Mundial pelo fim do Especismo: 22 de agosto, artigo
de José Eustáquio Diniz Alves
Publicado em agosto 19, 2015 por Redação
“A natureza não depende dos seres humanos,
os seres humanos dependem da natureza” – Conservation
International
“A questão não é: ‘eles podem raciocinar?’
Ou então, ‘eles podem falar?’
Mas, ‘eles podem sofrer?’” – Jeremy Bentham
“É absurdo pensar que uma sociedade que oprime animais
será capaz de se tornar numa sociedade que não oprime
pessoas” – Brian A. Dominick
“A libertação animal também é uma libertação humana”
– Peter Singer
[EcoDebate]
As sociedades humanas já criaram mecanismos para defender os direitos humanos e
combater o Classismo, o Sexismo, o Escravismo, o Racismo, o Xenofobismo e o
Homofobismo. Numa perspectiva antropocêntrica, as discriminações de humanos
contra humanos são condenadas do ponto de vista econômico, social e ético. Mas
os seres humanos continuam não reconhecendo os direitos da natureza e das
demais espécies vivas da Terra. O homo sapiens se desenvolveu dominando
e explorando o meio ambiente e destruindo os ecossistemas, esquecendo-se que a
destruição da natureza é a destruição do habitat humano.
Os seres humanos se acham no direito de domesticar,
aprisionar, explorar, segregar, escravizar, discriminar, matar e até torturar
outros animais sencientes fora da raça humana. Os seres humanos criaram uma
artificial diferença entre animais racionais e não racionais, estabelecendo uma
distinção moral entre humanos e não humanos, onde só os primeiros seriam
sujeitos de direito.
Contudo, esta auto-propalada inteligência não passa de uma
ideologia para defender os privilégios de uma espécie sobre as demais espécies
do Planeta. Na verdade o ser humano é um predador contumaz que não tem uma
relação simbiótica com a natureza, como, por exemplo, as abelhas que vivificam
as flores quando buscam a riqueza do néctar.
As abelhas ajudam a multiplicar as plantas e a difundir a
biodiversidade na medida em que são os agentes de polinização da flora
angiosperma (angeios = bolsa, e sperma = semente). O aumento das plantas com
raiz, caule, folha, flor, semente e fruto ocorreu com o aumento das abelhas,
borboletas, mariposas, passarinhos, etc. O enxame de insetos e aves
polinizadoras é bom para a flora e os ecossistemas, enquanto que o enxame
humano (e suas atividades antrópicas “extrai-produz-descarta”) é ruim para os
insetos, a flora, as flores e a natureza.
O antropocentrismo acha incorreto usar a expressão “enxame
humano” ou o termo “somos todos macacos”. A ideologia antropocêntrica considera
que é um insulto comparar o ser humano aos animais. Quando ficam indignados com
alguma injustiça, dizem: “Nem animal a gente trata assim”. Como se fosse justo
tratar os animais com a crueldade que deveria ser banida do reino humano.
Dieta Vegetariana
Quase 70 bilhões de animais terrestres são mortos todos os
anos para alimentar os cerca de 7 bilhões de seres humanos. São cerca de 10
animais mortos, anualmente, para cada pessoa. Segundo a FAO, a criação de
animais domesticados, no mundo, a serviço do apetite do homo sapiens,
atinge cerca de 200 milhões de búfalos, 800 milhões de cabritos, 1 bilhão de
porcos, 1,1 bilhão de ovelhas, 1,45 bilhão de bovinos e dezenas de bilhões de
galinhas. A pecuária ocupa 26% da superfície terrestre global. O Brasil tem o
maior rebanho bovino do mundo, com cerca de 215 milhões de cabeças (mais gado
do que gente).
O impacto da população de ruminantes, especialmente bovinos,
sobre o meio ambiente é muito grande. O metano liberado a partir dos sistemas
digestivos dos animais criados pela pecuária é responsável por 14,5% de todos
os gases de efeito estufa emitidos pelas atividades antrópicas. O gás metano é
cerca de 30 vezes mais potente que o efeito do dióxido de carbono no
aquecimento do planeta (um boi gera 58 quilos de metano por ano). Portanto, a
escravidão animal é ruim para a espécie escravizada e para a espécie
escravocrata.
