Redação do Site Inovação Tecnológica -
18/07/2017
A extinção do ser humano não significará a extinção da vida na Terra. [Imagem: Vicky Madden/Bob Goldstein/UNC Chapel Hil]
Fim da vida na Terra
Ao discutir cataclismas cósmicos e armagedons de diversos tipos, incluindo a morte natural do Sol, que deverá virtualmente "engolir" a Terra, é comum se falar sobre a extinção da vida humana no planeta.
Mas a extinção do ser humano não significará a extinção da vida na Terra.
Isto porque há muitos animais mais resistentes do que nós.
Mas então, se - ou quando - tivermos a infelicidade de sermos atingidos por esses cataclismas, qual será o limite da vida no planeta?
Ou, em outras palavras, qual será a última forma de vida a resistir para ver o apagar definitivo das luzes, ou para morrer junto com a Terra?
É claro que isso é muito mais do que uma mera curiosidade. Definir a resiliência das formas de vida conhecidas pode estipular limites mais amplos para a busca de vida em outros planetas - em Marte, por exemplo, por mais improvável que hoje pareça qualquer possibilidade de vida no planeta vermelho.
Animal mais resistente da Terra
Para chegar a uma resposta para essa questão, o brasileiro Rafael Alves Batista, atualmente fazendo um curso de pós-doutorado no Departamento de Física da Universidade de Oxford, pegou os eventos cósmicos catastróficos mais prováveis e partiu da forma de vida mais resistente que conhecemos.
O animal mais resistente que se conhece é o tardígrado, um microanimal de oito patas, também conhecido como urso d'água, que já sobreviveu por 18 meses no vácuo do espaço.
Outros estudos mostraram que o tardígrado é capaz de sobreviver por até 30 anos sem comida ou água, suportar temperaturas de até 150 graus Celsius e sobreviver nas imensas pressões do fundo dos oceanos. Dificuldades à parte, o microanimal pode viver até 60 anos e crescer até um tamanho máximo de 0,5 mm.
Rafael e seus colegas listaram então os principais eventos cósmicos que podem ameaçar a vida na Terra: o impacto de um grande asteroide, a explosão de uma estrela na forma de uma supernova ou uma explosão de raios gama. E, no final de tudo, a esperada morte do Sol, quando ele se transformará em uma gigante vermelha, expelindo para o espaço ao seu redor quase metade de sua massa na forma de nuvens de poeira e gás - o Sol crescerá tanto que muitos cálculos indicam que ele poderá engolir Mercúrio, Vênus e a Terra.
Os
ursos d'água podem viver até 60 anos - e podem viver 30 anos sem comida
ou água. [Imagem: Willow Gabriel/Bio/UNC Chapel Hil]
No caso dos asteroides, há apenas uma dúzia de asteroides e planetas anões conhecidos com massa suficiente para, em caso de choque, fazer os oceanos da Terra ferverem e evaporarem (2x1018 kg), criando o que os pesquisadores chamam de "esfera de esterilização". Isso inclui Vesta (2x1020 kg) e Plutão (1022 kg), mas nenhum desses objetos cruzará a órbita terrestre, portanto não representam uma ameaça para nós e nem para os tardígrados.
No caso de uma supernova, para ferver os oceanos da Terra a estrela que explodiria precisaria estar a 0,14 anos-luz de distância. A estrela mais próxima do Sol está a quatro anos-luz de distância e a probabilidade de uma estrela maciça explodir próximo o suficiente da Terra para matar todas as formas de vida dentro da faixa de expectativa de vida do Sol é insignificante.
As rajadas de raios gama têm mais energia, mas também são mais raras do que as supernovas. Tais como as supernovas, as explosões de raios gama estão muito distantes da Terra para serem consideradas uma ameaça viável. Para poder ferver os oceanos do planeta, a explosão não deve estar a mais de 40 anos-luz de distância, e a probabilidade de uma explosão tão próxima é igualmente insignificante.
Assim, mesmo que os humanos desapareçam da face da Terra, qualquer que seja a razão, os tardígrados provavelmente sobreviverão até a morte do Sol.
"Sem a nossa tecnologia para nos proteger, os seres humanos são uma espécie muito sensível. Mudanças sutis em nosso ambiente nos impactam dramaticamente. Existem muitas espécies mais resilientes na Terra. A vida neste planeta pode continuar muito depois que os humanos se forem.
"Os tardígrados estão próximos da indestrutibilidade em termos da vida na Terra, mas é possível que existam outros exemplos de espécies resilientes em outros lugares do Universo. Neste contexto, é factível procurar vida em Marte e em outras áreas do Sistema Solar em geral. Se os tardígrados são a espécie mais resiliente da Terra, quem sabe o que mais existe?" comentou Rafael.
Bibliografia:
The Resilience of Life to Astrophysical Events
David Sloan, Rafael Alves Batista, Abraham Loeb
Nature Scientific Reports
Vol.: 7, Article number: 5419
DOI: 10.1038/s41598-017-05796-x
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