26 Julho 2017
A reportagem é de Alex Blasdel, publicada por The Guardian, 15-06-2017. A tradução é de Luisa Flores Somavilla.
Alguns anos atrás, Björk começou a se corresponder com um filósofo cujos livros ela admirava. "Oi timothy", foi sua primeira mensagem para ele. "Faz muito tempo que eu quero escrever esta carta". Ela estava tentando nomear seu gênero singular, para classificar seu trabalho para a posteridade antes que os críticos o fizessem. Ela pediu ajuda a ele para definir a natureza de sua arte - "não só para definir para mim mesma, mas também para todos os meus amigos e, na verdade, toda uma geração".
Acontece que o filósofo, Timothy Morton, era fã de Björk. Sua música, ele contou-lhe, tinha sido "uma influência muito profunda no meu modo de pensar e na vida em geral". A sensação de estranha intimidade com outras espécies, a fusão de atmosferas em suas músicas e vídeos - ternura e horror, estranheza e alegria - "é o sentimento de consciência ecológica", disse ele. O próprio trabalho de Morton trata das implicações dessa estranha consciência - o conhecimento de nossa interdependência com outros seres -, que ele acredita comprometer os pressupostos que sustentam há muito tempo uma separação entre humanidade e natureza. Para ele, esta uma característica define a nossa época e nos leva a mudar nossas "ideias fundamentas sobre o significado da existência, sobre o que é a Terra e o que é a sociedade".
Ao longo da última década, as ideias de Morton vêm ganhando espaço nos círculos mainstream. Hans Ulrich Obrist, diretor artístico da galeria Serpentine de Londres e talvez a figura mais poderosa da arte contemporânea no mundo, é um de seus principais incentivadores. Ele disse aos leitores da Vogue que os livros de Morton estão entre as obras culturais mais preeminentes do nosso tempo e que os recomenda a muitos de seus colaboradores. O aclamado artista Olafur Eliasson tem viajado o mundo com Morton para falar nas principais aberturas de suas exposições. Trechos de correspondências entre Morton e Björk foram publicados como parte de sua retrospectiva de 2015 no Museu de Arte Moderna de Nova York
A linguagem de Morton está "infectando todas as Humanidades pouco a pouco", disse seu amigo e também filósofo Graham Harman. Embora muitos acadêmicos sejam conhecido por escrever exclusivamente para seus colegas mais próximos, o vocabulário conceitual peculiar de Morton - "Ecologia Sombria" o estranho- estranho", "a malha" - foi incorporado por escritores em uma série de áreas, de literatura e epistemologia à teoria legal e à religião. No ano passado, ele foi incluído em uma lista muito discutida dos 50 filósofos vivos mais influentes. Suas ideias também ganharam repercussão em veículos de imprensa tradicionais, como Newsweek, New Yorker e New York Times.
A popularidade de Morton advém, em partes, de seus ataques a modos instituídos de pensamento. Seu livro mais citado, Ecology Without Nature, diz que precisamos eliminar o conceito de "natureza" de modo geral. Ele defende que uma peculiaridade do nosso mundo é a presença de coisas gigantescas que ele chama de "hiper-objetos" - como o aquecimento global e a internet - que tendemos a pensar como ideias abstratas, porque não conseguimos entendê-las, apesar de serem radicalmente reais. Ele acredita que todos os seres são interdependentes e defende a hipótese de que tudo no universo tem uma espécie de consciência, desde as algas e as pedras até facas e garfos.
Ele afirma que os seres humanos são um tipo de ciborgue, já que somos constituídos por todos os tipos de componentes não humanos. Ele gosta de salientar que justamente o que supostamente nos torna quem somos - nosso DNA - contém uma quantidade significativa de material genético advindo de vírus. Segundo ele, já somos governados por uma inteligência artificial primitiva: o capitalismo industrial. Ao mesmo tempo, acredita que existem alguns "produtos químicos experimentais estranhos" no consumismo que ajudarão a humanidade a evitar uma crise ecológica total.
As teorias de Morton podem parecer bizarras, mas estão em sintonia com a ideia do século XXI que mais abalou estruturas: a de que estamos entrando em uma nova fase da história do planeta - agora chamada por Morton e muitos outros de "Antropoceno".
Nos últimos 12.000 anos, os seres humanos viveram em uma época geológica chamada Holoceno, conhecida por climas temperados relativamente estáveis. Pode-se dizer que foi a Califórnia da história planetária. Mas está chegando ao fim. Recentemente, começamos a modificar a Terra tão drasticamente que, de acordo com muitos cientistas, estamos vivendo o começo de uma nova época. Após as mais curtas férias geológicas, parece que estamos entrando em um período mais volátil.
O termo antropoceno, do grego antigo anthropos, que significa "humano", reconhece que os seres humanos são a principal causa da atual transformação da Terra. Condições meteorológicas extremas, cidades submersas, escassez aguda de recursos, espécies extintas, desertos onde antes havia lagos, precipitação radioativa: se ainda houver vida humana na Terra daqui a dezenas de milhares de anos,sociedades que não podemos imaginar terão de enfrentar as mudanças que estamos causando hoje.
