segunda-feira, 28 de março de 2016

Mudanças climáticas podem ser responsáveis pelo surgimento de animais híbridos e inférteis‏

CONTEÚDO ANDA

27 de março de 2016 às 16:00

Por Anissa Putois/One Green Planet (Tradução: Monika Schorr/ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais)
Foto: Flickr/Stefan David
Foto: Flickr/Stefan David


LIgres, zebralos, cockerpeis e labradoodles são apenas alguns dos animais híbridos criados em cativeiro pelos humanos. Os dois primeiros, resultado do cruzamento entre tigre e leão e entre zebra e cavalo, respectivamente, são exemplos de animais híbridos criados em zoológicos e expostos como atração pública, enquanto os dois últimos, mistura de cocker com sharpei e de labrador com poodle, são apenas dois exemplos da imensa gama de miscigenação entre raças de cães projetada pelos criadores inescrupulosos para gerar lucro e fazer desses cães “objeto de desejo” de pessoas desavisadas.

É muito triste constatar que esses animais híbridos quase sempre apresentam graves problemas de saúde.


O que vem chamando a atenção, é que a hibridação pode acontecer, de forma espontânea, fora do ambiente de cativeiro. O impacto da atividade humana pode ter como consequência indireta o surgimento de animais híbridos. Em 2006, um urso branco com manchas marrons foi avistado no Ártico. Acredita-se que ele seja fruto da reprodução entre um urso polar e um urso pardo. Três anos depois, um animal, supostamente um híbrido de baleia-franca-austral com baleia-da-groenlândia, foi fotografado no mar de Bering.


À primeira vista, esses híbridos podem parecer “fofos” e induzir as pessoas a criar nomes divertidos para eles, como por exemplo, “urso grolar”, para a mistura entre o urso polar e o urso pardo, mas essa hibridação pode significar um desastre para as espécies e os ecossistemas dos quais fazem parte.


O que os ursos “grolar” têm a ver com as mudanças climáticas
Pesquisadores acreditam que o aumento de animais híbridos na natureza é uma dentre as muitas consequências alarmantes das alterações climáticas em todo mundo. Já é amplamente aceito, pela comunidade científica, que a intensificação global da atividade humana e o padrão insustentável de consumo estão causando as mudanças climáticas.


Especialmente afetado por esse fenômeno, o aquecimento do Ártico é de duas a quatro vezes mais rápido que o do resto do planeta, o que provoca o derretimento das geleiras e da calota polar e o aumento do nível do mar. Essas alterações do aspecto físico natural do Ártico fazem com que animais endêmicos da região sejam obrigados a percorrer distâncias maiores, ampliando seu território e fazendo com que encontrem espécies com as quais, de outra forma, jamais teriam contato.


Ursos polares costumam ser símbolo das graves consequências das mudanças climáticas. Nossa exploração desenfreada dos recursos naturais tem deixado esses ursos esqueléticos e ilhados em minguantes blocos de gelo ou vagando pelas cidades, desesperados por alimento. Na verdade, estima-se que a elevação das temperaturas cause o desaparecimento de cerca de três milhões e meio de hectares, ao ano, do habitat do urso polar. Foçados a se deslocar para o sul devido ao derretimento do gelo, acabam por encontrar os ursos pardos e acasalando-se com eles.

Ursos não são os únicos animais afetados. Em 2010, um artigo publicado na revista científica Nature relacionou mais de 30 espécies que correm risco de hibridação por causa das mudanças climáticas. O artigo afirma que “a diminuição do gelo na superfície da terra faz com que haja sobreposição geográfica e que diferentes populações de animais fiquem em contato próximo” e enumera vários exemplos onde esse fato foi constatado.

Híbridos de baleia-branca e baleias narval já foram localizados, assim como os descendentes de duas subespécies de focas: foca da groenlândia e foca de crista. Também foram encontrados híbridos de toninha comum e boto de dall, espécies que, naturalmente, deveriam habitar regiões geográficas diferentes. O artigo destaca que a grande procriação de híbridos levou ao declínio da população da toninha comum. O surgimento de animais híbridos na natureza é uma mudança biológica bastante preocupante e que pode levar algumas espécies à extinção.


Os perigos da hibridação
Até certo ponto, a hibridação é um fenômeno que ocorre de forma espontânea na natureza e muitos grupos de animais desenvolveram um amplo espectro de características particulares em sua aparência física, comportamento, sinais e sons de acasalamento, especificamente para evitar o cruzamento entre espécies distintas.


Além disso, populações mais estreitamente relacionadas entre si vivem, frequentemente, em habitats que ocupam diferentes áreas geográficas, para evitar o cruzamento interespécies. Lamentavelmente, “a atividade humana pode romper as barreiras que separam as espécies”.



