quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Incêndio criminoso em Veadeiros já atingiu mais de 62 mil hectares

Incêndio criminoso em Veadeiros já atingiu mais de 62 mil hectares

Por Duda Menegassi
Brigadistas combatem o fogo. Foto: ASCOM ICMBio.
Brigadistas combatem o fogo. Foto: ASCOM ICMBio.


O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO) está em chamas e o fogo não dá sinais de arrefecimento. Com um rastro de mais de 62 mil hectares do parque queimados, o equivalente a cerca de 26% do total da unidade, o incêndio que começou no dia 17 de outubro já é o maior desde a ampliação da unidade, realizada em junho deste ano, e o pior desde 2010.


A operação já mobiliza mais de 200 profissionais, entre brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), além de bombeiros e voluntários. Hoje, a ação ganhou o apoio da aeronave militar Hércules, da Força Aérea Brasileira, que irá apoiar no lançamento de água em áreas prioritárias. Outros três helicópteros e cinco aviões-tanque já estão em uso no combate às chamas.



De acordo com o Coordenador Nacional de Prevenção e Combate à Incêndios do ICMBio, Christian Berlinck, que está à frente do combate ao incêndio em Veadeiros, o maior problema está no comportamento extremo que o fogo está tendo devido às condições climáticas favoráveis. “Estamos com ventos acima de 40 km/h, umidade do ar abaixo de 15% e temperaturas de 38 °C até domingo, isso favorece o deslocamento rápido do fogo e que ele ganhe grandes proporções. E para piorar, estamos em um momento de déficit hídrico, tem chovido menos na Chapada dos Veadeiros nos últimos três anos, então a vegetação está muito seca e propensa a queimar”, explica.


Apesar de causas naturais facilitarem o alastramento do fogo, sua origem não teve nada de natural. “Certamente os focos do incêndio são de origem criminosa”, sentencia o gestor do parque, Fernando Tatagiba. “Nós estamos encarando, desde o dia 10, uma sequência de incêndios dentro do parque e no entorno. O primeiro deles atingiu o Mirante da Janela, a Cachoeira do Abismo e o Mirante dos Saltos do Rio Preto e as trilhas, o que nos obrigou a suspender a visitação às vésperas do feriadão. Apesar de ter sido de menor extensão, ele atingiu uma área importantíssima para gestão do parque, que é a que recebe os visitantes. Outros focos surgiram depois, conseguimos controlar, até que, no dia 17, teve início esse incêndio, nas duas margens da rodovia GO-118, sendo que no lado oeste da estrada ele começou depois do aceiro, o que demonstra a má-fé da pessoa que iniciou esse fogo”, conta o gestor.

Incêndio em Veadeiros visto de cima. Foto Fernando Tatagiba.
Incêndio em Veadeiros visto de cima. Foto Fernando Tatagiba.


Aceiros são uma das estratégias utilizadas pela equipe do parque nacional para impedir que o fogo avance em direção à unidade, assim como o Manejo Integrado e Adaptativo do Fogo. As técnicas consistem em criar barreiras através da queima prescrita, feita com controle e durante a época de chuvas, para que durante a seca não haja combustível suficiente para o fogo se alastrar.
“A cada ano, é feita uma análise espacial do acúmulo de combustível na unidade e das áreas de cicatrizes, que foram queimadas no ano anterior e onde o risco de incêndio é menor, e com o cruzamento dessas áreas, nós conseguimos planejar um controle do combustível acumulado. Com isso reduzimos o risco de incêndios grandes e aumentamos a proteção de ecossistemas sensíveis e áreas-chave para espécies ameaçadas, e o patrimônio da unidade como um todo”, explica Tatagiba. Este, entretanto, foi o primeiro ano da técnica na Chapada dos Veadeiros e as áreas selecionadas para queima prescritas foram reduzidas para poder acompanhar o comportamento efeito do fogo nessas zonas.

Ecossistemas prioritários para a conservação
No caminho das chamas no parque nacional estão ecossistemas do Cerrado com menor resistência ao fogo, tais quais veredas e ambientes florestais, onde vivem animais ameaçados de extinção como o cachorro-vinagre (Speothos venaticus). O incêndio atingiu também as margens do rio Preto, um risco para uma das espécies de ave mais ameaçadas do planeta, o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus). Para piorar, é exatamente entre setembro e outubro que a espécie nidifica, deixando seus ovos em cavidades de árvores ou rochas na beira do rio.

Entre outros locais atingidos estão o Jardim de Maytreia, importante ponto turístico da região, o Morro da Baleia, o camping da Travessia das Sete Quedas, as Serras do Santana e do Ministro e o nordeste da área de ampliação do parque. As proximidades do Córregos dos Ingleses, onde estão localizadas as estruturas administrativas da unidade de conservação ficaram sob risco, mas o fogo na região já foi controlado. Moradias no entorno também chegaram a ser ameaçadas.


O rastro de destruição deixado pelo fogo na vegetação. Foto: ASCOM ICMBio.
O rastro de destruição deixado pelo fogo na vegetação. Foto: ASCOM ICMBio.

Há inúmeras frentes de fogo, o que dificulta o combate, que está sendo priorizado para proteção de alvos específicos e mais sensíveis. Apesar das condições adversas, o coordenador do combate conta que o planejamento é acabar com o fogo até sexta-feira (27/10). “Mas óbvio que depende do clima, porque se a temperatura continuar a subir e os ventos continuarem fortes, vai dificultar nosso combate”, pondera Christian. A boa notícia é que as temperaturas começaram a baixar nesta segunda-feira e há previsão de chuva para a noite de sexta.

Rede de voluntários no apoio ao combate
A luta contra as chamas em Veadeiros uniu órgãos das esferas federal, estadual e municipal. Na linha de frente, o ICMBio, órgão gestor do parque, comanda a ação junto com o IBAMA e o Corpo de Bombeiros Militar de Goiás. A operação conta ainda com o apoio da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Militar do Distrito Federal.

Porém as equipes receberam um outro reforço importante no combate ao fogo no parque nacional: a solidariedade. Desde o início do incêndio, eles têm recebido doações de alimentos, combustível, equipamentos de proteção individual e equipamentos de combate. Além da disponibilização do tempo de voluntários para apoiar nas ações do comando e nas ações de campo, muitas vezes ex-brigadistas, capacitados, que se voluntariam para ajudar. “São cerca de 30 brigadistas voluntários, todos treinados, com curso de brigadista, e que têm atuado no campo junto com as nossas equipes”, acrescenta Christian. Alguns hotéis também têm oferecido hospedagem gratuita aos brigadistas que estão vindo de fora para apoiar no combate.

Desde o dia 11 de outubro, o parque permanece com a visitação suspensa por motivos de segurança. Um impacto direto ao principal motor de geração de renda dos municípios do entorno, o turismo.

Mapa com a área atingida por fogo no PNCV. Imagem: ICMBio.
Todos os focos de incêndios no parque nacional ao longo do ano, até a data do dia 22/10/17. 
Divulgação: ICMBio.

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