Morton observou que 75% dos gases de efeito estufa que estão na atmosfera neste momento ainda estarão lá daqui a meio milênio. Daqui a 15 gerações. Levará mais 750 gerações, ou 25 mil anos, para que a maior parte desses gases seja absorvida pelos oceanos.
O antropoceno não é apenas um período de ruptura causada pelo homem. Também é um momento de autoconsciência intermitente, em que a espécie humana está se conscientizando de que é uma força planetária. Não estamos apenas levando ao aquecimento global e à destruição ecológica; nós sabemos disso.
Uma das ideias mais poderosas de Morton é que estamos condenados a viver com essa consciência o tempo todo. Não apenas quando os políticos se reúnem para discutir acordos ambientais internacionais, mas quando fazemos algo tão comum quanto conversar sobre o tempo, pegar uma sacola de plástico no supermercado ou regar a grama. Vivemos em um mundo com um cálculo moral que não existia antes. Agora, qualquer coisa que se faça é uma questão ambiental. Não era assim há 60 anos - ou pelo menos as pessoas não estavam conscientes disso. Tragicamente, apenas degradando o planeta é que percebemos o quanto somos parte dele.
Morton acredita que isso constitui uma revolução na compreensão do nosso lugar no universo comparável às promovidas por Copérnico, Darwin e Freud. Ele é apenas um dos milhares de geólogos, cientistas do clima, historiadores, escritores e jornalistas que escrevem sobre essa turbulência, mas talvez consiga, melhor do que ninguém, colocar em palavras o sentimento perturbador de presenciar o surgimento dessa era extrema.
"Você gira a ignição do seu carro", ele escreve. "E se assusta."
Cada vez que você liga o motor, você não quer causar danos à Terra", muito menos causar a Sexta Extinção em Massa na história de quatro bilhões e meio de anos de vida nesse planeta ", mas "é justamente isso que está acontecendo". Parte do desconforto vem do fato de que nossos atos individuais podem ser estatisticamente e moralmente insignificantes, mas ao multiplicá-los milhões e bilhões de vezes - já que são realizados por toda a espécie - são um ato coletivo de destruição ecológica. O branqueamento dos corais não ocorre apenas lá na Grande Barreira de Corais; está acontecendo onde houver um ar condicionado ligado. Resumindo, segundo Morton: "tudo é interligado".
À medida que seu trabalho se espalha para além dos gigantes da cultura, como Björk, para as páginas da grande mídia, Morton torna-se o guia mais popular para a nova época. Sim, ele tem algumas ideias que parecem loucas sobre como é estar vivo nesse momento - mas o que significa estar vivo agora, no Antropoceno, é muito louco.
Ao longo de sua juventude, o Antropoceno tornou-se um conceito com um alcance tão amplo como qualquer outro paradigma histórico-mundial que se preze (o que, se é sal marinho, inclui agora uma boa dose de resíduos sintéticos em pequenas partículas chamadas Microplasticos). O que começou como um debate técnico nas ciências da terra levou, na opinião de Morton, algumas das nossas formas mais básicas de entender o mundo a serem confrontadas. No Antropoceno, segundo Morton, estamos passando por "uma perda traumática de coordenadas".
Sua criação é atribuída a Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel especialista em química atmosférica, e ao biólogo Eugene Stoermer, que contribuiu no início da popularização do termo, em 2000. Desde o início, muitos levaram o conceito de Crutzen e Stoermer a sério, apesar de não concordar com ele. Desde o final do século XX, os cientistas consideravam o tempo geológico como um drama pontuado por grandes cataclismos, não apenas um acúmulo gradual de mudanças incrementais, e fazia sentido considerar a própria humanidade como o último cataclismo.
Imagine geólogos de uma civilização no futuro examinando as camadas de rocha que estão em lento processo de formação hoje, como nós examinamos os estratos de rocha que se formaram quando os dinossauros foram exterminados. Essa civilização verá evidências de nosso impacto (geologicamente) repentino no planeta - como plásticos fossilizados e camadas tanto de carbono, pela queima de combustíveis de carbono, e de partículas radioativas, pelos testes nucleares e explosões - de forma tão clara quanto as evidências do rápido desaparecimento dos dinossauros. Já podemos observar a formação dessas camadas.
Por alguns anos, houve um debate acalorado sobre a utilidade do conceito. Pessoas que discordam da ideia argumentaram que o "sinal geológico" da humanidade ainda não evidente o suficiente para justificar o surgimento de uma nova época, ou que o termo não tinha utilização científica. Apoiadores se questionavam qual seria a data do início do antropoceno. De acordo com o advento da agricultura, há muitos milênios atrás? Ou a invenção da máquina a vapor no século XVIII e o início da Revolução Industrial? Ou ainda o dia 16 de julho de 1945, às 5:29, quando primeiro teste nuclear explodiu sobre o deserto do Novo México? (Morton, com sua maneira abrangente de ver as coisas, trata todos esses momentos como cruciais).
Depois, em 2002, Crutzen apresentou seus argumentos na revista científica Nature. A ideia de um momento na história planetária em que a influência humana era predominante parecia juntar tantos desenvolvimentos diferentes - desde o recuo das geleiras até o pensamento moderno sobre os limites do capitalismo - que o termo começou a se espalhar rapidamente para outras ciências da terra e não parou mais.
Desde então, foram fundadas pelo menos três revistas acadêmicas especializadas no Antropoceno, várias universidades criaram grupos de pesquisa para refletir sobre suas implicações, estudantes de Stanford começaram a produzir um podcast conhecido chamado Generation Anthropocenee milhares de artigos e livros foram escritos sobre o assunto, em áreas desde a economia até a poesia.
Alguns pensadores se opõem ao termo, argumentando que ele reforça a visão antropocêntrica do mundo que nos levou à beira de um desastre ecológico. Outros dizem que a destruição da Terra deve ser atribuído não à da humanidade em geral, mas ao capitalismo (predominantemente branco, ocidental e masculino). Foram criados termos alternativos, como "Capitaloceno", mas nenhum pegou. Eles não têm o apelo existencial inquietante de antropoceno, que enfatiza nossa culpa e nossa fragilidade como seres humanos.
Em torno de 2011, o Antropoceno "começou a surgir nos jornais pela primeira vez", de acordo com a história recente do conceito descrita pelo estudioso Jeremy Davies. A BBC, o The Economist, a National Geographic, a Science, entre outros, abordaram o conceito. As mudanças no planeta haviam feito com que jornalistas levassem reportagens sobre o meio ambiente cada vez mais ao contexto da geo-história - níveis de dióxido de carbono na atmosfera não chegavam a 400 partes por milhão desde o Plioceno, há três milhões de anos - e o Antropoceno tornou-se uma forma rápida e útil de colocar a atividade humana na perspectiva geológica do tempo profundo.
Para Morton, que tinha acabado de começar a escrever sobre isso, encerrava sua preocupação com a forma como os diferentes seres, incluindo os seres humanos, dependem uns dos outros para a sua existência - fato que as várias calamidades do Antropoceno destacavam.
Em 2014, a palavra Antropoceno (em inglês, Anthropocene) foi introduzida no Oxford English Dictionary e, no ano passado, foi formalmente aprovada por um grupo de trabalho dentro da Comissão Internacional de Estratigrafia, que monitora o tempo geológico oficialmente. O ano de 1950 foi escolhido para ser uma data estimada, em que uma das marcas mais claras da atividade humana global na crosta terrestre apareceu: isótopos de plutônio de vários testes nucleares.
O anúncio do grupo de trabalho foi tão importante que estampou a primeira página do jornal britânico The Guardian. (Em toda a mídia, o conceito de Antropoceno agora é usado para enquadrar tudo, desde críticas de ficção até discussões sobre a presidência de Donald Trump.) Como disse Jan Zalasiewicz, presidente do grupo e um dos principais especialistas do Antropoceno, essa nova época "estabelece uma trajetória diferente para o sistema terrestre" e só agora estamos "percebendo as dimensões e a persistência da mudança".
Já houve outros períodos de intensa flutuação climática, juntamente com a extinção em massa. O mais recente foi há 66 milhões de anos, quando um meteorito de dez quilômetros de diâmetro atingiu o que hoje é a Península de Yucatán. Estima-se que seu impacto seja de 2 milhões de vezes a força da bomba atômica mais poderosa já detonada, alterando a atmosfera do planeta e eliminando três quartos das espécies existentes. Mas em comparação foi um evento simples, que as ciências físicas têm plenas condições de entender.
Para entender a mudança histórica que está sendo conduzida pela atividade humana, precisamos de mais do que geologia, meteorologia e química. Se isso é um acerto de contas para nossa espécie, precisamos de um guia intelectual - alguém que nos diga se devemos entrar em pânico ou não e o quanto o reconhecimento de que estamos mudando o planeta nos fará mudar.
A consciência que ganhamos no antropoceno, de modo geral, não é feliz. Muitos ambientalistas estão alertando sobre uma iminente catástrofe global e exigindo que as sociedades industriais revejam sua trajetória. Morton se posiciona de forma mais iconoclasta. Em vez de alarmar ainda mais a respeito das questões ecológicas como se fosse um Paul Revere do apocalipse, ele defende o que chama de "ecologia sombria", que afirma que a tão temida catástrofe já ocorreu.
