DIOGO BERCITO
Quando se reunirem na cidade alemã de Hamburgo nesta sexta (7), na cúpula do G20, líderes das principais economias do mundo vão discutir outra cidade: Paris.
O Acordo de Paris, assinado em 2015 na capital francesa por 195 partes, deve dominar os debates do fórum global. Enfraquecido pela crise política, o Brasil não será um dos protagonistas.
Dando o tom do debate, a Universidade de Oxford publica nesta quinta seu relatório sobre a mudança climática, alertando para os riscos trazidos à saúde. O texto foi redigido pelo EMS (Simpósio de Mercados Emergentes).
O brasileiro Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade, faz parte do grupo de pesquisadores que assinam o texto. "Já sabíamos que havia impacto na saúde, mas é em uma magnitude maior do que imaginávamos", ele afirma em entrevista à Folha.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 23% das mortes no mundo estão relacionadas a fatores ambientais, como a poluição do ar e da água, cuja redução poderia ajudar na prevenção de 30% das doenças cardiovasculares e 20% dos cânceres.
Cientes das consequências da mudança climática, os signatários do Acordo de Paris, principal iniciativa para frear a elevação da temperatura do planeta, firmaram o compromisso de manter o aquecimento da Terra abaixo de 2ºC em relação à era pré-industrial até o fim do século, tentando limitá-lo a 1,5ºC.
Mas o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que o país vai deixar o tratado, assinado por seu antecessor, o democrata Barack Obama. Trump será questionado pelos demais governantes em Hamburgo, que já sinalizaram não ter intenção de renegociar o acordo –o americano alega que o teor do tratado é desvantajoso a seu país.
A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou repetidas vezes que esse será o enfoque da cúpula, e a União Europeia deve se alinhar à China, que busca maior protagonismo internacional em ambiente.
Mas Trump pode receber o apoio de outros países, como a Arábia Saudita, da qual os EUA têm se aproximado.
Há dúvidas ademais sobre as posições da Rússia e da Indonésia, também no G20.
Kalache, que critica o subsídio de US$ 5 trilhões ao ano para combustíveis fósseis, como diesel, afirma que a queima desses materiais tem enorme impacto na saúde.
"O foco dos líderes globais é, muitas vezes, o custo imediato, sem pensar no custo acumulado", diz o médico.
"Os governos vão precisar tratar essas pessoas, a produtividade vai cair, haverá impacto social."
BRASIL
O brasileiro diz que os países que liderarem a corrida tecnológica para a obtenção de fontes limpas de energia vão ser favorecidos –daí a perplexidade, inclusive dentro dos EUA, com a decisão de Trump.
Kalache, que trabalhou na Organização Mundial da Saúde entre 1994 e 2008, lamenta que o Brasil, no passado um protagonista nesses temas, esteja escanteado.
"Há dez anos, os países queriam saber qual era a posição brasileira para considerar as suas. Hoje ninguém se preocupa com o representante do Brasil", diz. "É uma visão antiglobalizante."
Um grupo de organizações de defesa do ambiente, lideradas pelo Oil Change International, publicou nesta semana um outro relatório sobre o impacto do clima, também para a cúpula do G20.
O texto diz que as nações do G20 dão quatro vezes mais financiamento público a combustíveis fósseis do que a fontes renováveis.
Um dos casos mais extremos é o da China, que financiou combustíveis fósseis com US$ 13,5 bilhões (R$ 44 bilhões) entre 2013 e 2015, mas entregou apenas US$ 85 milhões às energias limpas. A Alemanha, por sua vez, investiu US$ 3,5 bilhões em fósseis e US$ 2,4 bilhões em renováveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário