Correio Braziliense – Projeto preserva a biodiversidade
Marlene Gomes
Alto do Rio Pardo, no norte de Minas Gerais, é uma região de grande biodiversidade. Com uma área de 16,5 mil quilômetros quadrados, o local abriga 15 municípios e uma população de 192 mil habitantes, dos quais 86 mil moram na zona rural. A população tradicional que habita o local há centenas de anos — os geraizeiros — sofre por causa do uso inadequado do solo, com a monocultura de eucalipto, praticada nas grandes fazendas, e pela mineração.
A restauração do cerrado e a recuperação das nascentes são prioridades dessa comunidade. Para isso, ela se esforça para compartilhar conhecimentos de técnicas tradicionais com os pesquisadores.
A localidade é um dos territórios mapeados pelo Projeto Bem Diverso, uma parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O projeto foi criado em março de 2016, com o objetivo de contribuir para a conservação da biodiversidade brasileira por meio do manejo sustentável de sistemas agroflorestais, a fim de assegurar os modos de vida das comunidades tradicionais e dos agricultores familiares. “Trata-se da primeira iniciativa com recursos do Fundo para o Meio Ambiente Global (GEF) que apoia atividades de campo e pesquisas da Embrapa na área de conservação, manejo e uso sustentável da biodiversidade”, diz Rose Diegues, oficial de Programas do Pnud.
Ameaças
Alinhado aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas (ONU), o Bem Diverso trabalha com seis regiões, denominadas Territórios de Cidadania (TC): Alto Acre e Capixaba (AC), Alto Rio Pardo (MG), Médio Mearim (MA), Sertão de São Francisco (BA) e Sobral (CE). São áreas dos biomas Amazônia, Cerrado e Caatinga reconhecidos pela importância socioambiental, mas ameaçados pelo aumento de práticas agrícolas pouco sustentáveis.
Líder comunitário do Território da Cidadania Alto Rio Pardo de Minas, Moisés Dias de Oliveira vê o projeto com esperança. “Queremos levar o nosso saber tradicional para os estudiosos. A troca de conhecimento com esse corpo técnico pode trazer mais desenvolvimento para a região”, resume.
O projeto selecionou 12 espécies de plantas nativas para o desenvolvimento de boas práticas de extrativismo sustentável: andiroba, araticum, açaí, babaçu, castanha-do-pará, coquinho azedo, licuri, maracujá, pequi, umbu e veludo. Esses alimentos são considerados fundamentais na dieta das comunidades e no complemento da renda das famílias por meio da comercialização. Além disso, as comunidades usam essas espécies na construção de casas, currais e cercas, ou como lenha.
“No Alto do Rio Pardo, estamos trabalhando com araticum, maracujá do mato, pequi, veludo e coquinho azedo, que são frutos típicos da região”, explica Moisés de Oliveira. As espécies foram escolhidas pela importância que têm para a comunidade. Por meio do projeto, cerca de 1.400 técnicos e agroextrativistas já participaram de atividades técnicas e capacitações em manejo sustentável.
“É possível conservar a biodiversidade e os serviços ambientais, como, por exemplo, o provisionamento de água e a regulação climática, por meio do uso sustentável, respeitando os meios de vida das comunidades locais”, enfatiza Aldicir Scariot, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, coordenador do projeto.
Encontro
Brasília vai sediar, de amanhã até quinta-feira, o encontro anual do Projeto Bem Diverso, evento que vai debater a conservação ambiental, boas práticas de extrativismo e a influência da biodiversidade na gastronomia. O encontro reunirá populações tradicionais e especialistas para troca de conhecimentos, experiências e informações.
Amanhã, primeiro dia do encontro, será debatido o que a gastronomia pode fazer para a biodiversidade. Será apresentada a proposta “Fruto — As Possibilidades de Alimentar o Mundo”, do Centro Global de Gastronomia e Biodiversidade, do Instituto ATÁ, do chef Alex Atala. Haverá também debates sobre comercialização dos produtos da biodiversidade, com destaque para a Central do Cerrado e a Central da Caatinga. Nos dois dias seguintes, estão programadas discussões sobre a experiência das mulheres na luta pela autonomia no campo, políticas públicas, planejamento da paisagem e agregação de valor aos produtos da biodiversidade.
Prêmio
O Correio Braziliense é um dos veículos vencedores do 1º Prêmio Café Brasil de Jornalismo. A matéria da jornalista Marlene Gomes, intitulada “A força que vem das cooperativas”, é uma das três vencedoras na categoria Impresso. O conteúdo destaca o vigor das cooperativas brasileiras, responsáveis por 48% da produção de café do país.
O concurso nacional teve o tema “A importância das cooperativas na sustentabilidade da cafeicultura brasileira”. As matérias foram inseridas em quatro categorias — TV, impresso, internet e rádio.
A premiação será feita amanhã na Casa do Cooperativismo, sede da OCB, em Brasília. O Prêmio foi instituído pelo Conselho Nacional do Café (CNC), em parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Varginha (Minasul).
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