quinta-feira, 21 de julho de 2016
O secretário do Ambiente do estado do Rio de Janeiro, André Correa,
disse ontem (20) que não é possível deixar a Baía de Guanabara em
condições adequadas em menos de 25 anos. Correa concedeu entrevista
coletiva ao lado de uma ecobarreira no Rio Meriti e afirmou que a meta
de “despoluir 80% da baía até a Olimpíada” era “muito ousada e mal
colocada”, pelo que ele avaliou como um erro de comunicação.
“Qualquer pessoa que disser que essa baía estará em condições
ambientalmente adequadas em menos de 25 ou 30 anos está mentindo. Não
vamos fazer isso no curto prazo”, admitiu.
O secretário afirmou que apenas para resolver os problemas de despejo de
esgoto na Baía de Guanabara seriam necessários mais R$ 20 bilhões para
executar os planos municipais de saneamento das cidades que circulam a
baía.
“Estamos falando apenas de esgoto. Só de universalizar e impedir que a
carga orgânica chegue na baía”, disse ele, acrescentando que rejeitos
industriais, resíduos sólidos e vazamento de óleo de navios também
poluem a baía.
Correa informou que erros de planejamento e de comunicação fizeram com
que o governo caísse em descrédito com a população sobre o tema. Ele
lembrou que há 20 anos, quando o governo do estado obteve um empréstimo
de R$ 2,5 bilhões, houve a promessa de que essa quantia seria suficiente
para solucionar o problema, o que não ocorreu.
Depois, ao assumir compromissos olímpicos, o estado prometeu despoluir
80% da baía. “A gente colocou uma meta que era muito ousada, de ter a
baía 80% despoluída e ninguém sabe explicar o que é esse 80%, se é de
carga orgânica ou se não é. Ficou uma coisa muito mal colocada e que só
contribuiu para esse descrédito original.”
Em crise, o governo do estado não tem, segundo o secretário, condições
de arcar com os R$ 20 bilhões necessários.
Para Correa, a única solução seria recorrer a parcerias público- privadas, o que também pode ser difícil pela situação econômica do país. “É a única saída que a gente tem. O estado não tem recursos para fazer isso”.
Para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, no entanto, o secretário afirmou
que a qualidade da água não preocupa, porque as quatro raias de
competição no interior da baía têm condições próprias para o contato
humano.
“Isso não é mérito do governo. É a natureza que faz ali uma grande troca
do mar”, disse. A partir de hoje, as condições da água serão medidas
diariamente e divulgadas 48 horas depois, o que deve se estender até o
fim da Paralimpíada.
A Secretaria Estadual do Ambiente informou que, mesmo na Marina da
Glória, de onde saem os barcos dos velejadores, as intervenções feitas
para os jogos conseguiram garantir que a água tenha boas condições.
Lixo flutuante
Ameaça ao desempenho dos competidores, o lixo flutuante tem sido
combatido com 17 ecobarreiras e 13 ecobarcos. Cerca de 2,4 mil toneladas
foram impedidas de chegar à baía em seis meses, com dez ecobarreiras
instaladas e uma média mensal de 45 toneladas foi coletada pelos
ecobarcos. Mesmo assim, André Correa afirmou que não é possível garantir
que o lixo não cause problemas durante a competição.
“A probabilidade de isso acontecer é muito baixa, mas não seria leviano
de garantir. Lixo zero não existe nem na Baía de Guanabara nem em
qualquer baía do mundo”.
De acordo com o secretário, mudanças na governança, com maior
comunicação entre os órgãos responsáveis pela baía, estão entre os
legados dos jogos. Ele chamou atenção também para o destaque que o
problema ambiental ganhou com a chegada da competição.
“Espero que, com o fim da Olimpíada, não pare essa cobrança.” Conforme
André Correa, “a Baía de Guanabara virou a Geni [personagem escrito por
Chico Buarque que era discriminada na Ópera do Malandro] e é culpa
nossa, do governo. Como a gente sempre comunicou muito mal isso, acabou
que os avanços ficaram obscurecidos”, concluiu.
Fonte: EcoDebate
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