segunda-feira, 14 de agosto de 2017
Poluentes atmosféricos foram a causa de 31 mortes precoces por dia no Estado em 2015.
Um novo estudo do Instituto Saúde e Sustentabilidade, lançado nesta
segunda-feira (14) Dia Mundial da Poluição, mostra dados alarmantes
sobre os poluentes atmosféricos em São Paulo. Eles foram a causa de 31
mortes precoces por dia no Estado em 2015, ou um total de 11.200 no
período – mais que o dobro das mortes provocadas por acidentes de
trânsito (7867), cinco vezes mais que o câncer de mama (3620) e quase
6,5 vezes mais que a AIDS (2922). Permanecer duas horas no trânsito da
capital equivale a fumar um cigarro.
Este grave problema de saúde pública permanece praticamente ignorado
pela população e pelo poder público porque a Resolução do Conselho
Nacional do Meio Ambiente, CONAMA 03/1990, que estabelece os padrões de
qualidade do ar nacionais em vigor até hoje, foi implementada há 27 anos
e, portanto, não reflete os novos conhecimentos científicos sobre o
tema. Apesar de terem dado início a um processo progressivo para que se
atinjam os padrões recomendados pela OMS, os estados de São Paulo e
Espírito Santo não estabeleceram prazos para o cumprimento das etapas e
continuam empregando parâmetros defasados.
“É inaceitável que um problema de saúde pública desta dimensão continue
invisível”, adverte o Dr. Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Ensinos
Avançados da USP, e um dos autores do estudo. “O Instituto Saúde e
Sustentabilidade propõe a atualização dos padrões de qualidade do ar
preconizados pela OMS dentro do menor prazo possível. Embora não altere a
situação do ar, mudar o padrão permitirá entender a real situação para
que possamos agir para sanar o problema – como agora, por exemplo, com a
revisão dos padrões de qualidade do ar que acontece no CONAMA e com o
edital do transporte público e projetos sobre combustíveis limpos para o
transporte público de São Paulo, por exemplo. Nessas horas, dados
corretos podem fazer a diferença em prol de projetos de lei e políticas
públicas eficientes”, completa.
O estudo, que é uma releitura do Relatório de Qualidade do Ar 2015 da
CETESB,”Qualidade do Ar no Estado de São Paulo Sob a Visão da Saúde”
promove pela primeira vez a análise dos dados da CETESB segundo os
padrões de qualidade de ar recomendados pelo Air Quality Guidelines, an
Update da Organização Mundial da Saúde. A precisão dos dados é
assegurada pelo fato de que O Estado de São Paulo possui a melhor e mais
precisa rede de monitoramento ambiental de poluição do ar da América
Latina. Os coeficientes adotados pela Organização Mundial da Saúde, por
sua vez, resultam da análise de centenas de estudos realizados por
grupos de pesquisa de várias partes do mundo (incluindo o Brasil) que
trouxeram evidências conclusivas relacionando poluição do ar e morbidade
e mortalidade prematura.
Doenças cardio e cerebrovasculares, tais como arritmia, infarto do
coração e derrame cerebral, representam 80% dos efeitos da poluição do
ar. Ela é causa comprovada dos cânceres de pulmão (o mais letal dos
tumores) e de bexiga. O ar poluído está também relacionado a metade dos
casos de pneumonia em crianças. Segundo a Organização Mundial de Saúde,
a poluição do ar causou 8 milhões de mortes precoces no mundo em 2015 e
é atualmente a principal causa de morte por complicações
cardiorrespiratórias relacionadas ao meio ambiente.
Os níveis dos padrões de qualidade do ar paulistas e nacionais são
superiores aos níveis críticos de atenção e emergência determinados por
outros países. O padrão anual de qualidade do ar paulista foi
ultrapassado por medidas de 5 estações automáticas (9,6%) pela régua da
CETESB. Mas empregando-se os parâmetros da OMS, o limite aceitável foi
ultrapassado em 48 estações automáticas (92%). Já o monitoramento da
concentração das médias diárias do particulado inalável MP10 exemplo em
todas as estações automáticas do estado de São Paulo ao longo de 365
dias mostra que ele ultrapassou os padrões da OMS 2214 vezes, mas apenas
128 vezes os padrões usados pela CETESB. Mantendo-se os níveis de
poluição do ar no estado como hoje, até 2030 teremos 250 mil mortes
precoce e 1 milhão de internações hospitalares com dispêndio público de
mais de R$ 1,5 bilhão, em valores de 2011.
“Com este estudo, o Instituto Saúde e Sustentabilidade visa alertar
sobre os riscos da nossa legislação ambiental de aceitar como seguras
concentrações de poluição do ar reconhecidamente lesivas à saúde da
população”, alerta a Dra. Evangelina Vormittag, autora do relatório.
“Não é por falta de uma qualificada pesquisa científica e informação que
isso ocorre em nosso país – o Brasil é um dos países que mais publica
sobre o tema no mundo, entre os seis primeiros, entretanto, não
conseguiu estabelecer políticas públicas suficientes, que venham
controlar os malefícios ambientais para a saúde humana e a diminuição
dos gastos públicos em saúde decorrentes”, acrescenta.
Fonte: Ciclo Vivo
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