Protesto do Greenpeace na Suécia contra as ambições árticas da Shell. Foto: Greenpeace.
Protesto do Greenpeace na Suécia contra as ambições árticas da Shell. Foto: Greenpeace.



As mudanças climáticas globais estão acontecendo “a uma velocidade mais rápida do que em qualquer momento desde a Era do Gelo”, aumentarão “a frequência de padrões de tempo anormal” e tornarão ilhas tropicais “inabitáveis”. As conclusões não são de cientistas, mas de uma empresa de petróleo – a anglo-holandesa Shell. E não são de hoje: elas datam de 1991, quando a multinacional produziu um minidocumentário sobre o assunto. Título: Clima de Preocupação.


O filme foi redescoberto pelo site jornalístico holandês The Correspondent e compartilhado com o jornal britânico The Guardian, que publicou reportagem a respeito na última terça-feira (28).


O documentário mostra que a Shell não tinha dúvidas sobre a ameaça da mudança do clima 25 anos atrás. Ele fala, inclusive, que embora houvesse incertezas sobre a dimensão dos impactos, os cenários de aquecimento que descrevia estavam embasados “por um amplo consenso de cientistas” – referência ao primeiro relatório do IPCC, o painel do clima da ONU, publicado em 1990.


Mesmo com o conhecimento do problema, a Shell foi uma das empresas que mais se esforçaram para minar a meta de evitar as mudanças climáticas perigosas neste quarto de século: até 1998, participou de uma organização de empresas que fez lobby para disseminar o negacionismo climático; é uma das principais investidoras no petróleo ultrapesado (e ultrasujo) das areias betuminosas canadenses; e, até 2016, liderava os investimentos em busca de petróleo no Ártico.


“Vejo como até hoje eles defendem teimosamente o uso de gás natural durante as próximas várias décadas, apesar de evidências claras de que os combustíveis fósseis precisam ser eliminados completamente”, disse ao Guardian Jeremy Leggett, o geólogo que cunhou a expressão “bolha de carbono” para se referir aos combustíveis fósseis que terão de ser deixados no subsolo se a humanidade quiser cumprir as metas do Acordo de Paris. “Eu sinceramente acho que essa empresa é culpada de uma forma moderna de crime contra a humanidade.”


A Shell não é a primeira companhia a concluir uma coisa sobre as mudanças do clima e agir no sentido oposto. Muito mais grave foi o caso da americana Exxon, que desde a década de 1970 sabia dos riscos representados pelas mudanças do clima – segundo conclusões dos próprios cientistas da empresa. Mesmo assim, a petroleira foi a maior financiadora de ataques espúrios à ciência e aos cientistas do clima durante décadas. Hoje ela é alvo de inquérito na Justiça dos EUA por ter enganado o público.


O ex-presidente da Exxon, Rex Tillerson, é hoje secretário de Estado dos EUA, responsável pelas posições do país nas negociações internacionais de clima.

Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo.