terça-feira, 7 de fevereiro de 2017
Especialista alerta para cuidados permanentes com a qualidade da água e não apenas durante a temporada
De acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que acompanha constantemente a balneabilidade do litoral, na cidade do Rio de Janeiro, a maioria das praias estão impróprias para banho. Na região da Ilha do Governador e Sepetiba, todas as praias estão com qualidade abaixo do aceitável para banho. Apenas as regiões da Zona Oeste e Zona Sul apresentam praias próprias para banhistas.
De acordo com Ariel Scheffer, biólogo e membro da Rede de Especialistas
em Conservação da Natureza, a preocupação com a qualidade da água deve
ser constante e não apenas durante a temporada. “Embora o aporte de
esgoto diminua fora da temporada de verão, para os moradores fixos do
litoral o problema de comprometimento da balneabilidade persiste fora
dessa época e deveria receber atenção constante ao longo do ano”,
reforça.
Um estudo da SOS Mata Atlântica, de 2015, sobre a qualidade das águas de
183 rios de 11 estados revelou que 36,3% dos pontos de coleta
analisados apresentam qualidade ruim ou péssima, 59,2% estão em situação
regular e, em 13 pontos foram encontradas águas com qualidade boa,
representando apenas 4,5% do total. “Levando-se em conta que a qualidade
das águas costeiras brasileiras é bastante influenciada pelas condições
de saneamento básico existente nas cidades litorâneas, sendo que a
média nacional de esgoto coletado é de apenas 24%, pode-se dizer que a
situação é grave”, aponta Scheffer.
Praias e rios limpos são sinônimo de alegria no verão, mas também são
sinais de saúde para todas as espécies. Para os humanos, as
consequências de se banhar em um ambiente contaminado podem envolver
infecções (garganta, ouvido e olhos), diarreia, doenças de pele,
gastroenterite e, em casos mais graves, hepatite A, cólera e febre
tifoide. Para a fauna marinha os riscos também existem.
“Temos que considerar que a qualidade de água não é dada somente pelos
parâmetros da balneabilidade, mas envolvem tipos de contaminantes mais
persistentes, como produtos ou substâncias químicas, que podem ser mais
perigosos que a contaminação fecal trazida pelos esgotos. Ainda temos a
poluição por resíduos sólidos, sedimentos e até poluição biológica por
espécies invasoras, que podem prejudicar nossa saúde, a biodiversidade e
a economia da região”, defende Scheffer.
O especialista alerta ainda para outros fatores que são determinantes na
manutenção da qualidade das águas durante períodos mais longos. “É
preciso estar atento ao papel dos ecossistemas costeiros, incluindo as
florestas, matas ciliares, manguezais, restingas, dunas, praias e
costões e, também, os benefícios tangíveis e intangíveis de sua
preservação. Além da necessidade de cobrar dos governos estaduais e
locais os investimentos para saneamento”, afirma.
Scheffer dá um exemplo de intervenção para a manutenção dos serviços
relacionados à água, como a criação de unidades de conservação – que são
áreas naturais legalmente protegidas –, públicas e privadas. Alguns
exemplos na região litorânea do Paraná são o Parques Estadual do Pico
Marumbi e a Reserva Natural Salto Morato, em Guaraqueçaba.
“Se mantivermos os ecossistemas naturais bem conservados, eventuais cargas difusas de contaminação não resultam na perda expressiva da qualidade da água no litoral. Esta manutenção ecossistêmica da qualidade ambiental ajuda a promover o ‘marketing’ positivo da região, potencializa a economia local e mantém a boa qualidade de vida para os moradores e turistas”, conclui.
“Se mantivermos os ecossistemas naturais bem conservados, eventuais cargas difusas de contaminação não resultam na perda expressiva da qualidade da água no litoral. Esta manutenção ecossistêmica da qualidade ambiental ajuda a promover o ‘marketing’ positivo da região, potencializa a economia local e mantém a boa qualidade de vida para os moradores e turistas”, conclui.
* Ariel Scheffer é membro da Rede de Especialistas de Conservação da
Natureza, uma reunião de profissionais, de referência nacional e
internacional, que atuam em áreas relacionadas à proteção da
biodiversidade e assuntos correlatos, com o objetivo de estimular a
divulgação de posicionamentos em defesa da conservação da natureza
brasileira. A Rede foi constituída em 2014, por iniciativa da Fundação
Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Fonte: EcoDebate
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