“É triste pensar que a natureza fala e que o ser humano não a ouve”
Victor Hugo
“Por mim ficaria contente se todos os prados do mundo ficassem em estado selvagem
como consequência das iniciativas dos homens para se redimirem”
Henry Thoreau
A economia depende da ecologia e não o contrário. Mas nos últimos 250 anos o crescimento demoeconômico ultrapassou todos os limites do razoável e não respeitou nada. O ser humanou ocupou e dominou todos os cantos do planeta, seja na terra, na água ou no ar. Não há mais áreas intocadas. Nenhum espaço e nenhuma espécie está livre da egoística presença humana.
Existe um “imperialismo” de homens e mulheres sobre a vida mineral,
vegetal e animal do Planeta. O ser humano criou, progressivamente, um
processo sistemático de colonização, domesticação, dominação e
exploração da natureza livre. A humanidade se apropriou dos recursos
naturais e revolveu o solo e o subsolo extraindo minério de ferro,
bauxita, cobre, nióbio, manganês, quartzo, ouro, etc. Avançou sobre as
florestas e desmatou milhões de hectares de matas virgens e indefesas.
Represou, enterrou e poluiu os rios. Abusou dos fertilizantes e
agrotóxicos, ampliando os níveis de fosfatos e nitratos, o que provoca o
acúmulo de matéria orgânica em decomposição e a eutrofização dos solos e
das águas. Ocupou amplas extensões de terra a serviço da agricultura e
da pecuária.
Áreas verdes viraram desertos e, em alguns casos, a diversidade biológica das matas foram convertidas em desertos verdes pela monocultura extrativista. Bilhões de seres ingênuos e indefesos foram escravizados, passando a vida confinados e sofrendo na engorda e na morte, para satisfazer o insaciável apetite humano.
Áreas verdes viraram desertos e, em alguns casos, a diversidade biológica das matas foram convertidas em desertos verdes pela monocultura extrativista. Bilhões de seres ingênuos e indefesos foram escravizados, passando a vida confinados e sofrendo na engorda e na morte, para satisfazer o insaciável apetite humano.
Em busca de energia extrassomática, a economia queimou, em pouco mais de
um século, os recursos fósseis que a natureza gastou milhões de anos
para produzir e liberou o CO2 que foi acumulado no solo e nos oceanos,
gerando acidificação, e na atmosfera, agravando o efeito estufa e o
aquecimento global.
Nos próximos 100 anos a temperatura da Terra pode
atingir um nível superior ao alcançado nos últimos 5 milhões de anos.
Isto vai provocar o aumento do nível dos oceanos ameaçando a vida
costeira e a atual integridade dos litorais. O ser humano alterou não
somente a química da biosfera, mas influiu nas correntes marítimas e no
fluxo dos ventos.
Com isto cresce o perigo dos super-furacões, dos
ciclones, das inundações, das secas e dos eventos climáticos extremos.
Uma em cada cinco espécies de plantas do mundo está em risco de
extinção. Nunca as mudanças físicas da Terra passaram por uma mudança
tão rápida e tão negativa para a saúde dos ecossistemas e a vida
selvagem. A humanidade ampliou exageradamente as áreas ecúmenas e
reduziu perigosamente as áreas anecúmenas.
Herman Daly (2014), no diagrama abaixo, mostra que a economia é um
subsistema aberto que está dentro de uma ecosfera que é finita, não
cresce e é materialmente fechada (embora receba energia vinda do sol).
Quando a economia cresce, em termos físicos, incorpora matérias e
energia da ecosfera para dentro de si própria. Pela 1ª Lei da
Termodinâmica, há um desvio do uso natural dos materiais e energia para o
uso antrópico. Assim, cria-se um óbvio dilema físico entre o
crescimento da economia e a preservação do meio ambiente.
Não dá para o subsistema crescer mais do que o sistema. Para conciliar a
economia com a ecologia é preciso caminhar para um Estado Estacionário
(como definiu John Stuart Mill, em 1848). Na primeira figura a economia
cresce de maneira desregrada e tende a destruir o meio ambiente, o que
leva à destruição da própria economia.
Na segunda figura a economia
diminui rapidamente e, no limite, pode zerar sua presença na biosfera.
Na terceira figura existe um equilíbrio entre a economia e a ecologia,
com uma taxa de transferência equilibrada, com o uso de recursos
materiais e energia sendo capazes de serem reciclados de forma a
diminuir a entropia.
O crescimento das atividades antrópicas nos últimos 250 anos mudou a
correlação de forças no Planeta, aumentando a proporção da presença
humana (planeta cheio) e diminuindo a proporção das demais espécies e da
biocapacidade (planeta vazio). Herman Daly mostra que o crescimento
econômico está ficando deseconômico e a natureza degradada já não
fornece tantos serviços ecossistêmicos.
A solução atual passa pelo decrescimento das atividades humanas até o
ponto que haja um equilíbrio sustentável entre a pegada ecológica e a
biocapacidade. Portanto, é preciso reduzir a dimensão do modelo
“extrai-produz-descarta”, para que as atividades antrópicas caibam
dentro das Fronteiras Planetárias e para estabelecer um “espaço seguro e
justo para a humanidade”, respeitando os ecossistemas e o equilíbrio
entre as áreas ecúmenas e anecúmenas. Tudo na natureza tem valor de
existência intrínseco. O Planeta não pode ser banalizado pela
racionalidade instrumental da sociedade anônima que precifica todos os
“bens” ecossistêmicos.
O mundo cheio precisa decrescer até atingir o Estado Estacionário, para
alcançar convivência respeitosa entre os humanos, as espécies
não-humanas e tudo que é inumano, mas tem direito à existência.
Referências:
ALVES, JED. O crescimento das atividades antrópicas e o fluxo metabólico entrópico. Ecodebate, RJ, 10/06/2015
ALVES, JED. Dia Mundial do Meio Ambiente: vergonha de ser humano. Ecodebate, RJ, 04/06/2014
Damian Carrington. One in five of world’s plant species at risk of extinction, The Guardian, 10/05/2016
“Cowspiracy: o segredo da sustentabilidade”, Kip Andersen e Keegan Kuhn, 2014
Home, Yann Arthus-Bertrand, 2009
Herman Daly, Economics for a full world, 2014
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em
demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências
Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter
pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate
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