Publicado em julho 8, 2016 por Redação
“Assim como a Idade da Pedra não acabou por falta de pedras,a Era do Petróleo chegará ao fim, não por falta de óleo”Sheikh Ahmed-Zaki Yamani
[EcoDebate]
Os combustíveis fósseis foram os catalizadores do crescimento econômico
dos últimos 250 anos. A Revolução Industrial e Energética começou com a
utilização do carvão mineral e avançou com o petróleo e o gás.
O petróleo é uma fonte energética
criada pela natureza, em um processo geoquímico que durou milhões de
anos, a partir da decomposição de matéria orgânica. Houve muitos ciclos
na Terra para que essa riqueza ficasse estocada no solo e no subsolo. Em
pouco mais de 100 anos, metade das jazidas já foram exploradas e, no
ritmo atual, a outra metade pode ser arrancada das entranhas da Terra em
outros 100 anos.
Três colheres de óleo contêm o
equivalente à energia média de oito horas de trabalho humano. A força
produtiva movimentada pelo petróleo equivale, em média, a 50 escravos
para cada habitante do Planeta. Nos Estados Unidos esta relação atinge
200 escravos por pessoa. Sem o petróleo a capacidade produtiva do mundo
cairia dramaticamente. Toda a agricultura moderna, com fertilizantes,
defensivos agrícolas, agrotóxicos e os combustíveis para o transporte
dependem do petróleo. Sem uma energia equivalente, a fome no mundo
reinaria soberana.
Mas o petróleo é uma fonte finita e
as reservas mais baratas já foram exploradas. O gráfico acima mostra que
depois da Segunda Guerra até 1973 (os chamados 30 anos gloriosos) o
preço do petróleo era “quase de graça”. Essa energia abundante e barata
possibilitou que o crescimento econômico do mundo fosse o maior de toda a
história humana. A despeito das desigualdades, a civilização deu um
grande salto de bem-estar neste período.
Mas a partir de 1974, as crises
jogaram o preço real do petróleo para cima. As guerras do Yom Kippur e
do Irã-Iraque fizeram o preço disparar entre as metades das décadas de
1970 e 1980. Com o fim da Guerra Fria e a maior oferta internacional de
combustíveis, o preço do petróleo caiu para níveis bastante baixos na
virada do milênio.
Porém, os preços do petróleo voltaram
a subir no início dos anos 2000 e bateram o recorde histórico em 2008
(apresentando um segundo pico em 2011) em decorrência da maior demanda
mundial, especialmente da China e de outros países emergentes. A
recessão econômica de 2009 foi provocada em grande parte pelo aumento do
preço do petróleo. Este aumento incentivou as empresas petrolíferas a
investir em novas descobertas e a explorar outros tipos de combustível,
como as areias betuminosas (Tar sands) do Canadá e o gás de xisto (shale
oil). O fato é que o alto preço dos combustíveis fósseis incentivou o
aumento da oferta.
Como a economia internacional não cresceu no ritmo
esperado, houve excesso de oferta e escassez da demanda e os preços
caíram muito em 2015 e começo de 2016. Houve uma crise geral no setor
petroleiro. No caso do Brasil, além dos escândalos de corrupção na
Petrobras, o atual preço do petróleo inviabiliza a exploração do
pré-sal.
Tudo indica que os preços do petróleo
vão voltar a subir nos próximos anos e décadas, pois a economia mundial
está viciada em combustíveis fósseis e a produção caminha para o Pico
do Petróleo (energia escassa e com altos custos de extração). Atualmente
as empresas petrolíferas estão em crise pois os preços estão baixos e
os custos estão altos. Mas elas confiam que vão poder recuperar os
prejuízos no futuro.
Porém, existe um outro problema, pois
todo o sucesso econômico gerado pela queima de combustíveis fósseis
lançou toneladas de CO2 na atmosfera, agravando o efeito estufa e
acelerando o aquecimento global. De meados do século XX até os dias
atuais a temperatura média do globo subiu mais de 1º C, mais do que em
todo o período do Holoceno (10 mil anos). O Acordo de Paris, assinado na
COP21, estabelece como limite máximo 2º C, mas de preferência 1,5º C.
Portanto, o mundo precisa reduzir as emissões de gases de efeito estufa
(GEE).