O consumo anual médio per capita de carne no mundo desenvolvido
foi de cerca de 80 quilos em 2012 e está projetado para crescer para 89 quilos
em 2030. Enquanto isso, no mundo em desenvolvimento foi de 32 quilos em 2012,
projetado para crescer para 37 em 2030. Se gasta 15 mil litros de água para
produzir um quilo de carne. Além de ser ruim para o meio ambiente, o consumo de
carne também afeta a saúde humana. Segundo um estudo feito na Universidade da
Califórnia, publicado no periódico JAMA Internal Medicine, as pessoas que não
comem carne têm mais chances de ter uma vida longa, se comparadas com aquelas
que têm uma dieta “carnívora”. Portanto, evitar a matança animal pode melhorar
a qualidade de vida humana.
Sidarta Gautama (nascido por volta de 563 a.C. a 483 a.C.),
o Buda, era vegetariano e defendia o direito dos animais. Pitágoras também era
vegetariano. Vem de longe a defesa de uma dieta livre de carnes e o respeito
aos animais. O vegetarianismo tem sua origem na tradição filosófica indiana,
que chega ao Ocidente na doutrina pitagórica. Nas raízes indianas e pitagóricas
do vegetarianismo, são ligadas a noção de pureza e contaminação, não
correspondendo com a visão de respeito aos animais, como na doutrina budista e
outras mais recentes. Por exemplo, eram também vegetarianos: Mahavira, Asoka,
Empédocles, Plutarco, Porfírio, Ovídio, São Ricardo de Wyche, Leonardo da
Vinci, John Ray, Thomas Tryon, Bernard Mandeville, Alexander Pope, Isaac
Newton, Voltaire, George Cheyne, David Hartley, Oliver Goldsmith, Joseph
Ritson, Lewis Gompertz, Ellen White, Johnny Appleseed, Percy Bysshe Shelley,
Alphonse de Lamartine, Amos Bronson Alcott, William Alcott, Gustav Struve,
Georg Friedrich Daumer, Richard Wagner, Liev Tolstoi,George Bernard Shaw,
Romain Rolland, Élisée Reclus, Mahatma Gandhi, Franz Kafka, Isaac Bashevis Singer,
Albert Einstein, entre muitos outros (Wikipedia).
Libertação animal
Peter Singer, no livro Libertação animal (1975) define o
especismo como a discriminação contra certos seres baseada apenas no fato de
estes pertencerem a uma dada espécie. O autor teve uma influência
fundamental no movimento de Libertação Animal. Ele considera que todos os seres
que são capazes de sofrer devem ter seus interesses considerados de forma
igualitária e conclui que o uso de animais – nos moldes atuais – para
alimentação é injustificável, já que cria sofrimento desnecessário. Assim
sendo, ele considera que o vegetarianismo é a única dieta aceitável. Singer
condena também a vivissecção, apesar de acreditar que algumas experiências com
animais poderão ser realizadas se o benefício (por exemplo, avanços em
tratamentos médicos, etc.) for maior que o mal causado aos animais em causa
(Wikipedia).
Segundo Rodrigo Andrade, O abolicionismo animal é uma
corrente de pensamento e militância que pretende livrar a fauna da escravidão.
O que significa isso? Não comer nenhum produto de origem animal, não usar
animais para nossa diversão nem para nossas pesquisas científicas, nem para
vestimenta. É contra os zoológicos, as corridas de cavalo, os rodeios, as
touradas, etc. O Abolicionismo é uma abordagem dos direitos animais que: 1)
Requer a abolição da exploração animal e rejeita a regulação da exploração
animal; 2) É baseada apenas na senciência animal e em nenhuma outra
característica cognitiva; 3) Considera o veganismo a base moral da posição dos
direitos animais e; 4) Rejeita toda violência e promove um ativismo em forma de
educação vegana não violenta e criativa.
Ainda segundo Rodrigo Andrade o que o ser humano fez de ruim
com escravos humanos não chega perto dos horrores do que se faz com os animais.
