quinta-feira, 29 de junho de 2017
Ano após ano, escritores de diferentes países enriquecem a chamada
“Biblioteca do Futuro”. Os primeiros deles nunca conhecerão a reação de
seus leitores, porque esse conjunto de obras inéditas será publicado
apenas no próximo século.
Até agora, o único elemento visível dessa empreitada estilística e
internacionalmente diversa é o conjunto de cerca de mil pequenas
árvores, que, plantadas há três anos, crescem na periferia verde de
Oslo.
Em 2114, quando forem centenários, esses abetos serão cortados e
transformados no papel onde serão escritas as antologias que reunirão
todos os escritores convidados a contribuir até a conclusão do projeto.
A canadense Margaret Atwood foi a primeira convidada a se juntar à
iniciativa, em 2015, seguida do romancista britânico David Mitchell, em
2016. Este ano, foi o poeta islandês Sjon que apresentou seu manuscrito.
“Algo que um escritor sempre enfrentará é a existência de leitores que
não conhece. Estão, talvez, em outro continente, ou distante no tempo,
mas, é muito especial saber que ninguém lerá seu texto, enquanto você
estiver vivo”, admite esse escritor, autor das letras de algumas das
canções da cantora islandesa Björk.
Saber que não verá as reações a seu trabalho “aprofunda muito minha relação com o texto”, comenta.
“Eu me dei conta de que muitos dos mecanismos que eu dou como certos
quando escrevo meus textos são, na verdade, algo sobre que devo pensar o
tempo todo: a precisão das palavras, o uso de termos antigos… Escrever
em islandês também foi uma das questões, com as quais tive de me
confrontar, porque não sei onde meu idioma estará em 100 anos”,
completou.
A árvore se faz livro – Se antes era a folha branca que esperava a
inspiração do autor, agora serão, de certo modo, as palavras que terão
de esperar o tempo necessário para que a árvore se faça livro.
Essa longa espera pela “Biblioteca do Futuro” é apenas a última de uma
série de iniciativas na Noruega em celebração à “slow life” e à
posteridade.
Campeão da “Slow TV”, o país nórdico acolhe a Reserva Mundial de
Sementes, uma espécie de Arca de Noé vegetal destinada a preservar a
diversidade genética de eventuais catástrofes futuras.
A ideia da biblioteca nasceu na imaginação da artista escocesa Katie
Paterson e pôde-se materializar graças a um encontro com promotores
imobiliários noruegueses em busca de um projeto cultural.
“Espero que os autores de hoje e das próximas décadas digam algo de sua época”, explica Paterson.
“Acho que será interessante para aqueles que puderem ler as obras daqui a
100 anos, porque poderão refletir, remontando no tempo. Porque, daqui a
100 anos, quem sabe como será a civilização?”, acrescenta.
‘Voto de confiança’ – Ainda se lerá livros em 2114? Ainda haverá impressoras para colocá-los em papel?
A “biblioteca do futuro” é “um voto de confiança no futuro da cultura”, afirmou David Mitchell no ano passado.
“Umberto Eco dizia que a forma do livro não pode melhorar. É como a roda. Não tem como ser aperfeiçoada”, disse Paterson.
“Mas, claro, a tecnologia avança tão rápido que vamos para o
desconhecido. Hoje falamos de livros eletrônicos, mas ignoramos
totalmente que forma os livros tomarão depois. Pode ser algo
inimaginável. Talvez, então, os livros de papel sejam uma antiguidade,
ou talvez sejam a norma. O futuro decidirá”, acrescenta.
Pagando 800 libras esterlinas (cerca de 1.000 dólares), os bibliófilos
mais ansiosos já podem comprar um certificado que dá direito a alguns
dos mil exemplares da antologia que serão publicados e vendidos em
galerias de arte.
Até a publicação, os manuscritos ficarão guardados em uma sala
especialmente projetada para eles na nova biblioteca pública de Oslo,
que deve ser aberta em 2020.
“Se tivéssemos tido de fazer uma avaliação de riscos dessa obra
cultural, ela nunca teria acontecido”, reconhece Anne Beate Hovind,
responsável pelo projeto e presidente do comitê de seleção de
escritores.
“Mas, hoje, rivalizamos com os Nobel”, comemora Anne.
Fonte: G1
Comentário
Acho um absurdo cortar arvores centenárias para fazer um livro.Ate lá espero que o processo de digitalização esteja tão avançado que essas árvores centenárias possam continuar vivas.
A iniciativa é positiva na medida em que contribuiu para o plantio de novas arvores.
Comentário
Acho um absurdo cortar arvores centenárias para fazer um livro.Ate lá espero que o processo de digitalização esteja tão avançado que essas árvores centenárias possam continuar vivas.
A iniciativa é positiva na medida em que contribuiu para o plantio de novas arvores.
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