Diante da pressão mundial, até
grandes companhias de petróleo já começam a se adaptar à realidade
mundial. A Exxon Mobil, bastião do ceticismo com o aquecimento global,
realizou várias reuniões de acionistas que exigem maior empenho na
exposição da vulnerabilidade dos negócios em face da mudança climática.
Outras companhias com a Chevron e a Total anunciaram que planejam elevar
a 20%, até 2036, o investimento em atividades independentes de carbono.
Há propostas de reinvestir lucros na sua conversão em empresa de
energias renováveis. No Brasil, a Petrobras, enrolada em escândalos e na
nacionalista bandeira “o petróleo é nosso”, tem feito pouco para
diversificar sua produção.
Os países do G7 (EUA, Japão,
Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Canadá e mais União Europeia)
estabeleceram pela primeira vez um prazo para o fim da grande maioria
dos subsídios para os combustíveis fósseis. Na cúpula de Tokyo, em maio
de 2016, os líderes das sete economias capitalistas mais avançadas do
planeta estabeleceram a data de 2025 para acabar com os subsídios para o
carvão, o petróleo e o gás.
Porém, a Agência Internacional de
Energia prevê que os combustíveis fósseis vão continuar dominando a
matriz energética mundial e as emissões de GEE vão continuar aumentando
até 2040, como mostra o gráfico abaixo.
A concentração de GEE na atmosfera já
ultrapassou 400 partes por milhão (ppm). Esse nível é o mais alto, pelo
menos nos últimos 800 mil anos. Antes da Revolução Industrial e
Energética a concentração de CO2 na atmosfera estava em 280 ppm.
O
gráfico abaixo mostra que no ritmo atual de emissões a temperatura na
Terra pode subir cerca de 5º C até o ano de 2100. Para que a temperatura
fique abaixo de 1,5º C seria preciso uma redução significativa das
emissões.
Artigo de Damian Carrington, no
jornal The Guardian, mostra que se todo o estoque de combustíveis
fósseis for usado, o Planeta pode se aquecer em até 10º C, o que
causaria danos irreparáveis e poderia levar ao colapso da civilização
humana. Com base em trabalho publicado na revista Nature Climate Change,
a queima de todas jazidas comprovadas de combustíveis fósseis – um
impacto da emissão de toneladas 5 toneladas de emissões de carbono –
elevaria a temperatura em 8º C até 2300. Quando se adiciona o efeito de
outros gases de efeito estufa, o aumento sobe para 10º C.
O aquecimento previsto pelos modelos
não é uniforme em todo o globo. No ártico, os níveis mais elevados de
CO2 elevaria a temperatura a 17º C, com outro 3º C de outros gases de
efeito estufa. Isto provocaria o degelo na região, liberando a bomba de
metano aprisionada no permafrost. Isto teria o efeito de aumentar ainda
mais a temperatura global.
Este cenário é catastrófico e levaria
à acidificação dos solos e dos oceanos, provocaria inundações em
algumas regiões e grandes secas em outras e elevaria o nível dos oceanos
em pelos menos 10 metros, o que afetaria a maioria das regiões
litorâneas do mundo. A vida na Terra estaria comprometida. Portanto, é
melhor nos livrarmos dos combustíveis fósseis antes que ele nos deixe em
uma situação perigosa e irreversível.
Referências:
ALVES, JED. Desinvestimento em combustíveis fósseis e o fim dos subsídios. Ecodebate, RJ, 05/06/2015 http://www.ecodebate.com.br/2015/06/05/desinvestimento-em-combustiveis-fosseis-e-o-fim-dos-subsidios-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. O mito do pré-sal como redenção nacional. Ibase, Rio de Janeiro, Revista Trincheiras, agosto 2015 http://ibase.br/pt/wp-content/uploads/2015/08/2PRINT-TRINCHEIRAS2.pdf
ALVES, JED. Desobediência civil para libertar-se dos combustíveis fósseis. Ecodebate, RJ, 04/05/2016 https://www.ecodebate.com.br/2016/05/04/desobediencia-civil-para-libertar-se-dos-combustiveis-fosseis-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Damian Carrington. World could warm by massive 10o C if all fossil fuels are burned, The Guardian, 23/05/2016
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, 08/07/2016
"O preço real do petróleo e o custo para o meio ambiente, artigo de José Eustáquio Diniz Alves," in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 8/07/2016, https://www.ecodebate.com.br/2016/07/08/o-preco-real-do-petroleo-e-o-custo-para-o-meio-ambiente-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.
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