Escravos faziam trabalhos forçados, apanhavam quando desobedeciam ordens. Isso
já é ruim o suficiente. Mas esses homens não eram brutalmente mortos para
servir de alimento. Não eram obrigados a se exibir em rodeios para bêbados
sádicos. Não passavam suas vidas em gaiolas sendo inoculados com doenças para
pesquisas médicas. Não tinham a pele arrancada ainda em vida para virar um
casaco. Escravidão é uma palavra fraca para o que se faz aos animais. Eles
estão um degrau abaixo: são objetos.
A caça e a matança de animais selvagens
A humanidade está provocando a 6ª extinção em massa das
espécies, gerando um grande desequilíbrio entre as áreas ecúmenas e anecúmenas
no mundo. Milhares de elefantes são mortos cruelmente todos os anos para que
alguns poucos humanos possam lucrar com o comércio de marfim e outros tantos
humanos possam lucrar com a compra e venda de joias de marfim e objetos de
decoração fabricados a partir das presas e do sacrifício de um dos animais mais
fantásticos do Planeta. Centenas de rinocerontes são abatidos covardemente
todos os anos para alimentar o comércio apenas do chifre, cujo preço no mercado
negro vale mais que o ouro, chegando a 50.000 euros por quilo. Os criminosos
cortam os chifres dos animais e vendem como remédio para diversos tipos de
doença ou como porções afrodisíacas na China e no Sudeste Asiático.
A caça de animais selvagens é uma injustiça e uma covardia.
O caso de maior repercussão ocorreu em julho de 2015, quando o leão Cecil,
famoso espécime do Zimbábue, foi ilegalmente atraído para fora de uma área de
proteção e morto simplesmente por diversão sádica. Estima-se que foi pago US$55
mil pela cabeça do animal, que tinha 13 anos, e era famoso por ficar tranquilo
em fotos. Cecil usava um rastreador GPS em uma coleira para que caçadores não
pudessem afastá-lo da área de proteção – mas o equipamento foi retirado
justamente pelos seus assassinos. Ele foi atingido, primeiramente, por uma flexa,
caçado durante uma perseguição de 40 horas e, por fim, morto com um disparo de
arma. O responsável por este crime cruel é um dentista de Minessota chamado
Walter Palmer. O americano é um caçador que está sendo procurado – mas, na
internet, está sendo objeto de críticas e tratado como um representante do que
há de pior na raça humana.
A morte do leão Cecil é um ato de barbárie que se soma a
morte de tantos outros leões, tigres, elefantes, rinocerontes, gorilas, etc.
Enquanto cresce a população humana, diminui a população animal, com uma redução
drástica da biodiversidade. Desde que foi noticiado o assassinato de Cecil,
ocorreu também a morte de um dos últimos cinco rinocerontes-brancos do norte
existentes no planeta, restando portanto apenas quatro antes da extinção
definitiva dessa subespécie. Assim, as únicas populações animais que crescem
são aquelas confinadas e escravizadas com a finalidade de ir para os
abatedouros, para enriquecer de proteínas a dieta humana.
Não há imperativo ético que justifique a crueldade contra os
animais. Toda construção ideativa que tenta estabelecer uma distinção moral
entre animais humanos e não humanos e dar direitos somente a uma espécie
senciente, cai na armadilha da discriminação de espécie, o que é designado por
especismo.
A racionalidade que justifica o especismo é também a que
justifica a discriminação e a opressão de grupos sociais minoritários ou
considerados inferiores. A ideologia que legitima o Especismo é a mesma que
ratifica o Classismo, o Sexismo, o Escravismo, o Racismo, o Xenofobismo e o
Homofobismo.
Um trabalhador que reivindica direitos trabalhistas, uma
mulher que protesta contra a violência de gênero, um escravo que busca a carta
de alforria, raças discriminadas que lutam contra o racismo, migrantes que
protestam contra a xenofobia, homossexuais e transgêneros que reclamam da
homofobia – todos juntos – deveriam unir forças na mobilização contra o
especismo. A libertação animal também a libertação das minorias e das maiorias
humanas. Todas as pessoas, em suas diferentes identidades e inserções sociais,
deveriam participar das atividades, no dia 22 de agosto, do DIA MUNDIAL CONTRA
O ESPECÍSMO.
Referência:
ALVES, JED. Demografia, Democracia e Direitos Humanos, Texto
Discussão n. 18, ENCE/IBGE, RJ, 2005
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