Pesquisadores da Universidade Católica de Lovaina (UCL), na Bélgica, descobriram uma proteína capaz de prevenir o desenvolvimento da obesidade e do diabetes tipo 2.
A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de um medicamento contra as duas doenças que afetam, respectivamente, 600 milhões e 400 milhões de pessoas em todo o mundo.
Batizada de Amuc_1100, a proteína faz parte da membrana externa da bactéria Akkermansia muciniphila, que vive exclusivamente na flora intestinal de animais vertebrados, como o homem.
Barreira protetora
A equipe liderada por Hubert Plovier e Patrice Cani descobriu que, administrada em grande quantidade, essa proteína bloqueia completamente o desenvolvimento da intolerância à glicose e da resistência à insulina, tanto em um regime normal como em um regime rico em gordura.
Ela atua como uma espécie de barreira protetora, diminuindo a permeabilidade do intestino e impedindo que toxinas presentes na massa fecal entrem na corrente sanguínea.
"A permeabilidade intestinal é responsável pela passagem ao sangue de determinadas toxinas que contribuem para o desenvolvimento do diabetes, de inflamações, e para o fato de que algumas pessoas obesas sintam fome constantemente e para várias desordens metabólicas", explicou Cani.
Essa barreira também reduz a absorção de energia pelo intestino, resultando em menor ganho de massa corporal.
Eficácia dobrada
A bactéria Akkermansia muciniphila é conhecida por sua capacidade de reduzir entre 40 e 50% o ganho de massa corporal e de resistência à insulina em animais de laboratório, mas o teste em humanos esbarrava na dificuldade de reproduzir sinteticamente a bactéria, sensível ao oxigênio.
Para resolver o problema, Plovier optou pela pasteurização, um processo no qual uma substância é aquecida a 70 graus. "Descobrimos não só que a bactéria produzida dessa maneira conserva suas propriedades, mas também que dobra em eficácia, detendo totalmente o desenvolvimento da obesidade e do diabetes tipo 2, independente do regime alimentar", afirma Cani.
Ao investigar as razões do ganho em eficácia, a equipe constatou que a proteína Amuc_1100 continua ativa na bactéria pasteurizada: "Quer dizer, a pasteurização elimina o que é desnecessário na bactéria e preserva a proteína, o que explica essa eficácia multiplicada," disse Cani.
O tratamento com Akkermansia muciniphila pasteurizada já foi submetido a uma primeira fase de testes em humanos e a conclusão é que sua administração não apresenta riscos para a saúde. A segunda fase dos testes, para determinar os efeitos clínicos da bactéria sobre a obesidade e o diabetes, deverá ser concluída no segundo semestre de 2017 e contar com mais de 100 voluntários.
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