sexta-feira, 3 de junho de 2016
Investimento é para restaurar 12 milhões de hectares até 2030, conforme
plano anunciado pelo Brasil para o Acordo de Paris; cumprir objetivo
pode gerar até 215 mil empregos, diz Instituto Escolhas
do Observatório do Clima
Em setembro do ano passado, quando lançou a meta brasileira para o
Acordo de Paris, a presidente Dilma Rousseff foi questionada por
jornalistas sobre o custo de implantação de uma das medidas anunciadas
no plano, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas
até 2030. Dilma respondeu com a candura habitual: “Se alguém tiver esse
cálculo complexo de quanto vamos gastar, me passe”. Está na mão,
presidente. Cumprir a meta custará, em 14 anos, algo entre R$ 31 bilhões
e R$ 52 bilhões.
Os números foram produzidos pelo Instituto Escolhas, como parte de um
pacote de estudos sobre o financiamento das metas climáticas
brasileiras. Eles foram divulgados nesta quinta-feira pela Coalizão
Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que encomendou as contas ao
Escolhas e à Fundação Getúlio Vargas.
A meta de 12 milhões de hectares de restauração, regeneração e replantio
é uma das principais medidas anunciadas pelo Brasil para cumprir a INDC
(Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida), segundo a qual o
Brasil se compromete a cortar 37% das emissões em 2025 e 43% em 2030 em
relação a 2025. O número deriva do Plano Nacional de Recuperação da
Vegetação Nativa, o Planaveg, e corresponde a cerca de metade do passivo
florestal que precisa ser restaurado no Brasil segundo o novo Código
Florestal.
Até agora, porém, não havia estimativa do custo do cumprimento dessa
medida. O setor produtivo tem dito que a meta é ambiciosa demais, uma
vez que os custos de recuperação de um hectare de floresta nativa podem
ultrapassar facilmente os R$ 25 mil na Mata Atlântica – e o país precisa
reflorestar o equivalente a uma Inglaterra.
O estudo do Escolhas, coordenado pelos físicos Shigueo Watanabe Jr. e
Roberto Kishinami, buscou destrinchar esses custos considerando que a
recuperação seria feita nas áreas de reserva legal, que podem ser
exploradas economicamente pelos produtores rurais (extraindo madeira,
por exemplo), e apenas na Amazônia e na Mata Atlântica. Também foi
considerado que o plantio de espécies nativas pode ser feito em
consórcio com espécies exóticas como o eucalipto, algo permitido pelo
Código Florestal.
Eles testaram um modelo econômico seguindo proporções diferentes de
regeneração natural, plantio direto de nativas e exóticas e o chamado
“adensamento e enriquecimento”, ou o plantio seletivo de espécies
nativas de interesse comercial.
A conta mais barata, de R$ 31 bilhões, considera que 60% da área a
recuperar será regenerada naturalmente – algo que diminui a
possibilidade de ganho econômico dos produtores. O valor mais alto surge
com 40% de regeneração, 30% de plantio e 30% de adensamento.
Se R$ 52 bilhões parecem muito dinheiro, Watanabe relativiza: em
entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, ele lembra que o dinheiro
seria investido em 14 anos e que, só neste ano, o Plano Safra – o
crédito à agropecuária – deve chegar a R$ 200 bilhões.
Além disso, o cumprimento da meta criaria um novo setor na economia
brasileira, o de recuperação florestal, que poderia gerar até R$ 6,4
bilhões em impostos no período e 215 mil empregos.
“A floresta recuperada será fonte, ainda, de atividades econômicas, por
meio das cadeias produtivas dos seus produtos, movimentando dezenas de
bilhões de dólares nas próximas décadas”, escreveram os autores. “Com
isso, o Brasil, ao contribuir para o combate às mudanças climáticas
globais,
tem a possibilidade de dinamizar sua economia ao mesmo tempo em
que se beneficia de efeitos como
a diminuição de sua exposição a crises
hídricas.”
INVERTENDO O SINAL
Outro estudo encomendado pela Coalizão Brasil e coordenado por Mario
Monzoni, do Centro de Estudos de Sustentabilidade da FGV, tenta calcular
os custos e os benefícios da meta mais ambiciosa da INDC: recuperar 15
milhões de pastagens degradadas até 2030, considerando que outros 15
milhões deverão ser recuperados até 2020 de acordo com o Plano ABC
(Agricultura de Baixa Emissão de Carbono).
A má notícia é que, considerando apenas as condições de crédito e de
negócios atuais, a pecuária sustentável não é viável economicamente. A
boa é que, se o país descobrir como financiar a atividade, o ganho no
PIB em 2030 poderá ser de R$ 145 bilhões e mais de 6 milhões de
ocupações seriam criadas. “O sucesso nas iniciativas de integração dos
sistemas agropecuário e florestal e na recuperação de pastagens pode
impulsionar o Brasil à posição de protagonista global da economia
sustentável. É um tema importantíssimo na agenda de um país em que o
agronegócio responde por 23% do PIB e por 40% das exportações”, conclui
Annelise Vendramini, coordenadora de pesquisa em clima e finanças
sustentáveis no GVCES.
“O alcance das metas indica uma inversão do sinal de carbono do setor
agropecuário no período de 15 anos. O ganho ambiental pode ainda
potencializar a competitividade do Brasil diante das exigências de
mercados internacionais que buscam uma oferta de carne com sua pegada
neutralizada”, afirma o estudo.
Fonte: Envolverde
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