- domingo, 06 agosto 2017 19:13
- Comente
Área
localizada no município de Belmonte (BA). No primeiro plano é visto uma
área recém
cortada de plantação de eucalipto. Ao fundo é possível ver
um remanescente florestal envolto
por pastagem. Foto: José Carlos
Morante-Filho.
O alerta é feito pelo biólogo José Carlos Morante-Filho, pesquisador da Universidade Estadual de Santa Cruz, Bahia. Um estudo liderado por ele demonstrou que o empobrecimento filogenético de aves especialistas florestais pode ser compensado pelo aumento da diversidade filogenética de aves generalistas de habitats. Porém, com a substituição funções ecológicas podem ser perdidas nos remanescentes florestais. A diversidade filogenética indica o parentesco entre espécies de uma localidade.
Durante o estudo, publicado em julho no Journal of Applied Ecology, ele e colegas analisaram a comunidade de aves em fragmentos de floresta em paisagens com diferentes intensidades de desmatamento, que variam de 5% a 90%. Foram usados 40 pontos de amostragem distribuídos nos municípios de Una, Santa Luzia, Mascote e Belmonte – sul da Bahia.
“Uma espécie generalista pode ter funções ecológicas muito parecidas com outra espécie generalista”, explica o biólogo. “Nós estamos perdendo espécies que evoluíram com o ecossistema florestal, então nós estamos perdendo interações ecológicas, e isso não pode ser substituído a curto prazo por uma espécie generalista”, completa.
O pesquisador José Carlos Morante-Filho realizando a amostragem de aves dentro de um remanescente florestal. Foto: Divulgação.
“Quem ocorre no interior da floresta são as aves especialistas. Então se eu perco essas aves, eu diminuo o consumo de frutos e provavelmente eu possa reduzir a dispersão das sementes”, afirma o pesquisador, que cita o exemplo dos tucanos e jacutingas e seus grandes bicos. “Já se sabe que um sabiá não vai conseguir consumir frutos do tamanho que o tucano consegue. Então nós sabemos que, quando tem uma substituição por uma espécie de menor porte, isso pode ter um grave efeito para o funcionamento do ecossistema florestal”.
Os pesquisadores já haviam verificado também que o consumo de folhas por insetos herbívoros é intensificado em paisagens desmatadas. Uma das possíveis razões, segundo Morante-Filho, é que as aves generalistas não executam o mesmo papel de controle de insetos que antes ocorria. Em áreas desmatadas, as folhas são mais consumidas, o que pode acarretar mudanças em toda a estrutura da floresta.
Outra consequência dessa substituição é a chamada homogeneização taxonômica. Como as aves generalistas proliferam em qualquer lugar, a tendência é que os fragmentos florestais fiquem muito parecidos entre eles.
Os resultados são importantes para a discussão sobre planos de conservação. O planejamento é especialmente baseado em números de espécies, segundo o pesquisador. Para ele, é importante compreender como funcionam ecologicamente esses fragmentos e como manter esse funcionamento a longo prazo.
Myiarchus
tyrannulus (Maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado), espécie generalista
de habitat
comumente visualizada em ambientes antropizados. Foto: José
Carlos Morante-Filho.
Drymophila
squamata (pintadinho), espécie especialista florestal que é
negativamente afetado pelo
processo de desmatamento. Foto: José Carlos
Morante-Filho.
Saiba Mais
O artigo: Compensatory dynamics maintain bird phylogenetic diversity in fragmented tropical landscapes.
Leia Também
Nenhum comentário:
Postar um comentário