terça-feira, 25 de abril de 2017
Bastaria pouco, muito pouco. Para neutralizar o processo degenerativo
que está causando o aquecimento global, nos termos previstos pelo Acordo
de Paris de 2015, bastaria um forte entendimento entre poucos países
que servem de líderes, pondo em campo políticas equilibradas em todo o
setor industrial e energético.
A reportagem foi publicada por L’Osservatore Romano, 23-04-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O documento mostra um dado muito significativo: para implementar
velozmente e de maneira duradoura a descarbonização da indústria e mudar
de rumo em direção às energias renováveis não são necessários grandes
acordos globais e negociações infinitas, mas o compromisso e a
lideranças de poucos países líderes que podem abrir o caminho e servir
de modelo para os outros.
O relatório cita o exemplo de alguns setores em que essa estratégia já
se mostrou bem-sucedida. No setor elétrico, responsável por 40% dos
gases de efeito estufa relacionados com a energia, a virada verde foi
iniciada graças aos investimentos em energias renováveis e às políticas
realizadas por poucos países como a Dinamarca, Alemanha, Espanha e China
no campo da energia eólica e fotovoltaica. Nesses países, entre 2006 e
2015, a capacidade de produção de energia eólica aumentou 600% e de
fotovoltaica em até 3.500%.
Outro exemplo é o dos transportes, causa de um quinto da produção de
gases de efeito de estufa. Nesse setor, a revolução passa pelos carros
elétricos. Na vanguarda, estão a Holanda, a Noruega, a Califórnia e a
China. A partir desses modelos – ressaltam os especialistas – é preciso
recomeçar.
Recomeçar não só com o relançamento dos acordos globais assinados em
Paris, mas também com a expansão da revolução em curso em setores que
ainda não a conhecem. Como exemplo – enfatiza ainda a relação do Climate
Action Tracker –, uma verdadeira virada verde não existiu no campo da
indústria imobiliária. Só com climatização, cozinha e iluminação, os
edifícios produzem cerca de 20% dos gases de efeito estufa. O potencial
tecnológico para mudar de rota existe, mas não existe o compromisso dos
governos.
O relatório do Climate Action Tracker é apenas um dos muitos documentos
publicados por ocasião do Dia Mundial da Terra, a maior manifestação
ambientalista do mundo, que se celebra no dia 22 de abril.
O evento, este ano, ocorre em um momento particularmente tenso em nível
político. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nunca guardou
qualquer segredo sobre a sua vontade de se retirar do entendimento de
Paris, cancelando os procedimentos do seu antecessor, Obama. Na
realidade, o jogo na Casa Branca é muito complexo, e o fronte dos
republicanos também não é tão compacto. Basta pensar no fato de que, há
poucos dias, foi cancelada a reunião dos principais conselheiros de
Trump que deveria formular as recomendações a serem entregues ao
presidente a respeito da política climática. O tema, em todo o caso,
estará sobre a mesa do G7 de Taormina, nos dias 26 e 27 de maio.
Mas não há apenas a política. O Dia da Terra também é um evento global,
que visa a envolver o maior número de pessoas em todo o mundo por meio
de manifestações e iniciativas. O objetivo é sensibilizar sobre questões
como a reciclagem, a poupança energética, a proteção e o respeito das
áreas verdes. Nos 193 países das Nações Unidas, pelo menos um bilhão de
pessoas em 22.000 organizações participarão do dia.
Nesse contexto, será realizada nas principais metrópoles de 40 países, a
marcha da ciência, um evento promovido pelo comitê estadunidense do
Earth Day Network, de acordo com o qual “trata-se do primeiro passo de
um movimento global pela defesa do papel vital da ciência para a saúde, a
economia, a segurança e os governos”.
Entre as adesões à manifestação, figuram ilustres instituições
científicas como a American Association for the Advancement of Science, a
American Chemical Society e a American Geophysical Association. Sem
contar muitos especialistas das agências governamentais, como a
Enviromental Protection Agency e a Food and Drug Administration.
O coração da manifestação será Washington, com uma marcha ao longo da
avenida perto da Casa Branca, palco das principais manifestações pela
luta pelos direitos civis nos anos 1960. “O objetivo é defender a
ciência que, hoje, é vítima de um ataque sem precedentes e lembrar que a
ciência, em toda a parte, interessa a todos e contribui para a proteção
do planeta em que vivemos e da nossa saúde”, explica, em entrevista ao
Guardian, Kenneth Kimmell, presidente da organização sem fins lucrativos
Union of Concerned Scientists.
A marcha ocorreu em mais de 500 cidades do mundo, da Cidade do Cabo, na
África do Sul, a Wangdue, no Butão. É forte o compromisso europeu. Na
Itália, a praça principal foi a de Roma.
Fonte: EcoDebate
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