Há 37 anos estudando a
Amazônia, mudanças climáticas e povos indígenas, o antropólogo americano
Steve Schwartzman teve o seu primeiro contato com o Brasil nos anos 80,
quando iniciou uma pesquisa de campo com os índios da tribo Panará no
Parque Indígena do Xingu, onde viveu por dois anos e aprendeu a língua
da tribo.
Essa experiência forma uma trajetória
que o coloca como um dos grandes especialistas em povos indígenas,
florestas tropicais, desmatamento e redução de emissões de carbono.
Para Schwartzman, que é conselheiro do IPAM desde 2005 e também diretor sênior do Environmental Defense Fund,
o presidente Temer “joga um jogo muito perigoso” ao atender a bancada
ruralista, freando as demarcações de terras indígenas. De acordo com o
pesquisador, são atitudes como essa que colocam em xeque a credibilidade
do Brasil no mundo.
Na contramão de garantir a
floresta em pé, o presidente Temer assinou ontem (19) um parecer que
pode parar a demarcação de terras indígenas. Qual o risco dessa ação?
Steve: Essa é uma profunda e grave
questão. Quem se diz representante dos produtores rurais no congresso
tinha de ter consciência que eles dependem da chuva para produzir e já é
comprovado que a floresta em pé é uma garantia. A demarcação de terras,
além de assegurar um direito dos indígenas, é uma forma de controlar o
desmatamento e permitir a produtividade agrícola. Esse parecer é não só
uma injustiça como um contrassenso enorme. Esse é um jogo muito perigoso
do presidente com a bancada ruralista. São ganhos fictícios que vão
manchar seriamente a imagem do Brasil internacionalmente.
Qual a importância de territórios indígenas para o clima mundial?
Steve: Os territórios indígenas têm um
peso decisivo na conservação do meio ambiente, protegendo 30% do carbono
na Amazônia. Porém, grande parte dessas florestas está sob pressão. Se
perdermos esse estoque de carbono, ficará mais difícil atingir a meta de
conter o aquecimento em 2ºC. Mas se conseguirmos defender essas terras e
viabilizar a economia sustentável, isso significará um grande passo
para conter a fronteira agrícola e o desmatamento.
O governo brasileiro tem
colocado em prática medidas que vão na contramão do discurso, como a
redução da Floresta Nacional do Jamanxim, na Amazônia. Falta
credibilidade e sobram incentivos a favor do desmatamento?
Steve: Propor a redução de Jamanxim por
meio de medida provisória, vetar e transformar em projeto de lei, além
da MP de grilagem, tudo isso é um sinal preocupante. É um cálculo de
curto prazo muito prejudicial que irá impactar o Brasil a longo prazo.
Ampliando para o cenário
internacional, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anulou os
compromissos assumidos pelos EUA na COP 21. Como isso impacta
diretamente nas metas mundiais e como os estados americanos estão
respondendo a isso?
Steve: É um sinal péssimo, porém
precisamos levar em consideração algumas questões. As emissões de gases
de efeito estufa dos EUA estão caindo, o que está relacionado com a
transformação do mercado de energia. A Califórnia e outros estados
mantêm as políticas firmadas, inclusive organizando alianças que
envolvem centenas de municípios para participar da Conferência do Clima
esse ano.
Apesar dessas iniciativas, a postura de
Trump é um prejuízo muito grande para os EUA, afinal China e Europa
continuam investindo em um desenvolvimento sustentável. Mesmo
economicamente não é interessante apostar em um modelo energético
ultrapassado.
Como você se sente dentro do conselho de uma instituição como o IPAM?
Steve: É uma honra e um prestígio compor
o corpo de conselheiros do IPAM, uma instituição que contribui
efetivamente em defesa do meio ambiente. O Brasil e o mundo precisam de
um IPAM cinco vezes maior.
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