O que significa não somente que um aquecimento global irreversível já está acontecendo, mas também algo mais abrangente. "Nós, Mesopotâmicos" - como ele chama as últimas 400 gerações de seres humanos vivendo em sociedades agrícolas e industriais -, pensamos que estávamos apenas manipulando outras entidades (através da agricultura e da engenharia, e assim por diante) no vácuo, como se trabalhássemos em um laboratório e elas estivessem em alguma placa de petri gigante chamada "natureza" ou "ambiente".
No Antropoceno, segundo Morton, devemos despertar para o fato de que nunca nos separamos ou controlamos as coisas não-humanas do planeta, mas sempre estivemos intimamente ligados a elas. Não podemos nem queimar ou jogar nada fora sem que as coisas voltem para nós de alguma forma, como a poluição nociva. Nossas ideias mais estimadas sobre a natureza e o meio ambiente - de que são separados de nós e relativamente estáveis - foram destruídas.
Morton compara esta constatação com histórias de detetives em que o caçador percebe que está atrás de si mesmo (seus exemplos favoritos são Blade Runner e Édipo Rei). "Nem todos estão preparados para se assustar o suficiente" com essa epifania, diz ele. Mas há uma outra coisa: apesar de os humanos terem causado o Antropoceno, não podemos controlá-lo. "Meu Deus!" exclamou Morton para mim fingindo horror. "Minha tentativa de escapar da teia do destino foi a rede do destino ".
Para Morton, a principal razão para estarmos enxergando a nossa estreita relação com o mundo que estamos destruindo é o nosso encontro com a realidade dos hiper-objetos - termo criado por ele para descrever os ecossistemas e os buracos negros, "distribuídos no tempo e no espaço de forma maciça"em comparação com seres humanos. Os hiper-objetos podem não parecer objetos da mesma forma, por exemplo, que bolas de bilhar, mas são igualmente reais e agora estamos encontrando-os conscientemente pela primeira vez.
O aquecimento global pode ter aparecido para nós como um tempo um tanto engraçado em algum lugar e depois como uma série de manifestações independentes (uma enchente mais forte ali, uma onda de calor mortal lá). Porém, agora o consideramos um fenômeno unificado, e as condições meteorológicas extremas e a quebra das antigas estações do ano são apenas seus elementos.
É através dos hiper-objetos que começamos a enfrentar o Antropoceno, argumenta Morton. Um dos seus livros mais influentes, intitulado Hyperobjects, examina a experiência de estar envolvido por essas entidades - realmente, fazer parte delas-, que são grandes demais para conseguirmos entender e controlar. Podemos vivenciar hiper-objetos como o clima em suas manifestações locais ou através de dados produzidos por cálculos científicos, mas sua escala e o fato de estarmos presos dentro deles significa que nunca podemos conhecê-los completamente. Por causa de tais fenômenos, estamos vivendo em um momento de mudanças literalmente impensáveis.
Isso leva Morton a um de seus argumentos mais impressionantes: que o Antropoceno está levando a uma revolução no pensamento humano. Os avanços na ciência estão ressaltando o quanto estamos "enredados" com outros seres - dos micróbios que representam cerca de metade das células do nosso corpo, à dependência da proteção térmica eletromagnética da Terra para a nossa sobrevivência. Ao mesmo tempo, os hiper-objetos, em sua grandeza, nos chama a atenção para os limites absolutos da ciência e, portanto, para os limites do domínio humano.
A ciência só consegue nos levar até aqui. Isso significa mudar nossa relação com as outras entidades do universo - sejam animais, vegetais ou minerais -, da exploração por meio da ciência à solidariedade na ignorância. Se não conseguirmos, continuaremos causando danos ao planeta e ameaçando estimados modos de vida e até a nossa própria existência. Ao contrário das fantasias utópicas de que seremos salvos pelo surgimento da inteligência artificial ou de alguma outra tecnologia, o Antropoceno nos ensina que não podemos superar nossas limitações ou a dependência de outros seres.
Só podemos conviver.
Pode até soar desolador, mas Morton vê isso como uma libertação. Se abandonarmos a ilusão de controlar tudo o que nos rodeia, poderemos nos reorientar a encontrar prazer a partir de outros seres e da própria vida. Morton acredita que o prazer pode nos levar a uma nova política. "Você acha que a vida ecologicamente correta significa ser totalmente eficiente e puro", diz no tuíte no topo de sua linha do tempo. "Errado. Significa que você pode ter uma discoteca em cada cômodo da casa."
Essas palavras são típicas de seu pensamento, que muitas vezes parte da desolação comum e dá uma guinada surpreendente. "Há uma verdadeira esperança em seu trabalho", diz Hans Ulrich Obrist sobre Morton. "Esperança e até mesmo otimismo estão presentes de alguma forma". Morton tem uma história curiosa sobre quando colocou energia eólica em casa, na zona rural de Houston, onde ele dá aulas em uma cadeira na Rice University. Depois de um ou dois dias "sentindo-se muito correto e santo", ele percebeu que poderia ter "estroboscópios potentes, decks e festas por horas e horas, o dia todo, todos os dias", causando muito menos impacto ao planeta.
