sexta-feira, 30 de junho de 2017
Principais autoridades ligadas ao clima se unem em campanha colaborativa
para mobilizar setores-chave da economia; sua missão: reduzir a
liberação de gases de efeito estufa até 2020 e evitar os piores efeitos
das mudanças climáticas.
A reportagem é publicada por Luciana Vicária e publicada por Observatório do Clima, 28-06-2017.
O ano de 2020 será crítico para o futuro do clima. Caso as emissões
continuem a subir além dessa data, os objetivos do Acordo de Paris
tornam-se praticamente inalcançáveis, concluiu um grupo de especialistas
no assunto, liderados pela diplomata Christiana Figueres,
ex-secretária-executiva da Convenção do Clima das Nações Unidas. Juntos,
eles publicaram nesta quarta-feira (28), na revista científica Nature,
um plano para manter as emissões de gases de efeito estufa sob controle
nos próximos três anos. Batizado de “Missão 2020”, o documento traça
metas de emissão de gases para seis setores da economia: energia,
infraestrutura, transporte, uso da terra, indústria e finanças.
O documento foi divulgado uma semana antes de os líderes das maiores
economias do mundo reunirem-se em Hamburgo, na Alemanha, na reunião do
G20. É o primeiro encontro multilateral realizado após o anúncio de
Donald Trump de que os EUA sairão do acordo do clima. “A ideia é
justamente trazer o assunto para a pauta política, destacar o que cada
uma destas grandes economias está fazendo para enfrentar o desafio
climático, compartilhar boas práticas e renovar as esperanças, porque,
de fato, ainda temos chances”, disse Figueres.
O aumento de temperatura que o planeta já experimentou neste século
serviu para mostrar que os impactos sociais das mudanças climáticas,
como as ondas de calor, as secas e o aumento do nível do mar, afetam
especialmente os mais pobres. Os mantos de gelo na Groenlândia e na
Antártida perdem massa a uma taxa crescente, aumentando o nível do mar;
da mesma forma, o gelo marinho de verão do Ártico; além, dos recifes de
corais, que morrem devido ao aquecimento das águas.
“A boa notícia é que ainda estamos em tempo de atingir as metas do
Acordo de Paris se as emissões caírem até 2020”, afirma Hans Joachim
Schellnhuber, diretor do Instituto para Pesquisa de Impactos Climáticos
de Potsdam, na Alemanha. Nos últimos três anos, as emissões mundiais de
gás carbônico por queima de combustíveis fósseis permaneceram estáveis,
enquanto a economia global cresceu pelo menos 3,1% ao ano.
A taxa atual de emissão, de 41 bilhões de toneladas de gás carbônico por
ano, ainda está acima do que podemos emitir. Significa que, no ritmo de
agora, em quatro anos, ultrapassaríamos o limite de emissões que daria à
humanidade uma chance de estabilizar a temperatura em 1,5° Celsius. “É
agora ou agora. Não podemos mais esperar”, diz Schellnhuber. “Se
atrasarmos, as condições de vida no planeta serão severamente
restringidas.”
Para evitar o pior, segundo Schellnhuber, é preciso usar a ciência para
orientar decisões e estabelecer metas, replicar com agilidade as boas
práticas de sustentabilidade e, sobretudo, incentivar o otimismo. “Temos
inúmeras histórias de sucesso que precisam ser compartilhadas. É o que
vamos fazer já na reunião do G20 na Alemanha”, disse.
Estas são as metas estabelecidas pela Missão 2020 para cada setor da economia:
1 – Energia: As energias renováveis devem compor pelo menos 30% do
fornecimento de eletricidade no mundo em 2020, contra 23,7% em 2015.
Nenhuma usina a carvão poderá ser aprovada daqui três anos.
2 – Infraestrutura: Cidades e Estados darão sequência aos seus planos de
descarbonização, o que inclui a construção de edifícios e
infraestruturas até 2050, com financiamento previsto de US$ 300 bilhões
por ano.
3 – Transporte: Os veículos elétricos deverão compor pelo menos 15% das
vendas de automóveis novos globalmente até 2020 e os híbridos devem
avançar 1%. O uso do transporte em massa nas cidades deve dobrar, a
eficiência de combustível em veículos pesados deve aumentar 20% e a
emissão de gases de efeito estufa na aviação por quilômetro percorrido
deve diminuir 20%.
4 – Uso da terra: Novas políticas deverão proibir o desmatamento e os
esforços devem se concentrar em reflorestamentos. As práticas agrícolas
sustentáveis terão de se espalhar pelo planeta e aumentar o sequestro
de gás carbônico.
5 – Indústria: A indústria pesada desenvolverá planos para aumentar a
eficiência e reduzir suas emissões, com o objetivo de diminuir pela
metade a liberação de gases de efeito estufa até 2050. Atualmente as
indústrias de ferro, aço, cimento e petróleo emitem mais de um quinto do
gás carbônico mundial.
6 – Finança: O setor financeiro precisará ter pensado na forma de
mobilizar pelo menos US $ 1 trilhão por ano para a ação climática.
Governos, bancos privados e credores, como o Banco Mundial, vão emitir
títulos verdes para financiar os esforços de mitigação do clima. Isso
criaria um mercado anual que, até 2020, processaria mais de 10 vezes os
US$ 81 bilhões de títulos emitidos em 2016.
Fonte: EcoDebate
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