O ano é 2016 e a humanidade se vê composta por mais de sete bilhões de indivíduos, distribuídos sobre a vasta superfície terrestre, dividindo espaço com um sem número de outras espécies e elementos constitutivos da biosfera. Eu e você somos uma minúscula parte dessa totalidade.
Não nos consideramos parte da mesma família, entretanto, da mesma forma que não nos reconhecemos como cidadãos do planeta, nem mesmo como seus inquilinos. De fato, costumamos pensar que há uma certa distância entre nós e aquilo que nos cerca.
Esse distanciamento entre micro e macrocosmo rendeu e continua rendendo frutos positivos, sendo um deles a formação das identidades individuais responsáveis pelas mais sublimes e distintas expressões artísticas de nossa história.
Há, entretanto, consequências não tão positivas assim. A negligência sistemática de nosso potencial transformador e a conformidade com “o jeito que as coisas são” são dois exemplos.
Fome, guerra, genocídio, escravidão, miséria, poluição dos oceanos, do solo e da atmosfera. Vemos notícias como essas pipocando diariamente no jornal, na internet e nos grupos do whatsapp. E o que fazemos em relação a elas? Experimentamos momentaneamente um sentimento de impotência e depois seguimos em frente.
Como bem argumenta Larry David no filme Whatever Works (Woody Allen, 2009), “você lê sobre um massacre em Darfur ou sobre um ônibus escolar que é explodido e você diz ‘Oh meu Deus, o horror!’, e então você vira a página do jornal e termina seu café da manhã. ‘Porque o que você pode fazer?’ É aterrador.”
Alguns desperdiçam comida enquanto outros vivem de restos garimpados no lixo. O jeans daquela marca que veste maravilhosamente bem passa por um processo de lavagem que polui os dois principais rios de um país subdesenvolvido, que, por sua vez, não pode se dar ao luxo de cassar a licença da multinacional responsável pela bagunça, pois ela representa empregos e investimentos.
Enquanto algumas joias, cujo valor chega à casa do milhão, são furtadas de um hotel, despertando comoção na população, em um lugar anônimo, milhares simplesmente passam os dias dividindo miséria, desprovidos de direitos, à margem de qualquer reconhecimento como pessoa humana.
Nosso tempo aqui é palco de profundas contradições e complexos paradoxos. Como resolvê-los?
Como continuar existindo sem consumir o planeta? Como viver uma vida consciente, que resulte em um estado de bem-estar coletivo e individual e ajude a promove-lo?
Muitos já estão engajados em inciativas que buscam solucionar tais questões, contribuindo em maior ou menor escala para sua resolução. Grupos de apoio, de voluntários, de estudos e debates. Há, a nível internacional, o “Millenium Project”, cuja proposta é buscar maneiras de pensar/construir um futuro mais justo, sustentável democrático.
Me parece que, enquanto espécie, estamos nos aproximando de um precipício, o qual conseguiremos transpor no momento em que enxergarmos nossa condição de membros integrantes de um ecossistema, e passarmos a colaborar de forma responsável a partir daí.
Como nossos ancestrais pré-históricos, que abandonaram a dinâmica da caça e coleta e passaram a cultivar alimentos, propiciando o surgimento de assentamentos e, mais tarde, de civilizações organizadas, precisamos transformar o modo de existir atual, migrando de uma perspectiva isolacionista para uma coletivista e igualitária.
A transformação verdadeira emana de um esforço de vontade, de um impulso que começa na essência de cada indivíduo e depois expande, perpassando, aos poucos, pensamentos e ações, alterando seu tom, frequência e alcance. É um processo de conscientização, de renovação, de movimento.
Assuma e comece a desempenhar seu papel de agente da transformação
Fuja de tudo que produz um efeito letárgico em seu organismo. Mantenha-se de olhos abertos, resista à dormência sedutora trazida pela musiquinha daquele comercial.
Acredite em seu potencial. Perpetue gestos e palavras que promovam equilíbrio, pratique gentileza e, quando puder, ame. Dialogue, busque outras fontes de informação, construa conhecimento, projete alternativas, reflita sobre seu papel na grande odisseia humana e encontre formas inusitadas de contribuir.
Você importa e suas atitudes fazem diferença
Pense bem: o fato de eu e você estarmos conectados por uma rede global de comunicação simultânea já é sinal de que nossa civilização é plenamente capaz de solucionar entraves. Basta um esforço de vontade e iniciativa em duas frentes: individual e coletiva.
Nós, homo sapiens que somos, precisamos sair de nossas conchas protetoras enquanto indivíduos, e vencer as paredes do casulo enquanto coletividade, se quisermos expandir nossas asas enquanto espécie e vislumbrar novos horizontes.
Ainda somos crisálida, mas um dia, lá adiante, quem sabe…
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