"E esse é o verdadeiro futuro ecológico".
Em uma manhã de sábado no outono passado, saí para procurar Morton no festival de ideias da Serpentine Galleries, que acontece todos os anos, onde ele falaria naquele dia. Nas semanas anteriores, ele havia estado em Seul para ajudar Olafur Eliasson a abrir uma exposição individual; em Singapura, para falar na conferência Future Cities; em Bruxelas, para dar uma palestra intitulada "Nature Isn’t Real" em um parque à noite (ele disse que 250 pessoas compareceram); na Universidade de Exeter, onde ele abordou sua nova teoria de ação, "rocking", descrita por ele como "uma queerificação das categorias teístas de ativo versus passivo"; em Roma, onde, entre outras coisas, ficou bebendo martini e em Paris, onde ele foi a algumas raves com sua amiga Ingrid e ficou tão emocionado e exausto que passou a noite toda deitado no meio da pista de dança.
Se você tivesse que escolher um avatar para o Antropoceno, Morton poderia uma boa opção. Ele tem olhos azuis da cor do Ártico que espantam e parecem espantados ao mesmo tempo. Um pouquinho rechonchudo, sugerindo vulnerabilidade física, seu rosto tem um rubor eczemático e seu cabelo loiro fino tem formato de cardo, parecendo ter sobrevivido a algum inesperado. Na verdade, ele parece um tanto aflito. Entre outras coisas, ele sofre de uma grave apneia do sono, depressão profunda, enxaquecas graves e, pareceu ao longo de nossas conversas, ocasionais episódios de paranoia leve. Obrist, que gravou mais de 2.500 horas de entrevistas com artistas e filósofos, me disse que Morton foi o único que se "emocionou tanto que começou a chorar". (Eles estavam discutindo a extinção em massa.)
No início do ano, ao conversar com Morton por vídeo, ele estava em ebulição. Agora, sentado na parte de trás do restaurante da galeria, que havia sido reformado para ser um salão de shows, ele parecia estar quase sem combustível para queimar. Ele já havia publicado 14 ensaios durante o ano e continuava trabalhando em seus dois próximos livros. Nas próximas semanas, ele daria palestras em Chicago, em Yale, em Seul (novamente), em Munique e, finalmente, se reuniria com membros do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa contemplando as mensagens que devemos enviar ao espaço em uma possível nova edição da missão Voyager.
(A original, em 1977, enviou duas sondas espaciais, que ultrapassaram o nosso sistema solar. Cada uma carregava consigo um disco de 12 polegadas revestido a ouro com sons e imagens representando a humanidade e outros seres terrestres.) No final de 2016, como Morton depois escreveu em seu blogue,ele completou 350 mil milhas de voo.
O itinerário de Morton representa a popularidade que a noção de Antropoceno adquiriu e a profundidade com que sua abordagem ressoa na nossa experiência cada vez mais inquietante do mundo. Analisando seus livros ou falando com ele pessoalmente, começa-se a suspeitar que a extravagância de seu pensamento e sua personalidade na verdade reflete algo muito estranho sobre o mundo.
Durante o almoço, Morton pediu um sanduíche natural de frango - tinha encerrado uma experiência anterior com veganismo - e discutimos o desenvolvimento de seu pensamento. Enquanto ele comia, fui lembrado de um relatório recente que concluiu que quase 60 bilhões de frangos são abatidos por ano no mundo inteiro, o que, nas palavras de Jan Zalasiewicz, significa que suas carcaças foram "fossilizadas em milhares de aterros sanitários e em várias esquinas no mundo todo".
Esse pensamento leva imediatamente a outro: sobre as "superbactérias" que criamos pelo uso generalizado de antibióticos, principalmente na produção pecuária industrial. A partir daí, é um pulo para pensar em outros fenômenos estranhos da nossa nova época, como pedras feitas de plástico e conchas marinhas e as mudanças na rotação da Terra causadas pelo derretimento de lençóis de gelo. A lista desses fatos inquietantes do antropoceno não acaba mais.
É possível, na primeira ou segunda vez que se encontra Morton, que se questione se há uma mistura de seu ar meio hippie, sua emotividade, seu talento intelectual. Mas seus amigos de infância e familiares dizem que o engajamento visceral com a ecologia e sua habilidade acadêmica remontam à infância.
Morton nasceu no noroeste de Londres, em 1968, em um período em que uma crescente conscientização da ameaça ecológica ainda andava de mãos dadas com a sensação de que as pessoas poderiam mudar o mundo para melhor, possivelmente sob a influência do LSD. Depois que seus pais, ambos violinistas de concertos, se divorciaram no final da década de 1970, seu pai partiu em uma embarcação para protestar com o Greenpeace. Sua mãe era uma feminista comprometida que atuava na Campanha do Desarmamento Nuclear.
