O
Japão considera, nesta sexta-feira, se retirar da Comissão
Internacional da Baleia (CIB), depois de que a organização rejeitou sua
proposta de autorizar a caça comercial de cetáceos, mantendo assim a
moratória vigente, no último dia da reunião em Florianópolis.
O
vice-ministro japonês da Pesca, Masaaki Taniai, disse que lamentava o
fracasso da proposta e ameaçou abandonar a CIB se não houver progressos
no retorno à caça comercial de baleias.
"Se
as evidências científicas e a diversidade não forem respeitadas, se a
caça comercial for totalmente negada... o Japão terá que reavaliar sua
posição como membro da CIB", declarou.
O
comissário japonês na CIB, Joji Morishita, se negou a fazer comentários
quando foi consultado sobre se esta poderia ser a última participação
do país na comissão, organização que presidiu nos dois últimos anos, até
esta sexta-feita.
Mas
minutos após o fim da reunião, Morishita afirmou à AFP que as
diferenças com os países que se opõem à caça de cetáceos estavam "muito
claras", e que o Japão definiria agora seu "seguinte passo".
O
comissário questionou se, no futuro, "uma organização diferente ou uma
combinação de diferentes organizações" poderiam tomar esta decisão.
Os
países defensores dos cetáceos, liderados por Austrália, União Europeia
e Estados Unidos, derrubaram a proposta japonesa intitulada "O caminho a
seguir" por 41 votos a 27.
Seis
dos 89 países membros não enviaram uma delegação e sete outras nações, a
maioria africanas, que não pagaram suas contribuições, não votaram.
O
Japão havia buscado o consenso, mas finalmente decidiu submeter sua
proposta à votação "para mostrar as ressoantes vozes de apoio" a um
retorno à caça sustentável de baleias com fins lucrativos.
Os
países insulares do Pacífico e do Caribe, assim como Nicarágua e vários
países africanos, incluindo Marrocos, Quênia e Tanzânia, votaram do
lado do Japão, assim como as nações asiáticas Laos e Camboja. A Coreia
se absteve.
A
CIB foi criada em 1946 para conservar e gestionar a população mundial
de cetáceos e baleias. Em 1986 introduziu uma moratória sobre a caça
comercial de baleias, depois de que sua exploração levou algumas
espécies a estarem em risco de extinção.
Mas o Japão insiste em que as populações de baleias se recuperaram o suficiente para que a caça comercial seja retomada.
Atualmente,
Tóquio respeita a moratória, mas explora uma brecha legal para matar
centenas de baleias por ano com "fins científicos", assim como para
vender a carne. A Noruega e a Islândia ignoram a moratória e são
partidárias da aposta do Japão de retomar a caça comercial.
Uma
retirada do Japão teria consequências de grande alcance para a
organização, dado o apoio que tem de um número crescente de países em
desenvolvimento na CIB.
O
vice-ministro Taniai disse que o resultado da votação "pode
%u200B%u200Bser visto como uma negação, por governos com diferentes
pontos de vista, da possibilidade de coexistir em respeito mútuo e
compreensão dentro da CIB".
Em
resposta, o representante australiano Nick Gales rejeitou o "discurso
do Japão que ressalta a intolerância e disfunção" da CIB.
Ele
pediu que Tóquio permanecesse na CIB "para continuar lutando para
defender seu ponto de vista e trabalhar construtivamente com outros
membros".
Em
comunicado à imprensa, o governo brasileiro indicou que "reafirma a
importância da manutenção da moratória à caça comercial de baleias, em
vigor desde 1986, e reconhece o papel da CIB na recuperação das
populações dos grandes cetáceos (mamíferos marinhos)".
"A
aprovação é a reafirmação da posição de todos os países que, como o
Brasil, defendem uma posição conservacionista da CIB, e não a liberação
da caça", destacou o ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, citado no
comunicado.
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