A hibridação pode prejudicar gravemente a biodiversidade por causar a extinção de espécies, uma vez que a maioria dos animais híbridos são estéreis. “Mas há um aspecto ainda mais ameaçador para a preservação das espécies: os híbridos com capacidade de reprodução”, segundo estudo da Universidade de Missouri.



A pesquisa cita o exemplo da deslocada coruja barrada do meio-oeste, que se estabeleceu na floresta que é lar da coruja pintada, ameaçada de extinção. As duas espécies acasalaram e procriaram uma espécie de coruja que disputa o habitat e que pode deflagrar a extinção da coruja pintada. Híbridos podem, assim, contribuir com a perda da diversidade genética.



Além do mais, ao contrário das espécies das quais se originaram, eles não estão sob a proteção da Lei de Espécies Ameaçadas.



Outra consequência negativa do cruzamento entre espécies diferentes é uma potencial vulnerabilidade do animal híbrido. Animais desenvolvem genes específicos que lhes permitem viver em determinados habitats. Sharon Guynup, da Universidade de Missouri, explica que esses genes são uma “espécie de obstáculo criado pela natureza para controlar a reprodução e agem como salvaguardas para proteger as espécies e ajudá-las a se adaptar ao seu ambiente”.



Quando esses genes são misturados através do acasalamento interespécies, características específicas necessárias à sobrevivência podem ser eliminadas, gerando animais com condições insuficientes para se adaptar ao novo habitat.



Semelhante aos animais geneticamente modificados, os quais apresentam uma vasta gama de problemas de saúde, híbridos nascidos na natureza podem desenvolver cegueira, coração e demais órgãos deficientes e outras tantas doenças debilitantes, o que faz com que tenham uma curta expectativa de vida.



O que podemos fazer
Ao destruir as barreiras naturais entre espécies, as mudanças climáticas podem originar consequências deletérias como o surgimento de animais híbridos inférteis, mal adaptados ao ambiente ou fracos e deformados. Esses híbridos podem significar o aniquilamento de uma ou de ambas as espécies que os originaram e de seus ecossistemas em desequilíbrio.



O urso “grolar” e outros híbridos são apenas a ponta do iceberg que está derretendo. Os perigos das mudanças climáticas são enormes. Enquanto algumas espécies aparentadas acasalam entre si, outras lutam e se matam como predador e presa na tentativa de conseguir alimento, por causa da perda de seus habitats. Condições climáticas extremas, inundações, países insulares que correm o risco de submergir, recifes de coral ameaçados de desaparecer, a extinção de centenas de espécies de aves e espécies marinhas, assim como de alimentos dos quais dependemos são alguns dos riscos adicionais para nosso planeta.



No cerne dessa séria questão estão a emissão de gases de efeito estufa e as atividades humanas que os provocam. Embora a perspectiva de reduzir a emissão desses gases possa ser desencorajadora, cada um de nós tem uma extraordinária oportunidade para começar a reduzir a emissão de dióxido de carbono. Não há dúvida quanto à necessidade de regulamentação governamental para controlar a emissão de gases de efeito estufa pelas indústrias, mas cada indivíduo pode causar um enorme impacto ambiental positivo através de simples mudanças de hábitos diários.


As pessoas estão mudando comportamentos a cada dia, como ir ao trabalho de bicicleta em vez de com o carro, levar embalagens plásticas para reciclagem e ficando cada vez mais conscientes sobre o impacto de seu estilo de consumo. Dentre essas pequenas atitudes, a mais simples delas é a que pode ter um gigantesco impacto no planeta na redução do efeito estufa: mudança de hábitos alimentares.



Cada vez que nos sentamos à mesa para fazer uma refeição, temos a chance de reduzir nossa pegada de carbono. Ao deixar de ingerir carnes e laticínios e ao adotar uma dieta baseada em vegetais, podemos reduzir pela metade nossa pegada de carbono. Sim, pela metade!

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que a criação de gado é responsável por 14,5 por cento da emissão global dos gases de efeito estufa, enquanto outras organizações, como o Worldwatch Institute, calculam que esse valor deva ser da ordem de 51 por cento.

A One Green Planet acredita que nosso sistema alimentar global, dominado pela pecuária é o centro da crise ambiental, uma vez que esse sistema causa poluição do ar e da água, degradação do solo, desmatamento e está deixando em seu rastro um incontável número de espécies à beira da extinção.

Como organização de vanguarda no movimento pelo consumo consciente, a One Green Planet entende que nossas escolhas dietéticas têm o poder de sanar nosso combalido sistema alimentar, de dar às espécies animais a chance de lutar pela sua sobrevivência e de abrir caminho para um futuro que seja verdadeiramente sustentável.

Escolhendo uma alimentação cuja base são os vegetais, podemos reduzir drasticamente nossa pegada de carbono e ajudar a preservar a vida animal. Para saber mais sobre como começar a salvar o planeta já na próxima refeição, junte-se à campanha eatfortheplanet.

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