Desde cedo, Morton destacou-se nos estudos. Ele recebeu a principal bolsa de estudos da escola de elite St Paul's School, em Londres, por cinco anos seguidos e depois foi para Oxford para estudar inglês. Suas notas eram as mais altas da disciplina em toda a universidade em seu primeiro ano e teve excelente desempenho em suas provas. Ir em nos estudos era importante para Morton, mas ele acabou chegando à conclusão de que é "secundário em relação a outra coisa: estar vivo".
Sua vida assumiu traços da forma que seu trabalho adotaria mais tarde. Era mais do que acumular conhecimento; tratava-se também de buscar prazer e intimidade. No segundo ano de graduação, ele e seu colega de quarto, Mark Payne, agora estudioso da Universidade de Chicago, "tiveram experiências com ácido ouvindo Butthole Surfers e conversando sobre Blake".
(Payne diz que eles usavam ácido e falavam sobre Milton.) Ele também se apaixonou pela primeira vez. Na pós-graduação, Morton usava cabelo comprido, jaqueta de camurça e miçangas. Sua tese de doutorado, reconhecida como uma importante contribuição para o Romantismo, mostrou que o vegetarianismo de Percy e Mary Shelley estava intimamente entrelaçado com sua política e sua arte. Paul Hamilton, orientador de grande parte da pós-graduação de Morton, me disse que, em relação aos Shelley, Morton "mudava".
Apesar do sucesso de sua dissertação, foi difícil para Morton conquistar uma posição acadêmica, e ele chegou a pensar em se matar.
No fim, ele conseguiu um emprego na Universidade do Colorado, Boulder, antes de passar para a Universidade da Califórnia, em 2003, em Davis, no nordeste de São Francisco. Estar no norte da Califórnia parecia aguçar seu pensamento e ele passou a se concentrar em questões explicitamente ecológicas, como o que se escreve quando escrevemos sobre a natureza. Em um certo marketing pessoal, ele também passou a se intitular Professor de Literatura e Meio Ambiente.
Durante os anos seguintes, Morton publicou seu livro desafiando a ideia de "natureza", bem como sua continuação, em que questionava o que significa para nós confiar em inúmeros outros seres de forma insondável e complexa. Ele também se juntou a um pequeno e controverso movimento filosófico chamado Ontologia Orientada aos Objetos (OOO), que afirma que todo ser, inclusive humano, só pode compreender o mundo em suas próprias formas limitadas. (Em outras palavras, nunca saberemos o que as moscas sabem, e vice-versa.) Em 2012, Morton mudou-se da Califórnia para atuar na Rice University, uma das universidades mais reconhecidas dos EUA.
Com a segurança da estabilidade e as infusões sucessivas do budismo e do OOO na mente, Morton começou a escrever em um estilo mais divertido e pessoal. Sua conversa sobre ter uma discoteca em sua casa, movida a energia eólica, não é por acaso. "A consciência ecológica inevitavelmente tem esse ar dos anos 70", diz ele. É uma estética que ele abraça, "em toda a sua estranheza". Seu estilo intelectual também é um tanto riponga. Ele pode muito bem ser a única pessoa cujo nome dá o ar da graça em uma lista dos filósofos vivos mais influentes e também nos créditos de um álbum que foi o quarto mais vendido do Reino Unido como compositor (Stacked Up,Senser, de 1994).
Ele seguiu os passos de pensadores como Jacques Derrida e Edward Said por ter participado da prestigiada palestra Wellek Lecture, na Universidade da Califórnia, em Irvine - e também se apresentado em Glastonbury, tocando música para artistas fazendo malabares com fogo e foi consultor na série de Steve Coogan de The Trip to Italy. Embora esteja prestes a publicar um livro tentando unir ecologia sombria e marxismo ("é uma viagem bem intensa e nem todo mundo vai gostar", diz ele), ele também vai lançar um livro pela Pelican books, "Being Ecological", que deve encantar o público em geral. A primeira frase é: "Este livro não contém fatos ecológicos".
Embora vários de seus livros tenham dedicatórias normas (esposo, filhos, irmãos), ele também dedicou um livro ao seu gato, o falecido Allan Whiskersworth. Uma das postagens mais fascinantes do seu blog, que tem atualizações regulares, é a critical inquiry into giant penises(Uma investigação crítica sobre pênis gigantes), com desenhos nos telhados que possam ser vistos pelo Google Earth. Ele está profundamente ligado ao budismo Shambhala e circunvalou o Monte Kailash no Tibete. Há não muito tempo, uma leitura de Tarô o tocou profundamente.
Se as pessoas acharem ridículo isso tudo, melhor ainda. "Eu gosto de pensar em mim mesmo como a coisa mais tosca e pavorosa que se poderia imaginar", contou. Ele superou as armadilhas do sucesso acadêmico e agora que passou as barreiras da sociedade educada, Morton tem um objetivo diferente. "Quero ser bem conhecido e soltar essa coisa anarquista-hippie que eu tenho guardado como se fosse um líquido muito precioso, com todo o cuidado, sem derramar nada, por anos e anos", disse ele. "E agora vou derramá-lo por aí."
Na hora de sua palestra na Serpentine Galleries, Morton apareceu com uma camisa Versace, justa e prateada, do estilo que um vilão do James Bond usaria. Sua palestra foi intitulada "Stuff Can Happen" (As coisas podem acontecer).
"Não é de se acreditar na quantidade de filósofos que têm medo do movimento", começou ele. Ele seguiu discutindo duas vertentes de pensamento no trabalho do filósofo Hegel. Um problema com Hegel, Morton disse, "o problema que eu chamo de macro-Hegel, é que o macro-Hegel faz com que o discreto movimento escada acima seja improvável. E, lá em cima da escada, como o assassino do filme Psicose, está esperando - adivinhe o quê? - isso mesmo, o patriarcado branco ocidental disfarçado de estado prussiano." (Eu não adivinhei, era pra ter adivinhado?) "Então macro-Hegel estraga tudo."
Parecia uma abordagem estranha para uma palestra a um grupo heterogêneo de artistas, ativistas, estudantes e músicos. Mesmo tendo interesse no trabalho de Morton, logo fiquei entediado e distraído. Um homem que estava em pé ao meu lado, um estudioso estadunidense com um senso de humor ácido, revirou os olhos e sussurrou um comentário do tipo "Que porcaria é essa?".
Apesar da popularidade de Morton, esta resposta ao seu trabalho não é rara. Algumas pessoas que discordam de Morton com quem falei acusaram-no de não entender a ciência contemporânea, como a mecânica quântica e a teoria dos conjuntos, e disseram que as distorções serviam como base para suas ideias malucas. Elas compartilharam uma crítica ampla que me lembrou o ditado cético: "Devemos manter a mente aberta, mas não tão aberta a pontodo cérebro cair". A pasta de ideias interessantes no trabalho de Morton não se mantém se for analisada cuidadosamente, afirmam. O filósofo Ray Brassier, que já fez parte da OOO, acusou Morton e os seguidores do seu blogue de gerarem "uma orgia de estupidez on-line".
Outros críticos, especialmente da esquerda, reclamam que a concepção de Morton do Antropoceno passa por cima de questões de raça, classe, gênero e colonialismo, culpando toda a espécie pelo dano infligido por uma minoria privilegiada. O foco no ser humano consagrado no termo Antropoceno é um alvo especial para os críticos. Eles argumentam que ao se referir aos seres humanos como um todo unificado, Morton destrói as diferenças entre o oeste rico e os outros membros da humanidade, muitos dos quais já viviam em um estado de catástrofe ecológica muito antes de a noção de Antropoceno se popularizar nos campi da Europa e da América do Norte.
Outros dizem que a noção de política de Morton é muito vaga ou que a última coisa que precisamos ao enfrentar desafios ecológicos é uma série de reflexões abstratas sobre a natureza dos objetos. Os defensores de Morton, no entanto, veem nele uma espécie de Ralph Waldo Emerson para o Antropoceno: a sua escrita tem valor, mesmo que nem sempre resista à análise filosófica. "Ninguém em um departamento de filosofia vai levar Tim Morton a sério", disse Claire Colebrook, professora de inglês da Pennsylvania State University, que tem um extenso trabalho sobre o Antropoceno. Mas ela ensina o trabalho de Morton na graduação e os alunos adoram. "Por quê? Porque eles são assim: "Cale a boca e me traga ideias!"
Nem tudo o que Morton me disse no decorrer das nossas conversas pareceu filosoficamente ou ecologicamente plausível. ("Você e eu, nossos computadores e aquela pintura atrás de você, e talvez um pombo da rua - vamos nos reunir e fazer um coletivo anarquista, e o foco desse coletivo anarquista será ler, hum, as cartas de Beethoven.") Mas o que atrai muitas pessoas não é a convicção de suas ideias, mas a profusão e a diversão delas. Hans Ulrich Obrist e os artistas Philippe Parreno e Olafur Eliasson usaram a mesma expressão para descrever sua obra: é uma "caixa de ferramentas" de onde podem surgir ideias úteis.
Essa caixa de ferramentas pode ser útil para todos nós também. À medida que o aquecimento global e outras características do Antropoceno se intensificam, nossa experiência dessa nova e séria era será cada vez mais estranha e pesada. Quando isso acontecer, cada vez mais pessoas devem buscar textos - como os de Morton - que ecoam suas experiências de alienação, bem como o desejo de esperança.
Alguns pensadores parecem acreditar que podemos ajeitar o mundo apenas com ideias melhores, mais lógicas e mais rigorosas. Morton diz que podemos organizar nossas ideias como quisermos, mas o mundo continuará sendo um lugar fundamentalmente bagunçado que sempre resistirá à simplificação filosófica. Pelo contrário, o que precisamos é conviver com essa estranheza. Em uma de nossas primeiras conversas, eu disse a Morton que eu gostava do seu trabalho, na medida em que achava que entendia. "Eu acho que também entendo, às vezes", ele respondeu.
Não há nada como a perspectiva de um homem autoritário para fazer intelectuais, hippies e, acima de tudo, intelectuais hippies parecerem irremediavelmente ineficazes. Se compararmos com organizar protestos ou uma doação recorrente para a União Americana pelas Liberdades Civis, falar de tempos profundos ou da eliminação da falsa divisão ontológica entre humanidade e natureza pode parecer bastante tolo.
Em novembro, na semana após a eleição de Donald Trump, Morton foi para Nova York para confabular com a Nasa sobre o conteúdo de um novo Disco de Ouro. Ele ficou arrasado com a vitória de Trump, mas não necessariamente surpreso com a escolha pelo que ele considerou o equivalente político de uma dieta baseada em vicodin e pãezinhos de canela. Em seu quarto de hotel, ele teve um "momento particular de lágrimas" ao ler o romance Fly Away Peter, de David Malouf.
Depois, ele saiu para comer um pouco de sushi - em que o mercúrio das usinas de energia a carvão, metais fundidos e lixo queimado tende a se acumular, às vezes ocasionando mal-estar - e foi arrastado por uma multidão. "Eu estava nesse primeiro protesto, cara", ele me contou. "Eu estava naquele primeiro maldito protesto anti-Trump na Trump Tower". Ele brincou com seus seguidores do Twittere na reunião com a Nasa que queria colocar o presidente eleito na próxima sonda Voyager.
Perguntei a mim mesmo o quão potente a política animista de Morton pareceria sob uma nova distribuição. No dia seguinte à sua palestra na Serpentine Galleries no outono, eu havia almoçado com ele, a artista Kathelin Gray e John Polk Allen, mais conhecido como Johnny Dolphin, o principal responsável por trás do Projeto Biosfera 2, um microcosmo planetário construído dentro de um gigantesco tubo de ensaio no deserto do Arizona. A conversa, que foi desde lugares no mundo com uma energia especial (Himalaias, Canyon Chaco) até o "asilo lunático para pessoas inteligentes" que é Oxford, voltou-se para a solidariedade a outras espécies em um dado momento.
"Sempre chamei as coisas de 'pessoa'", disse Gray. "Meus amigos indígenas americanos ficaram muito contentes".
"Como você pode não chamá-los de pessoas?", perguntou Morton.
Ela contou uma história sobre cobras que havia conhecido. Morton evidentemente se comoveu e colocou a mão no peito. "Você tinha dois amigos chamados de Cobra?", disse ele. "Que maravilha!"
Tudo isso parecia um pouco ridículo, mesmo antes de Trump ter sido eleito. Mas, em algum lugar nessas tentativas adocicadas de expressar afinidade com outras criaturas, havia um desejo genuíno de avançar para a política radicalmente pluralista que Morton defende.
"Não se esconda atrás de uma pedra, pelo amor de Deus", disse Morton em determinada altura. "Saia por aí e tente fazer todo que de afiliação política que puder, com todos os tipos de seres, humanos ou não, para criar um ambiente menos violento e mais justo, para todos, para todo o mundo ecológico." Era difícil argumentar com esses objetivos. Não podemos debater com outras espécies, mas o Antropoceno deixa claro que precisamos incluir seu bem-estar em nossos objetivos.
A própria ênfase política de Morton pareceu ter mudado depois das eleições. As festas movidas a energia eólica e os grupos de leitura com seres de diferentes espécies ficaram de fora. Agora, a questão, segundo ele, era "atrapalhar esses fascistas várias vezes".
Ainda assim, o Antropoceno não está desaparecendo apenas porque um troll corrupto em um terno folgado está sentado na Casa Branca. A acumulação de carbono no ar e nitrogênio no solo; a acidificação dos oceanos e a desertificação de terras que já foram férteis; os isótopos radioativos (de ensaios nucleares) e plástico (das embalagens) que recobrem o globo; a extinção de espécie após espécie - a lista de mudanças dramáticas do planeta não para. A política atual pode ser mais urgente do que nunca, mas a necessidade de uma política para o amanhã não desapareceu.
Poucos dias depois das eleições, Morton recuperou o senso de humor e começou a rir do presidente eleito, "esse homenzinho laranja com uma pilha amarela de Cheetos na cabeça". Sim, Morton passaria os próximos meses, ou o tempo que fosse necessário, lutando contra os fascistas no campus e onde mais ele pudesse ser ouvido, mas também continuava proclamando sua rara visão sobre a ecologia.
"Vamos colocar uma música tecno", disse Morton no final de uma de nossas conversas mais longas. "Mesmo que realmente estejamos ferrados, não vamos passar o resto da vida nesse planeta repetindo para nós mesmos que estamos ferrados".
O que deveríamos fazer então?
"Cumprimentar um ouriço e dançar ".
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